Petro Simonenko, primeiro secretário do Partido Comunista da Ucrânia

«Estou certo de que juntos venceremos!»

Em que ponto se encontra o processo judicial que visa a ilegalização do vosso partido?

A campanha instigada por altas figuras do Estado visando a proibição do PCU, infundadamente acusado de violação da Constituição, prossegue há três anos. O niilismo jurídico dos que deviam garantir a ordem jurídica criou as condições para a acção impune dos bandos armados, que a coberto de palavras de ordem nacionalistas e nazis agridem membros e simpatizantes do PCU, incendeiam sedes e apropriam-se dos bens partidários, ameaçam juízes e interrompem audiências dos tribunais.

Permanecem, portanto, na legalidade...

O Partido recorreu da decisão judicial e quase dois anos depois a sentença ainda não entrou em vigor. De jure, o PCU funciona legalmente, mas de facto, em virtude das chamadas leis da descomunização, dos desmandos dos bandos fascizantes e também do impedimento, sem fundamento, da participação nas eleições, o nosso trabalho e a luta pelos direitos e interesses do povo são extremamente difíceis. Aproveito para agradecer aos comunistas portugueses por todo o apoio aos comunistas ucranianos na sua luta contra o regime dos oligarcas e nazis dominante no país. Estou certo de que juntos venceremos.

Que apreciação fazem do Acordo de Associação com a UE, em vigor desde dia 1?

Ao brincar à integração europeia, o regime nazi-oligarca esconde a sua falta de vontade e incapacidade de realizar uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo, com base no interesse público. A orientação da política externa com vista à integração europeia transformou-se num mito social, na nova utopia ucraniana. No acordo a UE não garante nada à Ucrânia, ao mesmo tempo que Kiev é obrigado a cumprir rigorosamente a vontade dos patrões ocidentais. Com o nazismo e a russofobia florescentes elevados a ideologia do Estado e o quase rompimento das relações com o principal parceiro industrial e científico – a Rússia – a economia encontra-se numa situação de colapso.

Como se expressa esse colapso?

A quebra económica ultrapassou os 20 por cento em pouco mais de três anos, a moeda depreciou-se mais de três vezes, o salário médio baixou de 500 para 250 dólares, enquanto os pagamentos comunais [electricidade, água, gás e aquecimento] aumentaram seis vezes. Os trabalhadores perderam praticamente todos os direitos herdados do socialismo e o plano que supostamente deveria tirar o país da crise pretende transformá-lo num apêndice agrário-militar da Europa e num «porta-aviões inafundável» nas fronteiras da Rússia.

Para além da tensão com a Rússia há a guerra no Donbass...

A guerra civil no Donbass não é um regional, mas parte integrante da crise imperialista global, constituindo uma ameaça directa de uma terceira guerra mundial. Para o PCU, é necessário excluir a retórica militar, aceitar que não existe uma solução militar e regularizar as relações com a Rússia. Na actual situação, a única opção aceitável para a Ucrânia é o estatuto de neutralidade e não alinhamento, com sólidas garantias de segurança. Mas a principal condição para uma solução pacífica é o afastamento do poder do regime nazi-oligarca.




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