MPLA

Luísa Damião
Deputada do MPLA na Assembleia Nacional de Angola

Trazemos para todos vós uma saudação fraterna da Direcção do MPLA, dos seus militantes e simpatizantes que formulam votos de sucesso nos trabalhos do vosso Congresso.

A realização deste Congresso é mais um exercício de democracia no seio do PCP, pois sabemos que todos os militantes representados pelos delegados aqui presentes participaram com as suas opiniões e sugestões nas matérias agendadas para este Congresso, sempre na perspectiva de tornar o PCP mais coeso, mais interventivo, mais influente e mais firme na defesa dos ideais de Abril e dos principais interesses das classes trabalhadoras portuguesas.

Permitam-me, camaradas, exprimir aqui a nossa grande admiração pela forma como ao longo dos anos da sua existência e principalmente depois do 25 de Abril, o PCP se mantém coeso, não vacila ante as adversidades e com firmeza defende os interesses mais sublimes dos trabalhadores portugueses.

O actual cenário político em Portugal confere ao PCP mais responsabilidades no âmbito de entendimentos políticos que lhe permitem participar de forma mais directa nas principais decisões políticas do Estado português. Aí, temos testemunhado a vossa coerência na defesa dos princípios e dos valores defendidos pelo PCP.

O nosso encorajamento, camaradas.

Esta firmeza e esta coerência é perceptível igualmente na relação, na empatia, na fraternidade e solidariedade que o PCP manifesta para com o povo angolano e para com o MPLA. Em todos os momentos da nossa história sentimos a vossa presença solidária, a vossa amizade sincera e fraterna.

Como sabem, camaradas, depois da independência de Angola conquistada há 41 anos, depois da grande epopeia dos capitães de Abril e da luta de libertação liderada pelo MPLA, o país foi forçado a enfrentar uma guerra fratricida desenvolvida principalmente por forças estrangeiras que vieram em socorro dos seus servidores angolanos, a Unita e outros comprometidos em instalar uma independência de fachada. Foram 27 anos de conflito armado cuja consequência foi a morte de milhares de filhos de Angola, a destruição completa das infra-estruturas, desestruturou famílias e inviabilizou qualquer perspectiva de desenvolvimento do país.

Há 14 anos alcançámos a paz, uma paz conseguida por nós mesmos e de imediato lançámo-nos para um exigente programa de reconstrução nacional e reconciliação nacional.

Era necessário desminar, reorganizar, reequipar e reconstruir.

Era preciso reconstruir fisicamente quase tudo e curar as feridas do conflito.

O país ressurgiu dos escombros e os indicadores económicos e sociais que se seguiram são excelentes.

Simultaneamente com a recuperação das infra-estruturas, fizemos uma grande aposta na formação das pessoas. O país precisa de cidadãos preparados, formados e qualificados para assegurar o seu desenvolvimento sustentável. Esta é, no nosso entender, a forma sustentável de distribuição da renda nacional e de construir o futuro seguro. Permitam-nos que partilhemos com todos os camaradas algumas cifras que reputamos de extrema importância para as opções que fizemos e que constituirão a base do desenvolvimento e de luta contra a pobreza.

Quando alcançámos a paz, em 2002, o país tinha cerca de 14 mil estudantes universitários e pouco menos de quatro milhões de crianças matriculadas no sistema de Ensino Básico público. Hoje temos cerca de 230 490 estudantes universitários e mais de oito milhões de crianças matriculadas no sistema básico público.
Gizámos um ambicioso programa habitacional, com o objectivo de oferecer melhores condições de habitabilidade e consequentemente de fornecimento de água potável e energia eléctrica às populações. Em todo país, foram erguidas centralidades habitacionais e hoje, no quadro de um programa a que daremos continuidade, estão concluídos 103 662 fogos habitacionais e 104 317 lotes para auto construção dirigida.

