Revolução de Outubro 1917

CEM ANOS DE FUTURO

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Alexander Borodin

"Danças Polovtsianas"
da ópera "O Príncipe Igor"

Alexander Borodin dedicou largos anos à composição da Ópera O Príncipe Igor, de onde são extraídas as famosas Danças Polovtsianas, que encerram o 2.º acto, frequentemente interpretadas como peça autónoma na sua versão de concerto.

As danças retratam o ambiente do acampamento do chefe dos polovtsianos, Kontchak, onde o Príncipe Igor está feito prisioneiro. Também preso, seu filho Vladimir, apaixona-se pela filha de Kontchak.

Após uma introdução iniciada pelos sopros, irão suceder-se os temas (da dança das donzelas, da dança selvagem dos homens, da dança dos rapazes e da dança geral), onde os ambientes contrastantes irão sobrepor-se até um final verdadeiramente explosivo.

Borodin – químico de profissão – integrou o chamado Grupo dos Cinco, como ficou conhecido o grupo de compositores mais relevantes do nacionalismo russo, do qual, além de César Cui, faziam parte Rimsky-Korsakov e Alexander Glazunov (que, após a morte de Borodin ocorrida em 1887, concluíram a preparação da partitura) e, também, Modest Mussorgsky.

 

Igor Stravinsky

Suite do bailado 
O Pássaro de Fogo"
(Versão: 1919)

Sobre o autor de “O Pássaro de Fogo”, disse Lopes--Graça: “Stravinsky conhece cedo a celebridade internacional.

Ligado aos Bailados Russos de Diaghileff (…) as suas primeiras obras de vulto, os bailados O Pássaro de Fogo e Petruska, obtêm em Paris, respectivamente em 1910 e 1911, o mais assinalado êxito, e, dois anos depois, outro bailado, Le Sacre du Printemps,

pelo retumbante escândalo da sua genial novidade de concepção e linguagem, coloca o compositor (…) à testa do vanguardismo musical da época (…).

A partir do Sacre, cada obra nova de Stravinsky constitui por assim dizer um acontecimento de ordem mundial, quer nas adesões que ganha quer nas oposições e debates que provoca” (1). O bailado “O Pássaro de Fogo” foi baseado em contos populares russos, recorre à figura de fogo sem chamas de um pássaro mágico de penas que brilham mesmo depois de arrancadas. Um paralelo se encontra no conto “O Pássaro de Ouro”, dos irmãos Grimm.

Do bailado serão interpretados a Dança Infernal do Rei Katchei e o Final. Narra a estória que no jardim do Rei Katchei, onde viviam jovens princesas aprisionadas, brotavam maçãs de ouro.

O príncipe Ivan, tendo entrado no jardim vê um lindo pássaro de penas douradas que, tendo sido liberto pelo príncipe, lhe oferece em troca poderes contra os encantamentos do mago (o Rei Katchei).

(1) Lopes-Graça, Duas grandes figuras da música contemporânea: Igor Stravinsky e Bela Bartok, Opúsculos (2), Ed. Caminho, Lisboa, 1984.

 

Modest Mussorgsky /Maurice Ravel
Quadros de Uma Exposição”

Quadros de uma Exposição é o título de uma suite composta em 1874, originalmente para piano, que será ouvida na versão orquestral do compositor francês Maurice Ravel. A suite foi composta como homenagem de Mussorgsky ao pintor Viktor Hartmann, falecido no mesmo ano, tendo Mussorgsky escolhido vinte quadros dessa exposição, em face dos quais compôs uma peça para cada quadro (com os títulos “Passeio”, “Gnomo”, “O Castelo Medieval”, “Tulherias”, “Carro de Bois”, etc).

Na versão orquestral, serão apresentadas as duas últimas peças da suite, intituladas “Baba-Yaga” (Allegro com brio, feroce. Andante mosso. Allegro molto.) e “A Grande Porta de Kiev” (Allegro alla breve. Maestoso. Con grandezza.)

“Baba-Yaga” (o título completo da peça é “A Cabana de Baba-Yaga sobre Patas de Galinha”) refere uma personagem do folclore eslavo – na figura de uma mulher idosa e assustadora. A orquestração de Ravel transmite-nos, com as possibilidades sonoras do tecido orquestral, pela instrumentação proposta, a diversidade de ambientes sugeridos na escrita original para piano.

“A Grande Porta de Kiev“ transmite-nos, em jeito de antítese face ao quadro precedente, o traço oposto do imaginário russo, num exemplo conseguido de pragmatismo musical, em que a grandiosidade da arquitectura é figurada no tema com que se inicia a peça e que será reposto no final, em forma  apoteótica.

 

Dmitri Shostakovich

Sinfonia nº. 12,
“O Ano de 1917
– À memória de Lénine”

A 12.ª sinfonia de Shostakovich, dedicada à memória de Lénine, foi estreada em 1961.

