Fascismo abate-se sobre a Ucrânia

Kiev ilegaliza Partido Comunista

O re­gime ucra­niano pro­cura afastar a única força que luta contra a trans­for­mação do país numa co­lónia do im­pe­ri­a­lismo, as po­lí­ticas an­ti­po­pu­lares, a re­visão da his­tória e a glo­ri­fi­cação e reim­po­sição do nazi-fas­cismo, acusa o Par­tido Co­mu­nista da Ucrânia (PCU).

O re­gime proíbe o PCU porque é o único que se lhe opõe

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Em duas notas di­vul­gadas no final da se­mana pas­sada, o PCU in­forma que o Tri­bunal Ad­mi­nis­tra­tivo Dis­trital de Kiev (TADK) de­cidiu banir o par­tido de­pois de a ins­tância ju­di­cial de ape­lação ter re­jei­tado os re­cursos apre­sen­tados contra pro­cessos in­ter­postos pelo Mi­nis­tério da Jus­tiça. Ficou, assim, aberto o ca­minho para que a pri­meira ins­tância, em­bora con­tra­ri­ando a le­gis­lação ucra­niana e as normas in­ter­na­ci­o­nais, aco­lhesse horas de­pois a so­li­ci­tação do re­gime para a proi­bição da or­ga­ni­zação co­mu­nista.

«A pri­meira acção ju­di­cial contra o PCU foi ajui­zada pelo Mi­nis­tério da Jus­tiça em Julho de 2014», mas «o caso fa­lhou porque todas as cha­madas “evi­dên­cias” de ac­ti­vi­dade ilegal foram gros­sei­ra­mente ma­ni­pu­ladas», for­çando o juiz Va­lery Kuz­menko a re­cusar o pro­cesso con­si­de­rando-o «po­li­ti­ca­mente mo­ti­vado». Kuz­menko também pediu es­cusa, ini­ci­a­tiva que foi se­guida por ou­tros ma­gis­trados do TADK, le­vando o go­verno ne­o­fas­cista a trans­ferir o caso para outro tri­bunal sem ju­ris­dição para tal, bem como a ini­ciar uma vaga per­se­cu­tória contra os ma­gis­trados que in­vo­caram ne­ces­si­dade de dis­pensa.

No início de 2015, o par­la­mento de Kiev aprovou um pa­cote le­gis­la­tivo com o ob­jec­tivo de «des­co­mu­nizar» a Ucrânia. O con­junto de normas en­trou pos­te­ri­or­mente em vigor pese em­bora vi­olem «a ac­tual Cons­ti­tuição, o di­reito in­ter­na­ci­onal, a De­cla­ração Uni­versal dos Di­reitos Hu­manos, a Con­venção Eu­ro­peia para a Pro­tecção dos Di­reitos do Homem e das Li­ber­dades Fun­da­men­tais ou as con­clu­sões da Co­missão de Ve­neza [órgão con­sul­tivo do Con­selho da Eu­ropa sobre ques­tões cons­ti­tu­ci­o­nais]», ex­plica ainda o PCU, que su­blinha, em se­guida, que «por es­tranha coin­ci­dência e “ca­pri­chos” do sis­tema elec­tró­nico de dis­tri­buição de casos entre os juízes», o pro­cesso contra o PCU «foi “aci­den­tal­mente”» dis­tri­buído, de novo, ao juiz Kuz­menko.

Kuz­menko en­fren­tava então um pro­cesso penal de­vido ao pe­dido de es­cusa, foi mo­bi­li­zado para a zona de con­flito ar­mado no Leste da Ucrânia e, já este ano, «proibiu dois ou­tros par­tidos co­mu­nistas», de­talha-se nos textos.

O re­gime vas­salo do im­pe­ri­a­lismo in­siste que o PCU tem de re­nun­ciar aos seu nome, sím­bolos e ide­o­logia co­mu­nista e, nesse pro­pó­sito, obs­ta­cu­lizou a ava­li­ação e dis­cussão pú­blica sobre as cha­madas leis da «des­co­mu­ni­zação» e os factos im­pu­tados ao PCU. Forçou também o TADK a tomar a de­cisão agora co­nhe­cida mesmo antes de sobre o pa­cote le­gis­la­tivo an­ti­co­mu­nista se pro­nun­ciar a Co­missão de Ve­neza, o que es­tava pre­visto para o dia 18 de De­zembro.

«Ob­vi­a­mente que o tri­bunal foi em­pur­rado para uma de­cisão», tanto mais que «di­fi­cil­mente o ve­re­dicto [da Co­missão de Ve­neza] seria fa­vo­rável ao go­verno da Ucrânia», acres­centa o PCU, para quem, «nestas cir­cuns­tân­cias é im­pos­sível falar de im­par­ci­a­li­dade e ob­jec­ti­vi­dade» da Jus­tiça.