Os investimentos feitos em sectores estruturantes permitiram por exemplo a conclusão do alteamento da barragem de Cambambe que permitiu já passar dos 180 para 780 megawatts, a construção de raiz da Barragem de Laúca com uma capacidade de 2067 megawatts, bem como a construção da Central do Ciclo Combinado do Soyo, que fará o aproveitamento do gás para gerar uma potência de 750 megawatts.

Convidamos pois os camaradas a reflectirem sobre o impacto que estes investimentos terão num futuro breve, em termos de desenvolvimento do país, mormente da industrialização do país, do desenvolvimento agrário e da produção alimentar e de outros sectores que no quadro da diversificação da economia se revelem importantes.

O choque da crise

A crise financeira que assolou o mundo em consequência da baixa vertiginosa do preço do petróleo, o principal produto de ingressos financeiros, atingiu duramente a economia angolana e provocou o abrandamento da dinâmica que esta registava.

Sempre tivemos consciência de que o país não deveria depender exclusivamente de um produto ou de um sector e na ocasião já trabalhávamos num programa de diversificação da economia, com apostas noutros sectores, nomeadamente no sector mineral, industrial, agrário, pescas, turismo e outros.
O choque da crise impôs-nos uma maior dinâmica no programa de diversificação da economia. Alguns dos programas estão a produzir agora os seus resultados.

Reconhecemos no entanto que os desafios ainda são enormes, principalmente no domínio da produção dos produtos básicos e na prestação de alguns serviços. Estes são os nossos desafios, os desafios para os quais o nosso Partido está focado, comprometido e mobilizado.

Não há milagres para inverter o actual quadro económico e social de Angola. Há trabalho reservado para todos angolanos e para os estrangeiros que escolheram o nosso país para viver ou para investir e trabalhar.

Os cerca de 200 mil portugueses presentes em Angola prestam um grande contributo neste esforço gigantesco em que se ergue um país e se constrói uma história.

Angola é esta que os angolanos e gentes de tantas outras nacionalidades escolheram para viver ou trabalhar e erguem com trabalho, sacrifício, sabedoria e honestidade.

Angola não é apenas as imagens que alguma comunicação tendenciosa escolhe para mostrar, nem o que é dito por meia dúzia de angolanos pagos para promover a intriga política, denegrir o seu próprio país e as suas instituições e servir outros interesses e não os dos angolanos.

As duas delegações do PCP e também de outros partidos e de outros países que nos visitaram muito recentemente, viram aquilo que não interessa mostrar em alguma imprensa portuguesa, porque o que interessa é mostrar o que não está bem e que assumimos como os nossos desafios, que estamos determinados em superar.

Não podemos dissociar este exercício de alguma imprensa do facto de que Angola vai realizar eleições no próximo ano e aqueles que não têm a capacidade para conceber um programa sério, de mobilizar o povo e dar garantias de capacidade de execução com seriedade, necessitam desta muleta, destes biscates que num futuro serão pagos com negociatas que nada beneficiam o nosso povo.

O povo angolano sabe bem quem está comprometido com a defesa e a realização dos seus sonhos.

Quando nos referimos a nossa história, dura, de muitos sacrifícios e da solidariedade de que beneficiámos, não nos podemos esquecer de Cuba de Fidel Castro que acaba de partir e deixa-nos um incomparável legado de amizade, solidariedade, internacionalismo, devoção às causas dos povos oprimidos e que fez de Cuba uma referência nos domínios da educação, saúde, investigação científica, entre outras áreas do saber.

Que a sua alma descanse em paz e os que os seus legados vivam para sempre entre nós. A melhor forma de honrarmos a sua memória é trabalhar para termos um mundo mais justo e mais humano.

Terminamos, augurando os melhores sucessos para os trabalhos do vosso Congresso, saudando antecipadamente o Comité Central e outros órgãos que serão eleitos, e reiterando o interesse do MPLA em continuar nesta senda de uma amizade profunda e sincera.

 



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