As pulgas e os elefantes

Vasco Cardoso

Com o passar dos meses vai ficando mais distante da memória colectiva o real significado da política que PSD e CDS impuseram ao País. A concretização pelo anterior governo do pacto de agressão que PS, PSD e CDS assumiram com a troika traduziu-se num processo de regressão económica e social de grande envergadura que deixou o povo e o País de rastos. Percebe-se o empenho com que estes procuram agora criar todo o tipo de manobras de diversão – como o folhetim em torno da CGD que pretendem privatizar– visando branquear responsabilidades e criar uma cortina de fumo sob uma realidade que teve avanços, embora limitados, como sabemos.

Mas a verdade é como o azeite e, como tantas outras vezes, acaba por vir à tona destapando todo o tipo de mentiras e mistificações. Todos se recordarão do enorme aumento de impostos que de uma penada impôs um brutal agravamento fiscal sobre os rendimentos do trabalho (sobretaxa no IRS, redução dos escalões e limites às deduções, etc.) com um saque anual (2012) de mais de três mil milhões de euros que ainda não foi completamente revertido. Ninguém poderá esquecer outros aumentos que arrastaram muitos bens e serviços para a taxa máxima do IVA (23%), ou a perseguição feita aos beneficiários de várias prestações sociais (subsídio de desemprego, RSI, etc.) e também a perseguição implacável que foi feita aos trabalhadores, agricultores, pescadores, pequenos empresários sujeitos a uma ameaça permanente por parte do fisco com a aplicação de multas, coimas e juros, por cada atraso ou incorrecção no preenchimento de documentos. Foram de facto anos de muito e intenso «trabalho» por parte da AT.

Só pode ter sido o excesso de ocupação que pode justificar que, ao mesmo tempo que os trabalhadores e o povo eram massacrados, os mesmos serviços tenham deixado escapar para diversos paraísos fiscais cerca de 17 mil milhões de euros (mas quem é que tem tanto dinheiro?!!), dos quais cerca de 10 mil milhões não tiveram qualquer escrutínio por parte do fisco, conforme foi noticiado pelo Público esta semana, ficando libertos do pagamento de impostos. Eis a política fiscal que se concentrou nas pulgas para deixar passar os elefantes.




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