«Promover a mais ampla unidade por uma paz justa»
Depois do acordo de paz na Colômbia, quais são os grandes desafios que identifica o Partido Comunista Colombiano?
A guerrilha já não existe enquanto tal, é agora um partido político. O acordo está no papel, falta agora implementá-lo, levá-lo à prática.
O governo e a direita colombiana tentam mudar os termos do acordo. Como? Quando chega o momento de aprovar as leis que traduzem parcelas do acordo, que as materializam e executam, procuram renegociar os seus termos com o objectivo de fazer recuar os avanços democráticos nele inscritos.
A direita colombiana resiste à mudança, sobretudo a uma reforma política efectiva, ampla, democrática. Resiste também à consolidação de um novo cenário no que toca à posse e uso da terra. Pretendem, no fundo, manter os velhos privilégios do regime até agora em vigor.
A grande batalha que temos pela frente, portanto, prende-se com a concretização do acordo de paz. Sabemos que vai ser uma luta muito dura e não menos prolongada, envolvendo o Partido Comunista, o novo partido político em que se transformaram as Forças Armadas revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) e os movimentos sociais com intervenção em vários domínios.
E que papel pretende desempenhar neste novo contexto político e social o Partido Comunista da Colômbia?
O nosso papel, nesta etapa, conforme foi definido pelo congresso do PC Colombiano que recentemente realizámos, é promover a mais ampla unidade possível em torno de uma paz justa e duradoura. É essa a nossa prioridade: unir e dar expressão de rua, de massas às reivindicações e objectivos comuns concretos.
Os comunistas têm de ser os potenciadores, os pólos agregadores da unidade poruqe consideramos que esta é fundamental para que a paz acordada não signifique somente o silenciamento das armas, mas o início da democratização do país e das necessárias transformações económico-sociais que o povo reclama.
De que forma o processo de pacificação da Colômbia ajuda as forças progressistas e revolucionárias latino-americanas?
O acordo de paz na Colômbia representa a derrota da política de ingerência e guerra do imperialismo norte-americano. Queremos trabalhar para que este caminho não signifique apenas a derrota da estratégia belicista dos EUA, mas, igualmente, um impulso democrático e um alento para todos os povos do subcontinente que afirmam o direito a escolher livremente o seu destino, sem pressões externas e sem ter em conta outros interesses que não os seus e os da respectiva pátria.
Apesar do calar das armas, na Colômbia a repressão continua a fazer parte do dia-a-dia...
As coisas não mudam da noite para o dia. A oligarquia, o latifúndio e os seus mercenários mantêm muitas das suas práticas e estratégia. Não têm, porém, a mesma margem de manobra para actuar e justificar ou legitimar a sua acção. As armas calaram-se, mas o conflito não acabou.
Depois da assinatura do acordo de paz, da entrega das armas por parte da guerrilha, e, agora, da transformação desta em partido político, a população vê mais nitidamente que a pacificação do país é possível e concreta. A maioria recusa regressar a um passado de violência e crimes, o que retira espaço aos sectores mais reaccionários da direita.