O «caso Barroso»

Anabela Fino

A contratação de Durão Barroso pelo Goldman Sachs continua a dar que falar e a servir de pretexto às mais diversas entidades a que esteve ligado para tentarem limpar a sua própria imagem. Desta vez as «virgens ofendidas» são a Universidade de Genebra e o Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento (IHEID, na sigla francesa), que segundo a edição de 25 de Novembro do jornal suíço Le Temps decidiram não renovar os contratos que tinham com o antigo presidente da Comissão Europeia na qualidade de professor convidado. O motivo, de acordo com o jornal, é a ida de Barroso para aquele banco de investimento, considerado como um dos principais responsáveis pela crise financeira de 2008.

Não deixa de ser curioso que o Goldman Sachs provoque tanta brotoeja na Suíça, que se não nos falha a memória há pouco mais de um ano andava nas bocas do mundo por causa do escândalo do HSBC, instituição bancária suspeita de estar envolvida em casos de lavagem de dinheiro ligado a drogas, tráfico e terrorismo, para além de ter sido investigada por auxiliar clientes a fugir aos impostos (o que não é crime na Suíça) em países como a Franca, os EUA, Bélgica e Argentina. O caso morreu com o pagamento de uma multa recorde de 40 milhões de francos suíços (cerca de 38 milhões de euros) e não consta que tenha havido grandes protestos.

Mas não é preciso voltar tão atrás para falar de escândalos, pois ainda no passado mês de Outubro o agora sensível IHEID convidou o candidato da extrema direita à presidência austríaca Norbert Hofer, dirigente do Partido austríaco da liberdade (FPÖ), a intervir num debate sobre a crise migratória naquele instituto, o que provocou a indignação de muitos professores e alunos. A presença de Hofer – conhecido por defender o racismo, a homofobia, a xenofobia e o sexismo – foi considerada um «precedente alarmante» na instituição. Segundo o jornal Le Temp, o director do IHEID, Philippe Burrin, enquanto publicamente criticava a ida de Barroso para o Goldman Sachs, entre portas contava com ele para emparelhar com Hofer...

O «caso Barroso», de mãos dadas com a hipocrisia, vai servindo para fazer de conta que lava mais branco. Enquanto isso, o propriamente dito Durão Barroso, conhecedor dos meandros, remete-se ao silêncio. Pudera!

 



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