Perspectiva
Era um debate sobre «Privatizações e Precariedade». O diagnóstico, esmagador: dezenas de milhares de postos de trabalho precarizados, com a redução do preço da força de trabalho e a total desorganização da vida dos trabalhadores. Choviam os exemplos: da PT, da EDP, da GALP, dos Transportes. Sempre o mesmo padrão: muitos perdiam – trabalhadores dos sectores privatizados, utentes ou clientes das empresas, economia nacional em geral – para que uns poucos ganhassem – as multinacionais, meia dúzia de capitalistas portugueses e uns milhares dos seus lacaios.
Até que um camarada coloca a questão que paralisa tão boa gente: «estamos todos de acordo com o diagnóstico, mas qual a solução? Nós precisamos é de soluções!»
Logo outro camarada ajudou: a solução para as privatizações é a nacionalização, é o retomar para o pleno controlo público desses sectores estratégicos para a economia, e fazer deles sectores estruturantes de uma realidade laboral assente no trabalho com direitos. Pode parecer difícil projectar agora a nacionalização da EDP, da GALP, da ANA ou da CP Carga, mas essa é a solução. O que precisamos é de percorrer o caminho, de resistência, unidade e luta. Um caminho que não pode ser desligado do objectivo que queremos atingir, e que tem que ser percorrido através de todas as etapas e fases que o processo histórico nos impuser.
Estamos sempre, uma e outra vez, a chocar com as mesmas questões. Mas quando se perde de vista o caminho e o objectivo, paralisa-se, ou, ainda pior, rende-se e trai-se. É isso a perspectiva, a perspectiva a que chamamos revolucionária para se perceber melhor que é perspectiva histórica.
No caso, a luta contra a precariedade nas empresas privatizadas implica resistir em todas as frentes: face ao patronato, impor limites com a contratação colectiva; nos tribunais, para fazer aplicar as leis que ainda limitam a exploração; face ao poder legislativo, para alterar essas leis e esses limites; face ao poder executivo, para sair da cumplicidade com o grande capital. Mas sempre dando prioridade a que no processo a própria classe tome plena consciência do caminho e da solução, e se organize para o conquistar.
É por debates destes que crescemos no Partido.