Burburinhos

Henrique Custódio

A exigência de inquérito à CGD por parte do PSD de Passos Coelho diz mais do proponente que do proposto.

Este homem (e este partido à sua dimensão) que, durante mais de quatro anos de governação, falou regular e displicentemente da «privatização da Caixa», mostrando pelo banco público português um irreprimível desprezo, se não mesmo asco (o termo «público» segrega-lhe azias), surge repentinamente preocupado com a CGD.

Este homem, que em mais de quatro anos de governação usou e abusou da Caixa como todos os governos que o antecederam, nomeadamente para tapar crateras que iam aluindo no sector bancário privado e por conluios governamentais directos, quer hoje pedir contas sobre o banco público.

Este homem, que está mergulhado até ao pescoço no descalabro do BANIF, onde atropelou deliberadamente as «recomendações» de Bruxelas (ora vejam!) ao longo do seu governo – que exigiam a clarificação do banco –, decidindo, ao invés, «capitalizá-lo» com mais 900 milhões de euros públicos para tropelias financeiras que levaram o BANIF ao charco, vem agora distrair as atenções com inquéritos à CGD.

Este homem, durante o seu governo consentiu a total liberdade de movimentos ao «dono disto tudo», Ricardo Salgado, dando origem a uma fraude bancária homérica que confluiria na extinção do Banco Espírito Santo e do Grupo Espírito Santo e deixou uma esteira de lesados inacreditável, além de um abalo telúrico no sistema financeiro português, entende «ser um direito do PSD» (como disse no Brasil) exigir um inquérito à CGD.

Este homem, que já ganhou lugar na História como predador do regime democrático português – onde fez uma governação ultramontana de restauracionismo capitalista –, enquanto encabeçou um partido que (como todos sabemos) tem a ver com os predadores da banca portuguesa, ousa o desplante de pedir contas à CGD que, recorde-se, várias vezes brandiu como ameaça (que só não concretizou, privatizando-a, porque, apesar de tudo, não teve força para isso), tem o descaramento de exigir inquéritos ao banco público, em exclusiva manha e aproveitamento políticos, o que mostra o patriotismo da criatura, por muita bandeira nacional que ponha à lapela.

Este homem, que agora até coreografa «poses de Estado» no Brasil, sempre de bandeirinha e rodeado por uma dúzia de espertalhões a fingir que são um «público», não consegue disfarçar a sua antiga sanha na liquidação do banco público português, consciente da importância que ele teve e tem – mesmo com todos os abusos nele praticados por sucessivos governos – para o desenvolvimento económico do País.

É isso que lhe dói e que esconde. Além de se esconder atrás do burburinho.




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