O que a história a prova

João Frazão

Não há jornal que não tenha a secção dos altos e baixos, do sol e sombra, dos mais e dos menos, do sobe e desce, num exercício de apreciação da acções, atitudes ou iniciativas desta ou daquela personalidade ou organização.

Esta semana, o suplemento económico «Dinheiro Vivo», que usa a formulação das setas para cima e para baixo, coloca o seguinte texto a enquadrar a fotografia do Secretário-geral do PCP, que está no lote das setas para baixo: «O PCP insiste na nacionalização do Novo Banco. Vai propor agendar um debate sobre um projecto de resolução, com base num texto já apresentado em Fevereiro de 2016. A história prova, contudo, que o Estado não é bom gestor...».

Para lá do reconhecimento da posição coerente do PCP, que persiste na defesa de um dos grandes eixos da política patriótica e de esquerda, a defesa de um forte papel do Estado na economia e designadamente o controlo público sobre a banca, os autores desta apreciação só se podem ter enganado. Se a situação não fosse dramática, com implicações sérias no Orçamento do Estado, seria caso para nos deitarmos ao chão de tanto rir.

É que, uma vez que falamos do antigo Banco Espírito Santo (refira-se para o caso da memória ser tão curta que já esteja esquecido), a única coisa que a história prova é que o Estado foi chamado a intervir para resolver os desmandos da dita iniciativa privada, que segundo os comentaristas ao serviço do capital nunca falha e, pelos vistos, provará, historicamente, as melhores capacidades de gestão.

Falamos, sublinhe-se, de um dos maiores bancos privados portugueses, onde foram recrutados e para onde transitaram muitos dos governantes de sucessivos governos, num dos mais eloquentes exemplos da promiscuidade reinante entre poder político e poder económico.

O que ficará para a história, note-se, é que o Estado português teve que assegurar quase cinco mil milhões de euros para salvar uma parte do BES, que se inserem nos cerca de 20 mil milhões que nos últimos anos foram enfiados na banca no nosso País.

É que a situação do Novo Banco é por si só ilustrativa do ridículo de tal afirmação, pelo que dispensa referir aqui o que a história provou no caso do BPN, do BPP ou do BANIF, apenas para falarmos dos mais evidentes dos últimos anos!

 



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