Não finjam

Henrique Custódio

Um, a balbúrdia na Assembleia da República e, dois, o argumentário sobre o acesso do ex-presidente da CGD, António Domingues, às negociações com Bruxelas sobre a recapitalização da Caixa, quando ainda estava formalmente ligado ao seu anterior contrato são, de momento, os dois pontos altos da baixeza a que chegou a propaganda da direita.

Por partes.

A balbúrdia na Assembleia da República, a pretexto de um «insulto» proferido por um secretário de Estado no uso da palavra, parecia um recreio de crianças malcriadas à volta de um gafanhoto a saltitar no recinto. Indecorosos, os deputados do PSD e do CDS batiam a pés e mãos na mobília e berravam desalmadamente o nada que tinham para dizer. Um espectáculo de feira, à espera que as piruetas granjeassem aplausos.

Quanto ao argumentário «criticando» a presença de António Domingues nas negociações em Bruxelas sobre a Caixa, porque ainda estava «formalmente vinculado ao BPI», é uma imbecilidade desqualificada pelo próprio parceiro de Domingues na gestão deste banco, Fernando Ulrich, que o considera «a pessoa mais qualificada e preparada que conheço para dirigir a CGD».

Já não a vai dirigir, porque erros sucessivos de Governo, partidos (que aprovaram uma lei a impor um procedimento ainda em análise no TC) e António Domingues foram vergonhosamente explorados pela direita, levando-o à demissão.

Note-se que o argumentário contra a CGD tem actuado em matilha. Nessa senda, o PSD e o CDS têm abocanhando despudoradamente os dois objectivos que lhes interessam – a desqualificação pública da CGD e, em decorrência, a sua privatização –, não hesitando em chalacear em figuras de estilo o arsenal dos bons princípios e das boas maneiras.

Mas onde bate o ponto é na desfaçatez emproada com que esta gente continua a dirigir-se ao País, como se o País não soubesse – com saber de experiência feito – a governação reaccionária e restauracionista que praticaram na governação, a coberto da troika e deliberadamente confessando que queriam «ir além da troika», produzindo estragos profundos no Estado e no regime democráticos, além de semearem devastações no tecido social do País de penosa reparação, espalhando o desemprego desmesuradamente, promovendo o «culto da pobreza» e estiolando qualquer esperança de melhoria de vida.

Agora, conseguiram emperrar a CGD, mas não julguem que por muito tempo e que irão impor o retorno do descalabro governativo.

Por muito que a comunicação social escrita, falada e televisionada finja que esse descalabro governativo da direita «não tem importância», a verdade é que tem tanta, que o País vive com alívio o travamento desta política restauracionista.

Olhem para esse alívio e deixem de fingir que «não tem importância».

 



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