Por salários e emprego na Valindo
Na Valindo, estava há meses em marcha um despedimento colectivo e havia atrasos constantes no pagamento aos trabalhadores. Com a greve iniciada a 27 de Dezembro e a manifestação de 6 de Janeiro, foi dada mais força à denúncia da injustiça e à exigência de uma intervenção do Governo.
A gestão privada do Fundo Revitalizar Norte não responde aos trabalhadores
Para a situação no Grupo Valindo, o Governo foi alertado por uma pergunta da deputada do PCP, Carla Cruz, em Outubro. Os ministérios da Justiça e do Trabalho, nas respostas, confirmaram o processo de despedimento colectivo de 50 trabalhadores e também a existência de um PER (processo especial de revitalização). Comunicaram ainda que a empresa «evidenciou estar informada» acerca das suas obrigações legais e «quanto à observância dos direitos dos trabalhadores».
Afinal, o salário de Novembro só acabou de ser pago a 28 de Dezembro (um dia após o pessoal entrar em greve), ficando em dívida o subsídio de Natal e muitas horas de trabalho extraordinário, a cerca de 180 trabalhadores. Também está por pagar o salário de Dezembro. Mas a administração não dá a cara perante os trabalhadores e recusa reunir-se com o Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes.
Logo após ter estado com os trabalhadores, no segundo dia de greve, à porta da fábrica, em Fafe (freguesia de Cepães), onde se manteve uma concentração, desde o início da luta, a deputada comunista voltou a questionar o Governo, solicitando esclarecimentos adicionais por parte dos ministérios do Trabalho e da Economia.
No dia 30 de Dezembro, Carla Cruz perguntou, designadamente, se o Governo tem informações sobre as remunerações que não foram pagas aos trabalhadores; se houve intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho; como é avaliada a falta de contactos da entidade gestora com os trabalhadores; que medidas tenciona tomar para que sejam respeitados os direitos dos trabalhadores.
O PCP pretende saber ainda se o Governo confirma que o Fundo Revitalizar Norte (gerido pelo grupo privado Explorer Investments) possui capital público e como os organismos competentes acompanham a gestão dessas verbas.
A deputada apurou que a Valindo, que detém a marca de roupa de criança Girandola, tem um passivo de cerca de dez milhões de euros, sendo de 150 mil euros a dívida aos trabalhadores.
União por justiça
A marcha de protesto dos trabalhadores da Valindo, que na passada sexta-feira, dia 6, levou quase meio milhar de pessoas às ruas de Fafe, desde o campo da feira até à Câmara Municipal, foi uma «prova de coragem e união que tem caracterizado todo este processo de luta». Na reportagem publicada pela União dos Sindicatos de Braga, é assinalada a participação dos mais de 100 trabalhadores que, desde 27 de Dezembro, têm estado em frente à porta da empresa, bem como de familiares.
A esta acção, em solidariedade, juntaram-se dirigentes e outros representantes do Sindicato Têxtil e da Fesete (federação sindical que engloba o sector), da União dos Sindicatos do Distrito de Braga e de vários sindicatos, e Arménio Carlos, Secretário-geral da CGTP-IN. Esteve também presente Gonçalo Oliveira, da Comissão Política do CC do PCP.
No final da marcha, foi recebida pelo presidente da Câmara de Fafe uma delegação, que incluiu quatro trabalhadores da Valindo, o coordenador do Sindicato Têxtil, Francisco Vieira, o coordenador da União, Joaquim Daniel, e também Arménio Carlos.
Falando aos trabalhadores, o dirigente sindical têxtil respondeu à administração da Valindo, que veio alegar que seria preciso voltar ao trabalho para que a empresa pudesse pagar salários. Francisco Vieira apenas perguntou pelo pagamento do trabalho que os trabalhadores já fizeram, mas pelo qual não receberam.
Foram manifestadas críticas e deixadas interrogações quanto a uma verba estimada em três milhões de euros, que teria sido injectada na Valindo desde 2014, no quadro de um PER (processo especial de revitalização de empresas), a troco de uma participação de 75 por cento no capital. Arménio Carlos expressou muitas dúvidas por uma verba tão volumosa ter desaparecido em tão pouco tempo. O Secretário-geral da CGTP-IN defendeu o apuramento de factos e responsabilidades, mas ressalvou que tem de ser dada prioridade às medidas necessárias para pagar a dívida aos trabalhadores e para garantir o futuro da empresa e dos postos de trabalho.
Transmitindo a solidariedade da CGTP-IN aos trabalhadores da Valindo, Arménio Carlos destacou a sua coragem e a sua união e saudou a decisão de, organizados no seu sindicato, lutarem por aquilo que é seu por direito.
Com a luta, já foi garantida a unificação do subsídio de refeição no valor de seis euros
Greve na Tenente Valadim
Na segunda-feira, dia 9, os trabalhadores dos serviços de atendimento telefónico e apoio administrativo (call center e backoffice) da MEO (PT), na Rua Tenente Valadim, no Porto, contratados através da Manpower, fizeram greve, com um nível de adesão de 80 por cento, para darem força às reivindicações apresentadas a ambas as empresas, destacando-se o aumento dos salários e a integração nos quadros da MEO.
Durante a greve, de três horas, muitos dos trabalhadores concentraram-se no exterior do edifício, exibindo faixas e gritando palavras de ordem.
Aos jornalistas, o delegado sindical, Nelson Leite, explicou que há cerca de 400 trabalhadores, presentemente vinculados à Manpower, que trabalham para a MEO (PT) há vários anos (havendo casos de mais de 15 anos), sempre naqueles serviços e em situação precária, apesar de assegurarem funções permanentes.
A realização da greve foi antecedida de dois plenários, a 22 de Novembro e a 22 de Dezembro, onde os trabalhadores aprovaram as reivindicações e decidiram passar à luta, face à falta de respostas positivas.
Fruto deste processo de luta, a Manpower anunciou que, a partir deste mês, vai unificar no valor de seis euros o subsídio de refeição.
Os trabalhadores mostraram-se determinados a prosseguir a luta, sob formas a analisar brevemente, caso as demais reivindicações não sejam correspondidas.
Em solidariedade, esteve com os trabalhadores uma delegação do PCP, de que fizeram parte Ilda Figueiredo, da Direcção da Organização Regional do Porto, e Diana Ferreira, deputada à Assembleia da República, que prestou informações sobre uma proposta do Partido para limitar a utilização do trabalho temporário, entregue a 19 de Outubro e que aguarda discussão no Parlamento.