Sensacional alienação mediática
Os últimos dias foram marcados pela discussão e votação do Orçamento do Estado para 2016, após longas semanas de especulação mediática sobre o seu conteúdo e as geometrias parlamentares que permitiriam a sua viabilização. Na sua maioria, os órgãos de comunicação social foram dando espaço aos mesmos especialistas e comentadores que elogiaram cada vírgula dos orçamentos apresentados pelo governo anterior, para servirem de caixa de ressonância das exigências das instituições europeias, das agências de rating, do patronato, da banca e dos grandes grupos económicos de mais cortes nos salários e direitos dos trabalhadores. Este é um orçamento diferente do que seria se o PSD/CDS continuassem no governo. Mas é sintomático que estas mesmas figuras dissessem, antes, que tudo estava bem, mesmo quando as mesmas instituições europeias e agências de rating faziam ameaças e chantagens a anteriores orçamentos, com o resultado que tão bem conhecemos: mais exploração, mais empobrecimento, menos soberania.
Mas os últimos dias representaram uma alteração de fundo no alinhamento mediático. À medida que se foram clarificando as posições de cada uma das forças políticas, as atenções foram-se desviando e as tragédias ou os julgamentos de figuras públicas foram tomando as aberturas dos noticiários e as capas dos jornais. Tudo a contribuir para retirar espaço público à opinião de quem, como o PCP, se empenhou no contributo para uma viragem na vida política nacional. O que parece verdadeiramente incomodar os donos dos media é, não só a viragem, mas particularmente esse contributo dado pelo PCP.
A televisão pública, ao contrário do que se exige de forma muito particular, tem faltado ao rigor, isenção e independência, contribuindo mais para a defesa das posições do grande capital e para afastar a discussão dos problemas dos portugueses. No próprio dia em que se discutia o Orçamento do Estado na Assembleia da República, a RTP dedicou a noite a um frente-a-frente entre António Guterres e Durão Barroso sobre o estado do Mundo, remetendo o tema do OE para a RTP3, no cabo.
O desvio das atenções mediáticas para outros assuntos não é inocente. Os órgãos de comunicação social têm de assumir o papel que lhes cabe de esclarecimento sobre as questões centrais para a vida dos portugueses e não servir apenas para repetir as ameaças sobre a nossa soberania e sobre a possibilidade de adopção de políticas que rompam com ciclo político anterior. E é muito menos compreensível que, no momento em que cada um assume as suas responsabilidades, façam de conta que nada se passa, que o sensacionalismo se sobreponha às suas obrigações perante a sociedade. O crime, os julgamentos precipitados e os directos vazios e intermináveis contribuem para a alienação dos problemas do País e da discussão necessária para a sua solução.
Mas este poder discricionário e prepotente, revestido de critério editorial, de quem manda nos media esbarrará sempre na força e na capacidade de mobilização e esclarecimento de todos aqueles que querem para o País uma política alternativa, a política patriótica e de esquerda que o PCP propõe.