Intervir com determinação e confiança

Manuel Rodrigues (Membro da Comissão Política)

Na ac­tual si­tu­ação po­lí­tica de­cor­rente das elei­ções le­gis­la­tivas de Ou­tubro de 2015, Por­tugal passou a viver uma si­tu­ação que tem re­pre­sen­tado avanços, em­bora li­mi­tados, no plano da de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos.

Sem a acção cons­ci­ente das massas ne­nhuma trans­for­mação é pos­sível

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Trata-se de uma al­te­ração só pos­sível pela in­ter­venção e re­forço do PCP, mas que está igual­mente li­gada à in­tensa e con­ti­nuada luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções. Trata-se de um quadro que, em­bora con­di­ci­o­nado pelos cons­tran­gi­mentos ex­ternos e do­mínio do grande ca­pital de que o Go­verno do PS in­siste em não se li­bertar, obrigou ao au­mento do sa­lário mí­nimo, à re­po­sição das 35 horas de tra­balho na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, à re­cu­pe­ração de quatro fe­ri­ados na­ci­o­nais, à di­mi­nuição das taxas mo­de­ra­doras, a re­versão de pro­cessos de pri­va­ti­zação de trans­portes, para re­ferir apenas al­guns exem­plos, a que se vi­eram juntar nos úl­timos tempos o au­mento ex­tra­or­di­nário das pen­sões (a partir deste mês de Agosto), o acesso livre a mu­seus e mo­nu­mentos na­ci­o­nais aos do­mingos e fe­ri­ados, du­rante a manhã (a partir de Julho), a ex­tensão da gra­tui­ti­dade dos ma­nuais es­co­lares a todo o 1.º ciclo (já no pró­ximo ano lec­tivo), a apro­vação de di­versas pro­postas apre­sen­tadas pelo PCP na As­sem­bleia da Re­pú­blica sobre a flo­resta.

Trata-se de um quadro que, no ime­diato, po­derá e de­verá ir mais longe, assim o Go­verno se dis­ponha a con­cre­tizar me­didas como a re­forma para os tra­ba­lha­dores com longas car­reiras con­tri­bu­tivas, me­didas que im­peçam a ad­mi­nis­tração da CGD de co­brar taxas e co­mis­sões com os cri­té­rios da banca pri­vada, me­didas de apoio às ví­timas dos in­cên­dios e muitas ou­tras que res­pondam a pro­blemas ur­gentes dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

Mas como a vida vem mos­trando, a opção do Go­verno do PS de não romper com os cons­tran­gi­mentos ex­ternos e o do­mínio do grande ca­pital tem de­ter­mi­nado pos­turas e po­si­ções con­tra­di­tó­rias com os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e falta de so­lu­ções es­tru­tu­rais para o de­sen­vol­vi­mento so­be­rano do País. Isso ficou vi­sível, entre muitos ou­tros casos, no ali­nha­mento do PS com o PSD e CDS para re­jeitar as pro­postas do PCP para eli­minar as al­te­ra­ções gra­vosas à le­gis­lação la­boral e para as­se­gurar o con­trolo pú­blico sobre o Novo Banco.

E a questão que se co­loca é: então, como sair deste im­passe?

 Tác­tica e es­tra­tégia

O re­forço do PCP, a in­ten­si­fi­cação da luta de massas, a cons­trução das ne­ces­sá­rias ali­anças so­ciais, o apro­fun­da­mento da po­lí­tica de de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos são con­di­ções fun­da­men­tais para abrir ca­minho à con­cre­ti­zação da al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda de que o País pre­cisa. Tal como o foram para che­garmos a esta fase da vida po­lí­tica.

No con­junto destas con­di­ções, é de grande im­por­tância o tra­balho de re­forço do Par­tido, acção que não é dis­so­ciável das ba­ta­lhas pri­o­ri­tá­rias que temos pela frente: as elei­ções au­tár­quicas e a Festa do Avante!. Mas que exige igual atenção ao re­cru­ta­mento, res­pon­sa­bi­li­zação de qua­dros, di­vul­gação do Avante!, to­mada de me­didas que ga­rantam a in­de­pen­dência fi­nan­ceira do Par­tido, a sua acção e or­ga­ni­zação pri­o­ri­tária nas em­presas e lo­cais de tra­balho e a sua es­tru­tu­ração em frentes e sec­tores so­ciais es­pe­cí­ficos (junto da ju­ven­tude, dos re­for­mados, das mu­lheres, dos in­te­lec­tuais e qua­dros téc­nicos, das pes­soas com de­fi­ci­ência, dos micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, etc.).

Mas por outro lado, também é pre­ciso ter a cons­ci­ência de que é im­pos­sível atingir ob­jec­tivos es­tra­té­gicos des­va­lo­ri­zando ou ig­no­rando ob­jec­tivos ime­di­atos e in­ter­mé­dios.

A acção de trans­for­mação so­cial não é equi­pa­rável a uma crença. Exige a de­ter­mi­nação e con­fi­ança que emerge de uma mi­ríade de ac­ções con­cretas, em cujas con­tra­di­ções di­a­léc­ticas se forma, ama­du­rece e de­sen­volve a cons­ci­ência das massas. Sem a qual ne­nhuma mu­dança de fundo é pos­sível.

 




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