É preciso mudar a política de saúde
O PCP voltou a sublinhar a necessidade de reforçar o investimento no Serviço Nacional de Saúde, dotando-o dos recursos humanos, materiais e financeiros que garantam a prestação de cuidados de saúde de qualidade.
Há que reforçar o SNS em recursos humanos, materiais e financeiros
Trata-se de contratar profissionais hoje comprovadamente em falta, «valorizando-os social e profissionalmente, integrando-os nas carreiras e promovendo a estabilidade laboral», especificou no Parlamento o deputado comunista João Ramos, que defendeu simultaneamente o reforço dos cuidados de saúde primários através da reabertura dos centros e extensões de saúde encerrados nos últimos anos.
Só através dessa mudança de orientação será possível pôr termo à política que, como até aqui, tem impedido milhares de portugueses de acederem aos cuidados de saúde, tem «procurado poupar à custa da vida dos portugueses», salientou o parlamentar do PCP, dia 6, numa declaração política proferida em nome sua bancada, de onde ressaltou de novo a exigência de soluções para os graves problemas no SNS.
Problemas que levam a que haja doentes que morrem por falta de assistência, por não conseguirem aceder aos cuidados de que carecem, mas também de doentes que «morrem dentro dos hospitais porque não são assistidos convenientemente ou em tempo útil».
Disso mesmo é testemunho o caso do jovem que muito recentemente perdeu a vida no Hospital de S. José, em Lisboa, porque «teve o azar de ter um aneurisma a um fim-de-semana e nesse período não havia equipa de neurocirurgia de serviço», como observou João Ramos, salientando que tal ausência de profissionais teve por base a decisão do governo anterior de «cortar no valor pago nas horas de qualidade e de prevenção».
Desmantelar
Um caso dramático que, lamentavelmente, está longe de ser uma excepção, havendo a registar pelo menos outros cinco com igual desfecho, sublinhou o parlamentar comunista, esclarecendo que a estes casos mais mediatizados importa acrescentar «tantos outros como os que vão dando conta de urgências saturadas e em ruptura».
E a este propósito não deixou passar sem reparo o facto de num ano climatericamente atípico, ainda sem ocorrência de picos de baixas temperaturas, ter havido já períodos de espera nas urgências que chegam às 12 horas.
Rupturas que João Ramos atribuiu à carência de profissionais e à redução de outros recursos, como seja o número de camas, que foi reduzido no SNS pelo anterior governo em mais de 900, sob o argumento de que eram supérfluas, isto enquanto novas camas eram abertas no privado.
Em síntese, para o PCP, na base de todos estes problemas está uma política que, agravada de modo particular pelo PSD e CDS nestes últimos anos, apostou no emagrecimento do SNS, subfinanciando-o, desmantelando-o, desinvestindo e desvalorizando os seus profissionais.
E dessa forma, com a fragilização e destruição do SNS, esteve-se a contribuir para a morte precoce de muitos portugueses, como tantas vezes o PCP denunciou. A realidade veio comprová-lo e dar-lhe razão.
É por isso a hora, «agora que o governo mudou», como frisou João Ramos, de chegar também a «mudança de políticas». É isso que exigem os portugueses.
Silenciar é que não!
Em resposta ao deputado Miguel Santos (PSD), que vira na intervenção do PCP um sinal de «desrespeito» pela família do jovem recentemente falecido no Hospital de S. José – um discurso que «instrumentaliza e aproveita a desgraça alheia», chegou a dizer o deputado laranja –, João Ramos começou por esclarecer que o balanço trágico da insuficiente resposta do SNS não se fica apenas pela morte de um mas, infelizmente, de vários cidadãos.
E recusando qualquer tentativa de instrumentalização, o deputado do PCP lembrou que essa acusação injuriosa já ocorrera anteriormente – como por exemplo no caso da terapêutica para os doentes com hepatite C –, assinalando que se não fosse a firme denúncia feita no momento próprio o problema não teria sido resolvido.
Sublinhou por isso que respeitar as famílias «não é silenciar o que aconteceu», bem pelo contrário, «é apurar responsabilidades políticas por aquilo que aconteceu». «Isso é que é respeitar as famílias», enfatizou, antes de acusar PSD e CDS de não quererem que tais responsabilidades sejam apuradas.
E se a situação ocorrida no Hospital de S. José não é comprovadamente única, não é menos verdade que há registo de uma série de outras unidades hospitalares onde se têm verificado problemas e que mostram a falta de resposta do SNS. Unidades onde os tempos de espera chegam a ser superiores a 12 horas, onde os tempos de triagem chegam a ser superiores a uma hora, onde há falta de camas, e que chegam a pedir para não lhes serem transferidos doentes por incapacidade de resposta, exemplificou o deputado do PCP. E tudo isto, concluiu, «por opção do governo PSD/CDS, que quis criar um SNS a duas velocidades: um serviço público, descaracterizado, com poucos recursos, para os mais pobres; um serviço privado, para onde são transferidos milhões, destinado àqueles que podem pagar».
Agir é preciso
No mesmo dia em que fez da situação na área da Saúde tema da sua declaração política, o PCP viu aprovado pela comissão parlamentar de Saúde o seu requerimento para que sejam ouvidos no Parlamento os membros dos conselhos de administração hospitalar que se demitiram na sequência do caso do jovem falecido no Hospital de S. José, bem como o titular da pasta da Saúde.
Acompanhando de perto os problemas resultantes da política de desvalorização do SNS levada a cabo pelo anterior governo, a bancada comunista não se ficou por esta diligência e apresentou também um diploma onde se recomenda ao Governo que proceda à identificação, em todas as áreas, das «consequências das políticas de desinvestimento público e de sucessivos cortes orçamentais no SNS.