Perspectiva

Manuel Gouveia

Era um debate sobre «Privatizações e Precariedade». O diagnóstico, esmagador: dezenas de milhares de postos de trabalho precarizados, com a redução do preço da força de trabalho e a total desorganização da vida dos trabalhadores. Choviam os exemplos: da PT, da EDP, da GALP, dos Transportes. Sempre o mesmo padrão: muitos perdiam – trabalhadores dos sectores privatizados, utentes ou clientes das empresas, economia nacional em geral – para que uns poucos ganhassem – as multinacionais, meia dúzia de capitalistas portugueses e uns milhares dos seus lacaios.

Até que um camarada coloca a questão que paralisa tão boa gente: «estamos todos de acordo com o diagnóstico, mas qual a solução? Nós precisamos é de soluções!»

Logo outro camarada ajudou: a solução para as privatizações é a nacionalização, é o retomar para o pleno controlo público desses sectores estratégicos para a economia, e fazer deles sectores estruturantes de uma realidade laboral assente no trabalho com direitos. Pode parecer difícil projectar agora a nacionalização da EDP, da GALP, da ANA ou da CP Carga, mas essa é a solução. O que precisamos é de percorrer o caminho, de resistência, unidade e luta. Um caminho que não pode ser desligado do objectivo que queremos atingir, e que tem que ser percorrido através de todas as etapas e fases que o processo histórico nos impuser.

Estamos sempre, uma e outra vez, a chocar com as mesmas questões. Mas quando se perde de vista o caminho e o objectivo, paralisa-se, ou, ainda pior, rende-se e trai-se. É isso a perspectiva, a perspectiva a que chamamos revolucionária para se perceber melhor que é perspectiva histórica.

No caso, a luta contra a precariedade nas empresas privatizadas implica resistir em todas as frentes: face ao patronato, impor limites com a contratação colectiva; nos tribunais, para fazer aplicar as leis que ainda limitam a exploração; face ao poder legislativo, para alterar essas leis e esses limites; face ao poder executivo, para sair da cumplicidade com o grande capital. Mas sempre dando prioridade a que no processo a própria classe tome plena consciência do caminho e da solução, e se organize para o conquistar.

É por debates destes que crescemos no Partido.

 



Mais artigos de: Opinião

Tá bem, abelha

O ensino público universal e gratuito em todos os seus graus é um imperativo constitucional fundador, enformando um dos alicerces do Portugal democrático saído da Revolução de Abril. Discutir isto é um linear acto antidemocrático e deve ser tratado como tal. O...

Venezuela

Todas as grandes operações de desestabilização realizadas pelo imperialismo foram antecipadas e acompanhadas por campanhas de desinformação e manipulação, com as quais procura ocultar os seus reais objectivos e acção, assim como descredibilizar e...

Causa ou ataque ao PCP?

No dia 13 de Maio a Assembleia da República aprovou o projecto de lei do BE que regula o acesso à gestação de substituição. O PCP votou contra e justificou a sua posição pelas dúvidas e preocupações, complexidades e especificidades que esta...

Manipulação

Os povos da América Latina estão a ser alvo de uma agressão económica, política e mediática do grande capital e do imperialismo. Venezuela e Brasil são dois dos principais alvos. A direita fascista e golpista, o poder judicial corrupto, os grupos económicos...

O assalto do céu

A Comuna de Paris ocupa um lugar de primeiro plano na história do movimento operário e comunista internacional, pois se trata da primeira vez que o proletariado se lançou à conquista do poder e o exerceu, embora por um curto período de tempo, de 18 de de Março a 28 de Maio de 1871.