O anticomunismo pantomineiro
A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa recebeu, a 17 de Junho, um seminário, promovido pelo PCP, inserido nas comemorações do centenário da Revolução de Outubro. No ano em que se assinala 100 anos sobre o acontecimento maior da luta pela libertação da exploração do homem pelo homem, a comunicação social dominante tem aproveitado para repetir as mais velhas e estafadas fórmulas do anticomunismo. Coerentemente, ignorou a realização do PCP.
À excepção de uma entrevista de antecipação num diário nacional e de uma das habituais caixinhas que um outro diário normalmente dedica a iniciativas do PCP, só o canal público reservou parcos minutos do seu noticiário à iniciativa. No entanto, os dois minutos da peça transmitida no jornal das 20 horas de sábado foram repartidos entre um excerto da intervenção do Secretário-geral do PCP e declarações de uma dirigente de um outro partido. Talvez porque não tenha sido só o PCP a dedicar uma iniciativa à Revolução de Outubro nesse dia? Não, a estação pública decidiu amalgamar um comentário a uma decisão de uma agência de notação sobre a dívida pública portuguesa com a notícia de uma iniciativa que contou com a intervenção de centenas de participantes sobre as conquistas da Revolução de Outubro e a sua actualidade.
Isto não impediu Francisco José Viegas (ex-secretário de Estado do anterior governo) de escrever, na segunda-feira seguinte, uma crónica no diário das caixinhas sobre o seminário. Como podemos garantir que lá não esteve – como a falta de rigor, até nas citações que faz, o comprova –, só podemos concluir que, para Viegas, pouco importa o que o PCP diga ou faça: tudo vale para repetir os lugares comuns do anticomunismo.
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Há uma semana, realizou-se a conferência de imprensa de apresentação da edição deste ano da Festa do Avante!. Apesar de ser, reconhecidamente, o maior evento político-cultural do Portugal de Abril, a comunicação social, mais uma vez, ignorou a iniciativa – com excepção da Agência Lusa do Correio da Manhã (TV e jornal). Apesar da presença de vários artistas que estarão presentes na Atalaia, em Setembro, como Cacique'97, Hélder Moutinho, João Afonso, João Gil, Ala dos Namorados, Capicua, Margem Soul, Stonebones & Bad Spaghetti, Tânia Oleiro, Michael Lauren ou Raquel Belchior, e do carácter único da iniciativa dos comunistas portugueses, o tratamento mediático ficou aquém, até, da apresentação de um qualquer festival de música.
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As prioridades de quem dita a agenda mediática dispensa, sempre que possível, as iniciativas do PCP – uma postura que colide de frente com o tratamento prestado a outras forças políticas: sabemo-lo.
No entanto, no fim-de-semana passado, foi-nos dado um dos exemplos mais absurdos desta realidade. Uma eleição de delegados de uma secção a uma assembleia distrital de um outro partido, no domingo, mereceu um tratamento jornalístico mais aprofundado e detalhado do que as duas iniciativas com o Secretário-geral do PCP no mesmo dia, uma delas assinalando o primeiro dia em que a entrada nos museus voltou a ser gratuita aos domingos e feriados de manhã.