Os protectores da floresta

Margarida Botelho

Os manuais das relações públicas e do marketing ensinam que as marcas convém associarem-se a eventos que envolvam o seu mercado alvo ou cujo prestígio as possa valorizar ou melhorar a imagem. É a essa luz que devemos entender os patrocínios a iniciativas culturais, desportivas, de cariz caritativo ou de defesa do ambiente. Quando o mesmo evento junta o mercado alvo e dá espaço a uma certa lavagem da imagem, temos um responsável de marketing feliz.

Vem isto a propósito do apoio da Navigator Company (o novo nome da Portucel) ao ACANAC. Para os mais distraídos, convém esclarecer que o Acampamento Nacional de Escuteiros (ACANAC), que vai na 23.ª edição, é a maior realização anual do Corpo Nacional de Escutas (CNE). A edição deste ano terminou no domingo em Idanha-a-Nova e reuniu mais de 21 mil crianças e jovens, dos 6 aos 22 anos. A logística é impressionante, com as suas mais de quatro mil tendas, refeições, programação e tudo o que um evento com esta dimensão implica durante uma semana. Nem o Presidente da República faltou.

O tema desde ano – «Abraça o futuro» – estava ligado a questões ambientais e de defesa da natureza. A Navigator não podia ter escolhido melhor (ou sido melhor escolhida, isso não sabemos). «A associação activa e empenhada da The Navigator Company ao ACANAC 2017 (…) constitui uma oportunidade ímpar para promover activamente as melhores práticas na prevenção e gestão da floresta junto de um público-alvo ávido por aprender e que, num futuro próximo, constituirá o pilar sustentável da nossa sociedade», anunciou a empresa. Além de acções diversas com os escuteiros, foram distribuídos camisolas e bonés com o símbolo «Protetores da Floresta – by Navigator Company». Como acção de marketing é quase perfeito. Mas com «protectores» como a Navigator, a floresta não precisa de facto de inimigos.

 



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