Nem repara?!...

Henrique Custódio

Duas particularidades ocorreram na semana passada: os Reis Magos trazidos no camelo de Passos Coelho e Passos Coelho a entrar na cáfila de João Jardim. Uma caldeirada.

Os Reis Magos de Passos Coelho foram anunciados pelo próprio em mais um dos seus intermináveis «jantares de correligionários» (há quem quantifique em 3500 km o périplo do homem entre manjares, pelo País fora). E o anúncio de Passos pretendia ser uma rectificação das gafes que reconheceu e procurou emendar com uma graçola que se tornou... nova gafe. Desta vez com Reis Magos que Passos, de olho maroto à esquina do Novo Testamento, anunciava para breve, trotando nos camelos pela areia fora do seu desnorte. O resultado foi nova especulação do comentarismo pafiano, a esgravatar subentendidos na «misteriosa frase» dos Reis Magos, desembocando a coisa numa bisonha barafunda à volta dos inescrutáveis «desígnios» de Coelho, pelos vistos bem escondidos no fundo da toca.

A cáfila que Alberto João Jardim procurou tanger por quatro páginas do Público estava carregada de ajuste de contas com Passos Coelho, de quem o soba reformado da pérola do Atlântico declarou que «a margem dele já acabou», considerando que Coelho «continua a fazer [fincapé] que as políticas dele eram social-democratas, quando eram na verdade tecnocratas e conservadoras impostas pelas instituições estrangeiras e que fizeram de nós um protectorado», rematando com o que achou um desaforo pessoal: «No congresso em que eu saí, nem uma palavra para mim. Isto não se faz. É mau carácter».

Cá se fazem, cá se pagam e Jardim, que não esquece, aproveitou a oportunidade de largar o barco de Passos Coelho para lhe ajuntar uma vingançazita. O trivial, nesta rapaziada.

O que de notório se tira destes episódios é o isolamento sem retorno de Passos Coelho, perdido no seu papel de chanceler no exílio (continua religiosamente a ostentar a bandeirinha na lapela), discursando para plateias rarefeitas de entusiasmo, cada vez mais viradas para o que vêem nos pratos do que para o que ouvem do orador, batendo umas palmas moles e acenando bandeiras desgarradas.

E a proverbial turbulência do PSD, quando lhe falta a mesa do Orçamento a que se sentar, já se manifesta por outras jantaradas (é sempre à mesa que esta gente se degladia), que proliferam igualmente pelo território nacional, saltando nomes como pipocas na panela, todos estando e fingindo não estar, todos querendo e jurando não querer.

Mas o desassossego está instalado e prolifera, e a direcção do PSD de Passos Coelho nem consegue um candidato próprio às câmaras municipais de Lisboa e do Porto, nas próximas eleições autárquicas.

Que diabo! Passos Coelho nem repara que a contestação interna à sua direcção já desceu ao nível de João Jardim?!...




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