Quem fala assim...
A semana passada, num jantar que teve por lema «Ideias à Prova», em Vila Nova de Gaia, Passos Coelho tomou a seu cargo as dores das celuloses e debitou, com a mesma certeza com que falou de suicídios que não houve, considerações sobre os eucaliptos. Segundo a Lusa, o presidente do PSD disse que a «demonização» daquela espécie «não faz sentido», «porque nós sabemos que uma grande parte do território não tem eucalipto», que o «eucalipto é o que menos arde», que o «problema [dos incêndios] não é do eucalipto» e que é nos eucaliptais que o fogo se apaga com «mais facilidade».
Desconhece-se qual terá sido desta vez a fonte, mas não foi certamente o Inventário Florestal Nacional, que em Outubro de 2015 dava conta de um crescimento de 13 por cento daquela espécie entre 1995 e 2010, apontando-a como a espécie dominante na floresta portuguesa, com 812 mil hectares plantados. A estimativa actual, de acordo com o Ministério da Agricultura, é que ronde os 900 mil hectares, sendo a espécie dominante com cerca de 36 por cento da área florestal.
Também não se sabe onde terá ido Passos buscar a ideia peregrina de que os fogos no eucaliptal nacional são os mais fáceis de apagar, mas lá que o homem incendiou o almoço com a sua sanha contra a actual situação política não restam dúvidas. O busílis da questão, diz, é o acordo de António Costa com «Os Verdes», que são contra os eucaliptos, o «resto são partes gagas», garante. Onde não houve vestígios de gaguez foi na explicitação do que Passos entende que deve ser a gestão florestal: «temos é de fazer um investimento em floresta que remunere a gestão do território, se não remunerar não funciona, o eucalipto remunera, o pinheiro remunera e o carvalho não remunera, logo eu posso gostar de carvalhos, mas se investir em carvalhos vou perder dinheiro». Nem mais. Se arder, ardeu. Ou, como fazia Cristas por causa da seca, reza-se aos santinhos para que nada aconteça. As celuloses (a)provam a ideia.