Lobistas
Como é sabido, Durão Barroso foi presidente da Comissão Europeia durante 10 anos. Também é do domínio público que mister Durão Barroso, deixada a cadeira da presidência da CE, foi convidado para funções na Goldman Sachs, ao que se sabe, como presidente não executivo de operações e consultor internacional deste banco de investimento – reconhecido como um dos bancos mais envolvidos na crise da dívida grega.
Todos sabíamos já que o capitalismo nunca olhou a meios para atingir os seus fins. Também sabíamos que à medida que a exploração avança e a acumulação e concentração do capital atinge níveis desconcertantes, a promiscuidade entre poder político e poder económico passa a regra e o poder económico captura o poder político para levar mais longe esse processo.
Esta é a regra-base do funcionamento do sistema. Tanto faz que falemos de Durão Barroso, Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque e de tantos outros serventuários da política de direita que, aquém e além fronteiras, sem escrúpulos nem vergonha, saltam de cargos políticos para o mundo dos negócios (ou vice-versa) enquanto o diabo esfrega um olho, como diz o povo. O capitalismo é assim, por natureza, amoral, sem ética nem princípios.
É esta, e não outra, a razão por que não se entende que o presidente Juncker venha agora retirar ao pobre mister Durão Barroso o tratamento de VIP e outros privilégios (coitado, até a reforma) que o exercício do cargo e os bons serviços prestados lhe conferiram e o passe a considerar como lobista (que grande ingratidão!). E, para maior espanto (e maior ingratidão), parece que até Nuno Melo, em nome da transparência, não terá poupado elogios a tão justiceira medida de Juncker.
É espantoso o cinismo do grande capital. Age sempre como se os seus interesses obedecessem a uma espécie de imperativo universal em que a ordem, a moral e o bem comum fossem as traves-mestras do sistema.
Mister Barroso é, de facto, um lobista. Sempre pronto a servir o grande capital. Isso já todos o sabíamos mesmo nos tempos em que, no MRPP, dele dizia cobras e lagartos. Mas os que comandam a UE o que são senão lobistas, contra os interesses dos trabalhadores e dos povos, ao serviço do mesmo grande capital?
Transparência? Ao serviço de que lobby?