Agarrado ao passado
João Salgueiro, um dos eleitos da bem escrutinada escolha da elite económica que Cavaco Silva quis coleccionar para lhe dizerem o que ele queria ouvir, inconformado pelo limitado eco do que da conversa entre ambos transpirou decidiu pôr a boca no trombone por via de um dos jornais económicos cá da terra.
Não fossem as sua ideias ser tomadas pelo que não são, o ex- secretário de Estado do fascismo, reconvertido após o 25 de Abril ao PSD do qual foi ministro das Finanças e do Estado, tratou de pôr tudo em pratos limpos. Para Salgueiro tudo que não seja manter o rumo de desastre que o seu partido impôs nos últimos anos ao País mas do qual só vê virtudes, incluindo o que delirantemente classifica de forte renegociação da dívida, só pode redundar em desastre.
Os argumentos são conhecidos: da indisposição dos mercados, à ira das agências de rating, passando pela desconfiança do que designa de investimento estrangeiro tudo o que antevê é apocalíptico. Até o que classifica de perigo real de aumento da carga fiscal, Salgueiro consegue trazer para o seu argumentário, presumindo-se que não tenha dado conta do que nessa matéria se impôs pela mão de um governo do seu agrado. Talvez pela força de quinze anos à frente da União de Bancos Portugueses, a personagem citada pouco mais enxerga para lá dos interesses do capital financeiro. Para ele o aumento do consumo dos portugueses (versão mais académica da tese de viver acima das possibilidades) só pode significar mais défice. Conhecida que é a sua cumplicidade em décadas de destruição da produção nacional que asseguraria, a ser invertida, que o consumo não se traduza em mais importações, só se pode concluir que o que Salgueiro ambiciona mesmo é um modelo de país assente na pobreza com os portugueses, e os trabalhadores em particular, condenados à exploração. Presume-se pois que João Salgueiro queira que o País e os portugueses estejam para os mercados como ele está para os interesses do capital que representa, ou seja no papel de marionetas. Ambição que fica por cumprir, para desagrado do ilustre economista e representante do grande capital, pelo simples facto de o povo português não abdicar de viver com dignidade num País soberano e independente.