O centro do mundo
Num artigo sugestivamente titulado de «jornalismo panegírico e a economia dos factos» Francisco Louçã reagiu, indignado, a uma jornalista que se atreveu, a propósito da actual solução política, a questionar a entronização habitual com que a comunicação social brinda o BE. Com razão! Ousar retirar o Bloco do centro do universo mediático, duvidar sequer que é o sol que gira em torno deste é pura heresia, razão para acabar na fogueira do juízo político.
Deixemos de lado os incómodos do autor, tão mais legítimos quanto a raridade de textos não laudatórios do Bloco. Deixemos de lado a aparente distracção que leva Louçã a afirmar que nunca antes das eleições ouvira do PCP a ideia de que a luta dos trabalhadores ganhara expressão política traduzível na derrota eleitoral de PSD e CDS. Bastaria reavivar o que nos dois dias anteriores à eleição o Secretário-geral do PCP afirmou em comentário a sondagens, que dando o PSD à frente foram justamente lidas, para escândalo de alguns e incompreensão de muitos de mais, como retratando a derrota anunciada de PSD e CDS. Deixemos ainda de lado a curiosa acusação do conteúdo de «propaganda e política partidária» que identifica no artigo da citada jornalista. Fiquemos apenas pelo registo de que tendo o PCP dado a contribuição que deu para a derrota de PSD e CDS e da sua política o fez com plena convicção. Deste lado não há arrependimentos, jogos de cintura, reacertos de conjuntura, navegação conforme o vento. Se há os que depois de passarem a campanha eleitoral a defender um salário mínimo nacional de 600 euros no início de Janeiro de 2016 se apressaram, dois meses depois, a afirmar que essa exigência era «irresponsável» para justificar a subscrição com o PS do seu aumento faseado, encontrá-los-á no Bloco. Se há os que vêm agora repetir a reivindicação do PCP de aumentos reais para as pensões de reforma depois de terem subscrito com o PS a aceitação de que o seu aumento se restringiria à fórmula da lei de 2006 que impede esse objectivo, encontrá-los-á no Bloco. Se há os que três anos atrás anunciavam o caos e a desgraça com a saída de Portugal do euro e agora se apresentam mais defensores da saída do que aqueles que a sempre defenderam, encontrá-los-á por bem perto e na sua pessoa.