Algo vai mal...

Henrique Custódio

Desde que a Banca foi privatizada, que se entrou num vórtice, onde as falências do BPN, BPP, BES e BANIF foram avisos da vertigem em que, desde há décadas, mergulhou o sistema financeiro português.

A reapropriação das alavancas do poder na Banca pelos grandes grupos económicos impôs-se em 20 e tal anos no País e manietou a sua economia, numa asfixia de jibóia. Um dia far-se-ão balanços dos conluios, que envolvem banqueiros, empresas e administradores, escritórios de advogados e grupos económicos, dirigentes políticos e governações locais, regionais e nacionais, partidos políticos e aparelho de Estado, políticos, empresários, técnicos e «especialistas» a granel para, em cada novo ano, apertar mais um anel na constricção sobre o País.

A argumentação para as privatizações na Banca assentava numa curiosa permissa (que hoje está completamente silenciada, claro): a de que a gestão privada dos bancos era «infinitamente mais eficaz» do que a gestão pública (o mesmo se aplicando, aliás, às grandes empresas nacionalizadas que se queria privatizar).

Vê-se. A começar no BPP e, sobretudo, no BPN, onde uma cambulhada de «quadros» dos governos cavaquistas e adjacências se travestiram de «banqueiros», entrando a dilapidar cabedais imensos e a transformar as regras do negócio bancário numa despudorada teia de vigarices disfarçadas de «negócios» para proveito próprio que, a coberto da nacionalização dos prejuízos «para salvar a instituição», arruinaria o Estado (e o povo português) com nova dívida, que orça entre os sete mil e os dez mil milhões de euros (ao certo ninguém sabe).

Todavia, as entidades reguladoras oficiais (Banco de Portugal e Mercado de Valores), tal como a presidencial figura de Cavaco Silva ou a governamental dupla PSD/CDS foram sempre garantindo a idoneidade das instituições bancárias, que avalisavam com «testes de stress» que, por seu lado, eram executados por instituições bancárias europeias cujas, no entretanto, nada viam de errado na banqueiral vida lusitana.

E eis que rebenta o BES – considerado o «maior banco privado português» -, a administração de Ricardo Salgado é finalmente demitida, mas não sem antes ter causado, na inacreditável hesitação de alguns meses em demiti-la, o que dizem ser o grosso dos prejuízos.

E eis que sobre a escandaleira do «BES-bom e BES-mau» - drama que se desenrola desde meados do ano passado - o Governo Passos/Portas escondeu a derrocada do BANIF (que esteve «sumida» desde há três anos), outro «golpe no Tesouro» que já vai em quase cinco mil milhões de euros.

Em resumo: nestas quatro falências, os portugueses já se fartaram de ver a «eficiência de gestão dos privados» e já desembolsaram quase o equivalente à dívida do País «aos credores».

Algo vai muito mal, no Reino da Dinamarca...




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