Carolus Wimmer, Secretário para as Relações Internacionais do Partido Comunista da Venezuela

«A actual etapa é a luta pela libertação nacional»

Como analisa o PCV a situação que se vive na Venezuela?

Para o PCV, a actual etapa é a da luta pela libertação nacional. Reconhecemos os grandes avanços sociais e políticos alcançados nos últimos 19 anos, sobretudo impulsionados pelo Comandante Chávez, mas discordamos que se esteja a construir o socialismo. Um dos nossos lemas é «defender o conquistado», mas entendemos que o processo deve criar as condições para avançar para outra etapa, o socialismo. A questão da vanguarda é essencial, daí termos criado a Frente Popular Anti-imperialista e Antifascista.

Quem a integra?

Integram-na o PCV e a maioria dos partidos do Bloco Bolivariano, sem o PSUV. Incluímos neste processo os sectores anti-imperialistas e agora também antifascistas, pois a aparição de organizações paramilitares fascistas e partidos políticos fascistas é um fenómeno novo na Venezuela. Na constituição desta frente, a união cívico-militar assume um papel importante. Vários milhões de pessoas – operários, trabalhadores – defendem este processo, assim como um amplo sector das forças armadas. O imperialismo tenta dividi-lo e não conseguiu. É um fenómeno especial na Venezuela.

Essa frente tem uma expressão eleitoral?

Tem uma expressão táctica, eleitoral, e estratégica, de luta por transformações profundas. Vivemos uma luta eleitoral contínua, na qual o PCV participa como uma forma de acumulação de forças para a luta revolucionária. No caso da Assembleia Nacional Constituinte, eleita a 30 de Julho, o Partido está activo dentro e fora dela, defendendo as suas propostas. Há dias, promovemos uma grande marcha de organizações sindicais classistas até à ANC para entregar formalmente as exigências do sector. Vamos fazer o mesmo com as mulheres, a juventude, os camponeses... É preciso superar a grande debilidade que existe no processo político venezuelano, que é o baixo nível de organização da classe operária...

A que se deve essa fragilidade?

Nos anos 80 e 90, quando se instalou o sistema neoliberal na Venezuela, o movimento sindical e estudantil foram duramente golpeados, através da corrupção dos dirigentes e da repressão dos protestos. Por isso, quando Chávez começou o movimento estavam ausentes a classe operária e o movimento estudantil organizados... O PCV está muito empenhado na construção e reforço destes movimentos, pois não se pode falar em socialismo sem a classe operária e a sua organização.

Que levas da Festa do Avante!?

Regressamos fortalecidos da Festa do Avante! para transmitirmos esta experiência revolucionária e incorporá-la nas nossas lutas na Venezuela. Agradecemos a solidariedade do povo português, do PCP e da Festa do Avante! ao processo político venezuelano. Precisamos dela! Estejam certos de que a luta continua, quaisquer que sejam as dificuldades. Sem ilusões pequeno-burguesas, mas com a convicção revolucionária de que o socialismo é a única forma de superar a injustiça e as chagas sociais do capitalismo, certos de que não há modelo de socialismo. Temos que aprender com as experiências dos outros.

 



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