Pre­ce­dentes contra re­gime ucra­niano

In­sis­tindo na par­ci­a­li­dade e na vi­o­lação de «di­reitos hu­manos e li­ber­dades fun­da­men­tais, assim como de ga­ran­tias pro­ces­suais», o Par­tido Co­mu­nista da Ucrânia de­talha que «todas as ac­ções do Es­tado para o proibir são ba­se­adas nas leis de «des­co­mu­ni­zação», sa­li­en­tando que tendo a Ucrânia «em­pre­en­dido uma série de obri­ga­ções po­lí­ticas e le­gais para com a União Eu­ro­peia», avança com normas de proi­bição da ide­o­logia e sím­bolos co­mu­nistas, in­cluindo aqueles do pe­ríodo so­vié­tico, «abo­lidas por todos os países avan­çados da UE».

O PCU re­corda, em se­guida, uma série de ini­ci­a­tivas com o mesmo ob­jec­tivo que fa­lharam nos úl­timos dez anos: em 2005, a Co­missão Eu­ro­peia vetou a pre­tensão de ex-re­pú­blicas so­ci­a­listas mem­bros da UE de ba­nirem os sím­bolos co­mu­nistas; em 2009, o Par­la­mento Eu­ropeu adoptou uma re­so­lução de re­púdio ao to­ta­li­ta­rismo mas não men­ciona nada sobre a sim­bo­logia co­mu­nista; em 2010, por so­li­ci­tação da Bul­gária, Re­pú­blica Checa, Hun­gria, Le­tónia, Li­tuânia e Ro­ménia, a Co­missão Eu­ro­peia apre­ciou e re­cusou a im­po­sição de san­ções pe­nais contra a apro­vação, ne­gação ou su­bes­ti­mação do «pe­rigo co­mu­nista».

No mesmo sen­tido, re­lembra igual­mente o PCU, por di­versas vezes entre 2006 e 2012, o Tri­bunal Eu­ropeu dos Di­reitos Hu­manos con­si­derou le­gais o uso de sím­bolos po­lí­ticos, e em 2013 a Co­missão de Ve­neza e a Or­ga­ni­zação para a Se­gu­rança e Co­o­pe­ração Eu­ro­peia con­cluíram contra a proi­bição do Par­tido Co­mu­nista da Mol­dávia, de­ter­mi­nada por uma fi­gu­rino legal se­me­lhante ao agora im­posto na Ucrânia.

Neste con­texto, o PCU con­clui que o re­gime visa proibir o PCU porque é o único que ver­da­dei­ra­mente se opõe «à trans­for­mação da Ucrânia numa co­lónia, à po­lí­tica so­cial de “ge­no­cídio” im­posta pelo FMI, ao con­ge­la­mento de sa­lá­rios e pen­sões, ao au­mento das ta­rifas [de ser­viços pú­blicos e fun­ções so­ciais do Es­tado], ao roubo e cor­rupção que au­men­taram sig­ni­fi­ca­ti­va­mente de­pois dos ca­pangas do De­par­ta­mento de Es­tado [dos EUA] terem che­gado ao poder; e porque, «em favor da ver­dade his­tó­rica e contra o fas­cismo», re­jeita que «co­la­bo­ra­ci­o­nistas de Hi­tler se trans­formem em “he­róis” e se in­sulte a me­mória dos sol­dados do Exér­cito Ver­melho».

 

Bre­viário

  • A «co­missão in­de­pen­dente» que reuniu «provas» contra o PCU é com­posta por fun­ci­o­ná­rios do Mi­nis­tério da Jus­tiça. O Par­tido Co­mu­nista não foi in­for­mado da sessão da «co­missão», os seus pe­didos de in­di­cação dos «crimes con­cretos» con­tidos no seu Pro­grama e Es­ta­tutos nunca foram res­pon­didos, e nem a de­cisão da «co­missão» nem o acórdão ju­di­cial se re­ferem com um mí­nimo de de­talhe a qual­quer das vi­o­la­ções in­vo­cadas;

  • Em Fe­ve­reiro, a po­lícia in­vadiu o es­cri­tório do juiz Va­lery Kuz­menko e apre­endeu di­versos ma­te­riais;

