da Administração Pública
Sem respostas não falta luta
Em Lisboa, na sexta-feira, dia 18, vários milhares de trabalhadores de praticamente todas as áreas da Administração Pública, vindos de todos os distritos do Continente e até das regiões autónomas, responderam ao apelo da Frente Comum de Sindicatos e participaram na manifestação que ligou o Marquês de Pombal ao Palácio de São Bento.
É preciso ouvir, negociar e concretizar medidas
Faixas de pano, cartazes, camisolas, bonés ou bandeiras permitiam identificar quem eram aqueles que tomaram a decisão de, mesmo debaixo de chuva, virem dar força à exigência de que o Governo, no Orçamento do Estado para 2017, tem de ir mais longe do que aquilo que colocou na proposta entregue no Parlamento: trabalhadores da administração local, da saúde, da educação, da justiça e da administração interna, de diversas regiões, concelhos e instituições, reclamando soluções para problemas específicos e reivindicando juntos o fim do congelamento dos salários e da progressão nas carreiras, a defesa e melhoria dos serviços públicos.
O tempo chuvoso, que só aliviou na parte final, foi vencido em persistência pelos muitos manifestantes que fizeram o percurso de cerca de hora e meia a gritar palavras de ordem, como «a luta continua nos serviços e na rua», «contenção salarial só interessa ao capital» ou «queremos estabilidade, fim à precariedade».
Se «cabe ao Governo, no quadro dos compromissos assumidos com o povo e com os partidos com assento parlamentar (PCP, BE e PEV), responder às dificuldades vividas pelos trabalhadores, resultantes de décadas de políticas de esbulho e ataque aos seus direitos», a estes «caberá sempre lutar pela defesa, cumprimento e conquista dos nossos direitos». A primeira afirmação da resolução da manifestação, aclamada no final do comício sindical junto à escadaria da Assembleia da República, marca uma posição de princípio, que tinha já sido abordada nas intervenções, em especial por Arménio Carlos.
O Secretário-geral da CGTP-IN lembrou que, há um ano, no mesmo local, tinha explicado a estratégia da Intersindical face ao novo Governo, dizendo que «Roma e Pavia não se fizeram num dia», o que significou disponibilidade para negociar e calendarizar medidas; mas as aspirações e reivindicações dos trabalhadores não poderiam torna-se numas «obras de Santa Engrácia». Agora, dirigindo-se ao Governo, apelou: «Ouçam os sindicatos da CGTP-IN, ouçam a Frente Comum, ouçam as reivindicações dos trabalhadores e, até ao final do mês de Novembro, sentem-se com a Frente Comum, negoceiem».
«Não estamos a dizer que tem de ser tudo concretizado no dia 1 de Janeiro de 2017, mas em relação aos salários e às carreiras, alguma coisa tem de ser feita para 2017», sublinhou Arménio Carlos. Os manifestantes aplaudiram e gritaram bem alto e repetidas vezes «A luta continua!».
Fazer diferente
Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum de Sindicatos, frisou que «o nosso compromisso é com os trabalhadores, não desarmamos e continuamos a lutar, como sempre fizemos», pois «não podemos continuar a pagar a factura das políticas de direita» à custa dos trabalhadores e dos serviços públicos. A dirigente registou que, «com o actual Governo, na presente correlação de forças na AR, há mais espaço para fazer uma política que dignifique os trabalhadores, com a reposição dos seus direitos», salientando que «só não será, se o Governo do PS não quiser».
Apontou «outras opções» que este pode agora assumir, em vez daquelas que «privilegiam os interesses dos grupos económicos e da banca»: respeitar o direito das populações a serviços públicos de qualidade; reverter o caminho da municipalização; contratar os trabalhadores necessários e resolver a infâmia da precariedade; reverter a situação de, nos mesmos serviços, estarem trabalhadores a trabalhar 40 horas e outros 35.
Remetendo para a proposta reivindicativa, entregue ao Governo para negociação, na resolução foram destacadas as principais exigências das mais de três dezenas de sindicatos da CGTP-IN e sem filiação em centrais que integram a Frente Comum. À cabeça, é colocada «a dignificação do estatuto sócio-profissional dos trabalhadores», onde se inclui o aumento real dos salários em quatro por cento (mínimo de 50 euros), o descongelamento das progressões nas posições remuneratórias, a reposição do valor do trabalho suplementar.
No final, ficou registada a mensagem que esta jornada comprovou não ser apenas de palavras: «Os trabalhadores e os aposentados continuarão a lutar pelos seus legítimos direitos, dinamizando e desenvolvendo todos os processos de luta imprescindíveis e inadiáveis em defesa das suas condições de vida e do direito constitucional das populações a serviços públicos de qualidade e às funções sociais do Estado»
Contem com o PCP
Jerónimo de Sousa, com uma delegação do PCP, esteve com os trabalhadores em luta nesta jornada. No final, em declarações aos jornalistas, observou que a manifestação não foi feita «para exigir qualquer direito novo», considerando que «repor salários e repor a evolução das carreiras é um objectivo de justiça incontornável, que nos leva a nós, comunistas, a ter uma profunda solidariedade para com essa luta e esse objectivo».
O Secretário-geral do Partido reafirmou que, «no quadro da discussão do Orçamento do Estado, tudo faremos para que isso seja concretizado, numa luta que pode com certeza ser prolongada, mas com uma convicção profunda de que estes trabalhadores, com a sua luta, com o seu empenhamento e com a nossa contribuição, um dia verão repostos esses direitos fundamentais».