O sistema público de Segurança Social

Fernanda Mateus
Membro da Comissão Política do Comité Central

Na senda dos governos anteriores, o governo PSD/CDS, ancorado no pacto de agressão e a pretexto da crise, desencadeou um dos mais profundos ataques da política de direita à Segurança Social.

Subverteu os princípios de justiça distributiva que rege o regime não contributivo do Sistema, impondo restrições no acesso e redução dos montantes das prestações sociais, negando direitos básicos em situações de vulnerabilidade económica e social, de desemprego e de pobreza para que foram arrastados milhares de portugueses. De forma deliberada, quebrou o princípio de solidariedade deste regime, conferindo-lhe um pendor assistencialista e caritativo, com a redução drástica das transferências financeiras do Orçamento do Estado.

Atacou a espinha dorsal do sistema – o regime contributivo –, corroendo a justiça contributiva que o alicerça, com alterações ao subsídio de desemprego, a utilização indevida dos factores demográficos e económicos para justificar o congelamento das pensões, o aumento da idade da reforma e a redução dos seus valores, minando a relação que deve existir entre o valor do salário, as contribuições dos trabalhadores, o período contributivo e o direito dos trabalhadores a prestações sociais substitutivas do rendimento do trabalho.

Abalou as suas fontes de financiamento, patente no volume escandaloso de contribuições desperdiçadas no rol das dívidas; as que se perderam por prescrição; ou as que foram transferidas para o bolso do grande capital a pretexto do apoio à competitividade e ao emprego. Ao que acresce a perda de receitas resultantes da continuada destruição do aparelho produtivo, do elevado desemprego, da emigração, da generalização da precariedade, dos baixos salários, incluindo do salário mínimo nacional.

No novo quadro político, PSD e CDS tudo fazem para ocultar que pretendiam cortar 600 milhões de euros nas pensões, transferir contribuições dos salários mais elevados para os fundos de pensões, transformar a Segurança Social num sistema público residual.

O PCP tem sido o mais firme e coerente defensor da Segurança Social, das suas fontes de financiamento, dos seus objectivos e finalidades. Fê-lo combatendo o grande capital, o inimigo de sempre desta importante conquista de Abril, e a política de direita ao seu serviço. Nos últimos quatro anos desenvolveu um combate intenso ao lado da luta dos trabalhadores contra a acção do anterior governo PSD/CDS, e que foi decisivo para a sua derrota nas eleições e para o novo quadro político em que nos encontramos.

Nele, o PCP intervém com determinação e confiança ciente da justeza e da necessidade de medidas que assegurem mais e melhor Segurança Social, seja em matéria de direitos e de combate à evasão e dívida, seja na efectiva diversificação das fontes de financiamento.

Não se poupou a esforços para que o Orçamento do Estado para 2017 consubstanciasse avanços relativamente a 2016 em matéria de reposição de direitos de Segurança Social.

Por sua proposta ou iniciativa foram aprovadas importantes medidas: alargamento da atribuição do abono de família em número de crianças abrangidas e no seu montante, e na sua majoração para crianças até 35 meses; alargamento do prazo do regime de contratação das amas da Segurança Social, eliminação da pensão de alimentos para a atribuição da majoração dos montantes do subsídio de desemprego e prolongamento da medida de apoio aos desempregados de longa duração.

O compromisso do PCP

Especial alcance social teve a sua proposta de aumento de dez euros para todas as pensões em 2017. Partindo dela e da persistência do PCP na sua justeza, tornou possível o aumento extraordinário de dez euros para um milhão e 600 mil pensionistas, bem como um aumento de seis euros para as pensões mínimas. Um avanço que acresce à actualização das reformas de cerca de dois milhões e 600 mil reformados a partir de Janeiro.

A defesa intransigente de aumentos reais das pensões é indissociável do compromisso do PCP para com os actuais reformados e pensionistas, mas igualmente para com os que no futuro venham a sê-lo. Ele assenta no direito à reforma e a uma pensão digna, no direito à valorização anual de todas as pensões, dando especial atenção às mais baixas, e na valorização da carreira contributiva. Este é um compromisso para com os trabalhadores e com as gerações futuras de defesa e consolidação do Sistema Público de Segurança Social enquanto instrumento insubstituível, na efectivação do direito de todos os portugueses à protecção social, num Portugal mais justo, desenvolvido e soberano.

Ele é inseparável da ruptura com a política de direita, com as orientações da União Europeia, incluindo as relativas ao sistema de pensões. Um compromisso que é parte integrante da política patriótica e de esquerda.

Ele é, por isso, inseparável da ruptura com a política de direita, parte integrante da política patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português e pela qual luta.

Sim camaradas. É um compromisso do PCP, que não dispensa, antes exige o reforço da luta das bases, dos reformados e de amplas camadas da população na defesa dos seus direitos de Segurança Social.




Mais artigos de: Em Foco

Um ano em imagens

Resumir em imagens um ano de luta e de intervenção, de marcantes acontecimentos políticos e sociais no País e no mundo, é sempre uma tarefa difícil e particularmente ingrata. Desde logo porque implica uma selecção, com toda a...

Intervenções<br>no XX Congresso

Prosseguimos neste número a publicação de intervenções e saudações proferidas no XX Congresso do PCP, realizado em Almada de 2 a 4 de Dezembro. Subtítulos da responsabilidade da Redacção

O movimento operário e sindical

Permitam-me que da tribuna do nosso XX Congresso envie uma saudação ao movimento operário e a todos os trabalhadores cujo exemplo, coragem e determinação animaram a luta de diversos sectores, e que quando tudo parecia inevitável e muitos baixavam os...

Sobre informação, propaganda<br>e comunicações electrónicas

O mundo vive uma acentuadada agudização da luta de classes. No plano ideológico e comunicacional a ofensiva imperialista, apoiada na rede de multinacionais da comunicação, assume enorme dimensão, com o objectivo de mistificar a natureza exploradora e...

Política de quadros

Desde o XIX Congresso, enfrentámos particulares exigências, novas tarefas e desafios, intensa actividade que não teria sido possível sem o empenhamento, esforço e dedicação de milhares de quadros do Partido. E aprovámos um conjunto...

Sobre a dívida pública

Um país endividado, sob permanente pressão, tutela e chantagem das instituições europeias, um país que não dispõe de política monetária, cambial e cada vez menos orçamental; um país em que boa parte das empresas...

A luta e a unidade anti-imperialista.<br>A luta pela paz

Vivemos um momento internacional particularmente complexo marcado pelo aprofundamento da crise estrutural do capitalismo em que o imperialismo intensifica a sua ofensiva violenta e multifacetada, com o agravamento da insegurança e instabilidade da situação na Europa e no...

Defesa Nacional e Forças Armadas

Falar da política de Defesa Nacional e Forças Armadas é falar do processo progressivo de transformação e padronização das Forças Armadas tendente à satisfação dos objectivos da NATO e da sua inserção...

Partido Comunista de Cuba

Não podíamos começar esta mensagem que vos dirigimos sem referir a profunda consternação que sofremos, o povo cubano, os povos latino-americanos e os povos do mundo. «Cuba está de luto. Cuba está de luta!». A 25 de Novembro de...

MPLA

Trazemos para todos vós uma saudação fraterna da Direcção do MPLA, dos seus militantes e simpatizantes que formulam votos de sucesso nos trabalhos do vosso Congresso. A realização deste Congresso é mais um exercício de...