As notações

Henrique Custódio

Ao que consta, a agência de rating Moody's classificou recentemente Portugal na categoria de «estável» o que, para os entendidos, significa que o nosso País vai continuar na posição de «lixo». A outra agência norte-americana, a Standart & Poor's, fará o mesmo, já que zelosamente tem sempre emparelhado opiniões na desclassificação financeira do nosso País.

Como diz o bando de experts nestas questões, o que nos vai valendo é a agência de rating canadiana, a FITCH, que mantém Portugal acima da classificação «lixo» e nos permite «recorrer aos mercados». Num irreprimível augúrio de desgraça, os especialistas do burgo até qualificam esta classificação da FITCH como a bóia que «nos mantém à tona de água», procurando deixar-nos em suspenso e com falta de ar.

Genericamente, as agências de notação financeira avaliam o valor do crédito de emissões de dívida de uma empresa ou de um governo, constituindo um instrumento que o capitalismo utiliza a bel prazer para gerir os negócios do mundo.

Com um pormenor substantivo: o de misturar empresas e governos como se de a mesma coisa se tratasse, desprezando o facto de os governos serem órgãos nacionais que gerem ou comandam (ou deviam gerir e comandar) países inteiros e também as empresas que neles medram, nos seus negócios.

A «globalização» atamanca a teoria neoliberal de que os estados vão perdendo importância a favor da livre circulação de capitais que, por fim, determinam o alfa e o ómega das políticas a seguir nos países e no mundo, presumindo-se que até ao fim dos tempos. Isto está longe de ser novo – é até bastante velho e constitui o sonho imperialista do capitalismo, certeiramente analisado e desmontado por Karl Marx, no século XIX.

Quanto à confiança que estas agências de rating merecem, está superlativamente demonstrada no que elas realizaram no passado recente.

Em 2008, em plena crise financeira do subprime, a agência Moody's e a agência Standart & Poor's davam a notação máxima de «Triple A» na avaliação de confiança ao banco Lehman Brothters, na véspera deste «gigante do investimento» pedir falência ao governo dos EUA, enquanto a agência canadiana FITCH dava a mesma classificação de «Triple A» aos bancos islandeses, na véspera de estes entrarem em falência declarada.

E o mundo gira, as agências de rating continuam a desempenhar o papel que o capitalismo lhes atribuiu, a generalidade finge acreditar nelas, as suas previsões continuam a alimentar os jogos capitalistas de quem manda no sistema e, todavia...

Todavia, à mulher de César não lhe basta ser séria, é preciso também parecê-lo. A seriedade é coisa que as agências de rating não têm, e nunca mais vão parecer tê-la.




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