A ideia da sua composição havia sido assumida décadas antes, segundo o esquema de um drama biográfico para o qual recorreria a textos de Mayakovsky, entre outros. O projecto ficou suspenso com a invasão alemã, iniciada em 1941 (sob a designação Operação Barbarossa).

Em 1956, numa entrevista ao jornal Sovietskaja Kultura, Shostakovich declarava: “Atualmente a minha mente trabalha com cada vez mais intensidade numa obra sobre a figura imortal de Vladimir Lénine” (1).

Os seus andamentos são: 1.º A cidade revolucionária de Petrogrado; 2.º Razliv; 3.º Aurora e 4.º O Alvor da Humanidade.

Desta obra, serão interpretados os dois últimos andamentos. Referenciam simbolicamente o início da Revolução, com a referência ao Couraçado Aurora, de onde foi disparado o tiro de sinal para o assalto ao Palácio de Inverno e, finalizando, o 4.º andamento que, recuperando o tema do 2.º andamento, em modo maior e tempo allegro, representará idealmente o carácter jubiloso do processo revolucionário.

  (1) Jorge Fernández Guerra, ORCAM, Madrid, 2017

 

Dmitri Shostakovich

Abertura Festiva” op. 96

A Abertura Festiva de Shostakovich foi composta em 1954. Alguns anos antes, o Comité Central do PCUS havia encomendado a Shostakovich uma obra comemorativa dos 30 anos da Revolução de Outubro. Nessa ocasião, depois de ter constado que Shostakovich faria uma obra com aquela designação, em vez disso, o compositor apresentou a cantata Poema para a Mãe Pátria, op. 74. A Abertura Festiva alia a apresentação de temas de carácter popular, apresentados na tradição dos compositores do nacionalismo russo, como Borodin e Rimsky-Korsakov. Começa com uma fanfarra dos metais, seguida por um tema extremamente rápido nas madeiras. Os violoncelos e depois os violinos são chamados a um momento lírico, enquanto a caixa--clara, acompanhada das cordas em pizzicati, estabelecem o retorno ao material inicial.  

O clímax é atingido quando se dá o início do terceiro terço da obra, cumprindo uma das regras consagradas do equilíbrio musical, conduzindo depois a orquestra, num crescendo triunfante, a um desfecho vibrante (1).  

(1) Após notas de Guilherme Nascimento, MG, 2011.

 

Dmitri Shostakovich

Poema Sinfónico “Outubro” op. 131

  O poema sinfónico “Outubro” foi composto em 1967, para a comemoração dos 50 anos da revolução bolchevique. Música de circunstância, escrita na tonalidade de Dó Maior, recorre a temas de obras anteriores, como as 5.ª, 7.ª e 10.ª sinfonias e ao tema de uma canção dedicada aos “Partisan”, que Shostakovich havia escrito em 1937.

Nascido em 1906, foi considerado desde muito jovem pelo seu talento musical. Shostakovich é o mais icónico compositor da música soviética, tendo a sua vida acompanhado intimamente os momentos essenciais da história da União Soviética. A imagem da sua relação com a revolução é contraditória. Embora tivesse mantido uma posição de destaque na Associação dos Compositores Soviéticos, vários foram os momentos de crispação em que o compositor foi censurado pelo seu estilo ou linguagem composicional (sendo acusado de formalismo).

No entanto, ingressa no PCUS em 1960, e em muitas das suas obras está patente a relação com a história da União Soviética e da revolução. As contradições assinaladas prendem-se, em grande medida, com os momentos da história soviética que, em 1990, o PCP apontou como “fenómenos negativos, justamente condenados, [que] não podem apagar as históricas realizações económicas, sociais, políticas, científicas e culturais” (1) da URSS).

A nível sinfónico, Shostakovich comporá diversas obras programáticas ou explicitamente relacionadas com a revolução: em 1927, a 2.ª sinfonia, conhecida como “Outubro”, expressamente composta para a banda sonora do filme com o mesmo título, realizado por Sergei Eisenstein, e do qual serão projectadas algumas sequências finais neste concerto; em 1941, a 7ª. Sinfonia “Leninegrado”, em homenagem à resistência do povo de Leninegrado (actual S. Petersburgo) ao cerco alemão; a 8ª. sinfonia “Stalingrado”, composta em 1943, no mesmo contexto de homenagem à resistência heroica ao cerco nazi em Stalingrado (actual Volvogrado); a 11ª. Sinfonia “O Ano de 1905” (da primeira revolução russa, marco inicial do processo que conduziu à Revolução de Outubro), obra composta em 1957; e, finalmente, a 12.ª sinfonia “O Ano de 1917”.

(1) Resolução Política do XIII Congresso do PCP (extraordinário), Loures,1990.

 



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