  • Em Abril, o par­la­mento ucra­niano aprovou uma lei que equi­parou o co­mu­nismo e o na­zismo, que proíbe ambos os re­gimes e todos os seus sím­bolos, bem como outra lei que re­co­nhece ofi­ci­al­mente os na­ci­o­na­listas ucra­ni­anos como «com­ba­tentes da li­ber­dade«, in­cluindo os mem­bros da Or­ga­ni­zação dos Na­ci­o­na­listas Ucra­ni­anos (OUN) e do Exér­cito Ucra­niano In­sur­gente (UPA), os quais co­la­bo­raram com os in­va­sores e ocu­pantes nazis;

  • Em Maio, o pre­si­dente Petro Po­ro­chenko pro­mulgou a lei de «des­co­mu­ni­zação» e em Junho o mi­nistro da Jus­tiça de­cretou a proi­bição de todos os par­tidos co­mu­nistas par­ti­ci­parem em elei­ções, o que foi apli­cado no su­frágio local ocor­rido no pas­sado dia 25 de Ou­tubro;

  

PCP con­dena de­cisão
e apela à so­li­da­ri­e­dade

Re­a­gindo à proi­bição do Par­tido Co­mu­nista da Ucrânia, o ga­bi­nete de im­prensa do PCP di­vulgou uma nota na qual o Par­tido «ex­pressa o mais firme re­púdio pela de­cisão do Tri­bunal Ad­mi­nis­tra­tivo de Kiev» e so­li­da­riza-se «com os mi­li­tantes e sim­pa­ti­zantes do PCU e todas as forças de­mo­crá­ticas e an­ti­fas­cistas que neste País re­sistem ao cri­mi­noso e de­sas­troso rumo do poder oli­gár­quico, re­sul­tante do golpe de Es­tado de Fe­ve­reiro de 2014».

«A ina­cei­tável e ar­bi­trária de­cisão agora anun­ciada in­sere-se na vasta cam­panha em curso na Ucrânia com vista a proibir a ide­o­logia co­mu­nista, facto que vem con­firmar a de­riva anti-de­mo­crá­tica neste País. Neste sen­tido, cons­ti­tuem igual­mente mo­tivo da maior pre­o­cu­pação a cam­panha de re­es­crita da his­tória, bran­que­a­mento dos crimes das forças co­la­bo­ra­ci­o­nistas com o ocu­pante nazi na II Guerra Mun­dial e a pro­moção de forças pa­ra­mi­li­tares de perfil ne­o­nazi», sa­li­enta ainda o PCP.

«A com­pla­cência e co­ni­vência da União Eu­ro­peia, dos EUA e da NATO para com o ac­tual poder de Kiev e a de­riva fas­ci­zante na Ucrânia cons­titui um facto da maior gra­vi­dade«, acusa igual­mente o Par­tido, que, «ape­lando à so­li­da­ri­e­dade dos de­mo­cratas pe­rante a frontal vi­o­lação e re­pressão dos di­reitos e li­ber­dades fun­da­men­tais na Ucrânia», não deixa de ma­ni­festar «con­fi­ança de que as justas as­pi­ra­ções à paz e jus­tiça, e a luta or­ga­ni­zada em de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo ucra­ni­anos aca­barão por se impor e travar o passo à agenda das forças re­tró­gradas que hoje des­prezam a dig­ni­dade e a so­be­rania da Ucrânia».


«De­mo­crá­tica» Ucrânia
no re­gaço da UE

No mesmo dia em que um tri­bunal de­cre­tava a le­ga­li­dade da proi­bição do Par­tido Co­mu­nista da Ucrânia, o pre­si­dente do re­gime gol­pista de Kiev ga­rantia, em Bru­xelas, a en­trada em vigor, a 1 de Ja­neiro, do acordo de co­mércio livre com a UE.

Ao lado do pre­si­dente do Con­selho Eu­ropeu, Do­nald Tusk, e do pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia, Jean-Claude Juncker, Petro Por­chenko as­se­gurou que o país «está pronto a pagar o preço» pela «nossa li­ber­dade e pela nossa es­colha eu­ro­peia». Po­ro­chenko aludia à sus­pensão por parte da Rússia, igual­mente com efeito a partir do pri­meiro dia do pró­ximo ano, de um tra­tado se­me­lhante subs­crito em 2011 entre Mos­covo e Kiev.

Do­nald Tusk, por seu lado, saudou os es­forços da Ucrânia de «apro­xi­mação à Eu­ropa» e con­si­derou que «a Ucrânia deve manter o ca­minho das re­formas. E a Rússia deve mudar o seu ca­minho». Jean-Claude Junker, no es­pí­rito de­mo­crá­tico rei­nante, sen­ten­ciou que o acordo entre a UE e a Ucrânia «en­trará em vigor e não pode ser al­te­rado, nem di­reta nem in­di­re­ta­mente».

 



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