O mais importante

Albano Nunes

O im­pe­ri­a­lismo não tem as mãos li­vres

Em tempos de grande ins­ta­bi­li­dade e in­cer­teza, pe­rante a vi­o­lência da ofen­siva ex­plo­ra­dora e agres­siva do im­pe­ri­a­lismo e as imensas des­trui­ções e dramas hu­manos que pro­voca no Médio Ori­ente, Norte de África e nou­tros pontos do mundo; pe­rante o avanço do fas­cismo na Ucrânia e nou­tros países da Eu­ropa; pe­rante a contra-ofen­siva dos EUA e das oli­gar­quias lo­cais na Ve­ne­zuela, Brasil e ou­tros países da Amé­rica La­tina; pe­rante a cor­rida ar­ma­men­tista en­vol­vendo a gi­gan­tesca pro­vo­cação que re­pre­senta a ins­ta­lação dos sis­temas de mís­seis norte-ame­ri­canos nas fron­teiras da Fe­de­ração Russa e da China; pe­rante a per­ma­nente acção de de­sin­for­mação e di­versão ide­o­ló­gica da classe do­mi­nante, pode pa­recer que o re­tro­cesso so­cial e ci­vi­li­za­ci­onal que ameaça o mundo é im­pa­rável.

A ver­dade porém é que por toda a parte aos tra­ba­lha­dores e os povos re­sistem e lutam pelos seus in­te­resses e di­reitos e que, apesar de de­bi­li­dades ainda não su­pe­radas no mo­vi­mento co­mu­nista e na frente anti-im­pe­ri­a­lista, se têm ve­ri­fi­cado e con­ti­nu­arão a ve­ri­ficar-se co­ra­josas afir­ma­ções de so­be­rania e avanços li­ber­ta­dores. Foi o que acon­teceu na Amé­rica La­tina num pro­cesso de sen­tido pro­gres­sista e anti-im­pe­ri­a­lista que está hoje sob o fogo da re­ac­cção e do im­pe­ri­a­lismo mas que re­siste. É o que está a acon­tecer na Síria em ba­ta­lhas que podem ser de­ci­sivas para o fu­turo de toda a re­gião. É o muito que re­pre­sentam as lutas dos tra­ba­lha­dores, no­me­a­da­mente na Eu­ropa, contra a ex­plo­ração, a vi­tória na Grã-Bre­tanha do re­fe­rendo sobre a saída da União Eu­ro­peia ou as im­por­tantes mo­vi­men­ta­ções po­pu­lares contra o TTIP que estão a acirrar con­tra­di­ções na classe do­mi­nante dos dois lados do Atlân­tico e a criar sé­rias di­fi­cul­dades à sua con­clusão.

A tese do PCP de que vi­vemos um quadro in­ter­na­ci­onal em que grandes pe­rigos co­e­xistem com grandes po­ten­ci­a­li­dades de de­sen­vol­vi­mentos pro­gres­sistas e re­vo­lu­ci­o­ná­rios está a ser con­fir­mada cada dia. O im­pe­ri­a­lismo, que re­velou sur­pre­en­dente ca­pa­ci­dade de adap­tação e re­cu­pe­ração, é ainda po­de­roso e os sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios e agres­sivos apostam cres­cen­te­mente no fas­cismo e na guerra como meio para in­ten­si­ficar a ex­plo­ração, ex­pro­priar os povos das sua ri­quezas, des­truir forças pro­du­tivas em ex­cesso e res­ta­be­lecer pela vi­o­lência os ní­veis de apro­pri­ação de mais valia que a ine­xo­rável vi­gência da lei da baixa ten­den­cial da taxa de lucro cons­tan­te­mente mina. Mas o im­pe­ri­a­lismo não tem as mãos li­vres. En­contra pela frente a re­sis­tência e a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos de todos os con­ti­nentes e a acção de es­tados que não aceitam a nova ordem to­ta­li­tária que os EUA e os seu ali­ados da NATO e do G7 pre­tendem impor, tro­peça nas suas pró­prias di­fi­cul­dades e con­tra­di­ções (bem ní­tidas numa guerra eco­nó­mica que está a crescer entre grandes mul­ti­na­ci­o­nais e entre grandes po­tên­cias ca­pi­ta­listas) e, no quadro de uma crise es­tru­tural cada dia mais pro­funda, en­frenta uma crise cí­clica que já dura há oito anos e para a qual não en­contra saída.

Nunca como hoje o ideal e o pro­jecto co­mu­nista foram de tão gri­tante ac­tu­a­li­dade. Os pe­rigos e a du­reza da luta não devem obs­cu­recer esta re­a­li­dade. E tanto nos mo­mentos de avanço como de re­sis­tência e acu­mu­lação de forças como o ac­tual, o mais im­por­tante para a acção con­fi­ante e per­sis­tente dos co­mu­nistas é ter sempre bem pre­sente o ob­jec­tivo su­premo do Par­tido e a vi­a­bi­li­dade da sua re­a­li­zação como ne­ces­si­dade his­tó­rica que nasce das pró­prias con­tra­di­ções do ca­pi­ta­lismo e da exi­gência da sua su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária.



Mais artigos de: Opinião

Na Festa, o pulsar do mundo…

A Festa do Avante! cons­ti­tuiu uma va­liosa ma­ni­fes­tação de so­li­da­ri­e­dade anti-im­pe­ri­a­lista. A luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês é parte in­te­grante da luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos de todo o mundo.

 

Lobistas

Como é sabido, Durão Barroso foi presidente da Comissão Europeia durante 10 anos. Também é do domínio público que mister Durão Barroso, deixada a cadeira da presidência da CE, foi convidado para funções na Goldman Sachs, ao que se sabe, como...

O centro do mundo

Num artigo sugestivamente titulado de «jornalismo panegírico e a economia dos factos» Francisco Louçã reagiu, indignado, a uma jornalista que se atreveu, a propósito da actual solução política, a questionar a entronização habitual com que a...

Sanções e dominação

Merece a pena reflectir sobre o significado da política de sanções na natureza da UE. Uma entidade insuspeita, o Conselho Europeu de Relações Internacionais (European Council on Foreign Relations, ecfr.ue), explicita a questão de forma lapidar: «A arma preferencial da...

Pena máxima

Cumprindo o «circuito da carne assada», Passos Coelho escolheu a Freguesia de Fermentelos para borbulhar o raciocínio de que «a multiplicação de cimeiras, de grupos de países dentro da União Europeia, não é propriamente um bom sinal». O...