Canções Russas

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Kalinka


Escrita em 1860 pelo compositor e folclorista russo Ivan Lorionov para um espectáculo musical, Kalinka é seguramente a mais conhecida canção popular russa. Destinada inicialmente para voz solo e estreada em Saratov, rapidamente foi adoptada por grupos corais tradicionais, integrando o reportório do Coro do Exército Vermelho (designação mais comum, embora a formação tenha sido criada em 1928 com outro nome oficial, alterado em 1935, 1949 e 1998).

O seu fundador, Alexander V. Alexandrov (1883-1944), autor, entre outras obras, do hino nacional da URSS (que se mantém, com nova letra, como hino da Federação Russa) fundou o coro ligado à Academia Militar Frunze, compondo-se exclusivamente de soldados e destinado a actuar essencialmente para o Exército Vermelho, tornando-se numa das instituições culturais mais populares e prestigiadas da União Soviética e em todo o Mundo, nomeadamente após a II Guerra Mundial, em que actuou em todas as frentes e no histórico concerto da paz de 1948 em Berlim. Alexandrov transformou a despretensiosa canção popular («kalinka» é o nome russo para o fruto em português designado por zimbro) numa verdadeira ária de ópera, com um exigente registo para a voz do tenor solista, de tal forma que, após o concerto de Berlim, a interpretação de Victor Ivanovich Nikitin (três encores!) criou a figura de «Mr. Kalinka».

O informal título foi herdado por um dos mais famosos membros do Coro, Evgueny Balayev, cuja interpretação nos estúdios de Abbey Road, em 1963, com o grupo já dirigido pelo filho do fundador, Boris Alexandrovich Alexandrov, que, em 1956, dera um histórico concerto em Londres, é considerada a interpretação definitiva.

 

Os Barqueiros do Volga

 

Canção popular russa recolhida pelo compositor Mily Balakirev (1837-1910) e incluído no seu livro de canções populares editado em 1866.

Um dos membros do determinante Grupo dos Cinco (Balakirev, Borodin, Cesar Cui, Mussorgsky, Rimsky-Korsakov) que, na esteira de Mikhail Glinka, criaram as raízes da música clássica russa com forte influência da música popular eslava, Balakirev, apenas anotou na sua obra uma estrofe da canção a que se juntariam outras posteriores, toda referindo o violentíssimo trabalho de sirgagem dos barcos do rio Volga, puxados à corda (sirga) por camponeses forçados a essa tarefa, que se transformou num retrato da duríssima exploração do povo russo sob o regime czarista derrubado em 1917. O pintor Ilya Yefimovich Repin (1844-1930) pintou em 1873 o famoso quadro sobre o tema que, como toda a sua obra, viria a constituir um exemplo reclamado pelos defensores do estilo conhecido como realismo socialista.

A canção foi divulgada largamente pelo famoso baixo russo Feodor Chaliápin (1873-1938), foi utilizada pelo compositor Alexander Glazunov (1865-1936) na sua obra «Stenka Razin» e foi objecto de um arranjo orquestral de Igor Stravinsky. Durante a II Guerra, Glenn Miller gravou o tema num arranjo jazzístico que atingiu o 1.º lugar nas charts norte-americanas em 1941.

 

Partisans

 

A canção adquiriu grande popularidade após a II Guerra através da interpretação do Coro do Exército Vermelho, associada à importância das guerrilhas na Frente Leste e nos outros países sob ocupação nazi, incluindo a França, onde Ana Marly (1917-2006) e Maurice Druon (1918-2009) compuseram, em 1940 no exílio em Londres, o Chant de la Liberation ou Chant des Partisans, hino da Resistência francesa frequentemente confundido com a composição russa. Curiosamente, Ana Marly – de facto Anna Yurievna Betulinskaya – nasceu em S. Petersburgo numa família aristocrática, tendo os pais fugido para França após a Revolução de Outubro. A primeira letra da canção foi por ela escrita e cantada em russo, sendo o resistente Emmanuel d’Astier de Le Vigerie (por sua vez autor de La complainte du partisan, cuja versão inglesa, The Partisan, foi celebrizada por Leonard Cohen!) quem sugeriu a Druon uma letra em francês.

O tema russo refere-se à acção dos guerrilheiros durante a Guerra Civil de 1918 a 1921 e à derrota dos exércitos brancos de Kolchak e Denikine apoiados pela vasta intervenção estrangeira contra o jovem poder soviético.

 

V Put (Em Marcha)

 

A canção foi composta em 1954 para o filme Maxim Perepelitsa pelo compositor soviético Vasily Solovyov-Sedoi (1907-1979) com letra do poeta Mikhail Dudin (1916-1993).

Independentemente do filme (realizado em 1955), o tema ganhou enorme popularidade na URSS, nomeadamente através da interpretação pelo Coro do Exército Vermelho, tornando-se, pelo seu peculiar ritmo, numa das mais usadas canções de marcha da infantaria soviética. Esta popularidade mantém-se até hoje sendo um tema normalmente tocado pelas bandas nas celebrações do Dia da Vitória e noutras cerimónias militares.

 

Katiucha

 

Composta em 1938 pelo compositor soviético Matvei Blanter (1903-1990) com letra do poeta Mikhail Isakovsky (1900-1973), a canção descreve a recordação à beirario de uma jovem namorada (Katiucha é o diminutivo de Ekaterina) de um soldado que combate pela Pátria na longínqua fronteira e que ela compara à águia cinzenta das estepes.

Foi cantada em público pela primeira vez pela famosa cantora Valentina Batischeva. Rapidamente se tornou popular em toda a União Soviética em guerra. Interpretada por numerosos outros intérpretes, passou a incluir o reportório habitual do Coro do Exército Vermelho.

A sua fama levou a que o afectuoso nome fosse atribuído aos lança-foguetes BM-8, BM-13 e BM-31 que as tropas hitlerianas especialmente temiam e por sua vez baptizaram de «órgãos de Stáline» (são efectivamente parecidos com um órgão de igreja), enquanto eram particularmente estimados pela infantaria soviética.

A popularidade de Katiucha levou à sua divulgação por todo o mundo ainda durante a II Guerra de que é expressão a versão da autoria do médico comunista e herói morto em combate Felice Cascione (1918-1944) com o título Fischia Il Vento, com Bella Ciao, uma das mais populares canções da Resistência italiana.

A melodia foi igualmente utilizada pela Resistência grega como hino da Frente de Libertação Nacional contra a ocupação nazi e posteriormente na guerra contra a agressão britânica (1946-1948).




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