Pelos «chefes»
À direita, as mulheres esta semana estiveram politicamente desenvoltas.
Teresa Morais, a deputada do PSD que assumiu as despesas da interpelação parlamentar do seu partido à questão dos incêndios em Pedrógão Grande, ergueu-se no hemiciclo de S. Bento a clamar «em nome do povo», qual Maria da Fonte da Linha de Cascais a zurzir os Cabrais de hoje (até rima) que, segundo a oradora, fazem «perguntas» a mais e dão «respostas» a menos.
De caminho e interrogada directamente pelo PCP com perguntas sobre as falhas de actuação do governo PSD/CDS (de que T. Morais foi ministra da Cultura) na organização da luta contra os incêndios, nomeadamente cortando verbas e meios aos dispositivos de prevenção e combate, a deputada Morais respondeu nada, olímpica na sua tranquilidade, quiçá num último sopro da sua avatar minhota, quando (essa sim) mobilizava «o povo» contra os cemitérios fora das igrejas.
Fazendo pendant de género, a dirigente do CDS, Assunção Cristas, fez também pendant da substância e resumiu o assunto determinando que «o Governo não tem que fazer perguntas, tem é de dar respostas», decidindo ela própria apresentar 25 inquirições «ao Governo», que «as populações» querem ver respondidas.
«As populações» ou «o povo» também gostariam de saber onde Assunção Cristas foi buscar tão repentina perguntação sobre os malefícios dos incêndios, quando ela própria, enquanto ministra da Agricultura do governo PSD/CDS, o que fez de concreto sobre a floresta portuguesa foi legislar no sentido da liberalização do plantio de eucalipto, favorecendo o negócio dos industriais da celulose que, do alto da sua impunidade, impõem os baixos preços na madeira e controlam o negócio a seu bel-prazer.
É conhecida em todo o lado a enorme combustibilidade do eucalipto, uma árvore que cresce rapidamente, mas também arde como um fósforo.
Não é por acaso que, tanto PSD como CDS, fogem do problema do eucalipto como o diabo da cruz, dado que a sua política, com a assinatura de Assunção Cristas na supracitada legislação, foi inteiramente virada para os interesses da indústria de celulose, liberalizando o plantio do eucalipto e deixando as respectivas empresas apropriarem-se da pequena propriedade, para com ela constituir largas zonas de plantio do eucalipto, enquanto monopolizam o mercado da madeira.
Entretanto, Passos Coelho chegou ao desplante de negar a alta combustibilidade do eucalipto, devendo ser o único responsável político europeu a defender tão extraordinária tese, já que a «Europa desenvolvida» foge quanto pode, e há muito, do plantio desta árvore que, além do mais, vampiriza a água dos terrenos onde é plantada.
Igual a si próprio, Passos Coelho continua a cometer argoladas em função do que julga agradar «aos chefes».