Soberania e dignidade
Reagindo às palavras da ministra das Finanças e da deputada Elsa cordeiro (PSD), que reproduziram no essencial aquela que tem sido a tónica da propaganda do Governo, fazendo um discurso apologético da sua acção – o salvador in extremis de o «País cair na bancarrota em que o metera o PS», que fez «regressar o crescimento», fez «aumentar as exportações», ganhou «credibilidade externa» e permitiu ao País ter hoje «taxas de juro historicamente baixas» –, Francisco Lopes não escondeu alguma perplexidade pelo que acabara de ouvir.
«Vieram aqui referir que o País não vai pagar este ano oito mil milhões de euros de juros da dívida, mas vai receber milhares de milhões de euros dos credores porque a taxa de juro é negativa», ironizou, vendo em tais afirmações uma tentativa frustrada de «esconder com uma questão pontual a questão real que é a situação da vida do País».
E a verdade é que os «credores não estão preocupados com a dívida do País, que até pode subir, porque, subindo, até vão sacar mais juros», considerou o deputado do PCP, antes de realçar que se é certo que «hoje, conjunturalmente, os juros até podem baixar, amanhã, daqui a um mês, a um ano, podem artificialmente de novo subir as taxas de juro».
E por isso defendeu que «não se pode estar sujeito a este garrote», entendendo que a renegociação da dívida é hoje um imperativo nacional, de enorme responsabilidade.
Não à submissão
Quanto à posição do PCP sobre o euro, questão que fora desafiado a esclarecer, o deputado comunista reiterou com firmeza a necessidade de o «País estudar e preparar-se para se libertar do domínio do euro». E, a este respeito, perguntou: «Alguém no seu devido juízo, consciente das responsabilidades no nosso País, pode dizer que não se deve estudar, que não se deve pensar?»
«Devemos estar sujeitos a que um dia o BCE ou a União Europeia cheguem e digam: vocês têm de cortar nos salários, nas pensões, destruir a vossa actividade produtiva? E nós aceitamos, em nome do euro? Não! Nós temos de estar preparados, temos de estudar para que no momento em que seja necessário defender os interesses nacionais – e tantas vezes isso é necessário – se diga que por aí não vamos, que temos alternativa, somos um País soberano, um País, um povo que merece ser tratado com dignidade», enfatizou, categórico, Francisco Lopes.
Sobre os resultados desta política, que criticou por estar ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros e dos especuladores, contra os interesses do povo e do País, considerou que eles estão à vista, por exemplo na «miséria, pobreza e fome» daqueles milhares de pessoas que no Estuário do Tejo são empurradas para a apanha da ameijoa para poderem sobreviver.
Criticou ainda a maioria PSD/CDS-PP por minimizar o significado da emigração forçada de 400 mil portugueses. E estabelecendo uma comparação, referiu que essa sangria humana equivale a toda a população do distrito de Coimbra. «Esta é e dimensão da emigração nos últimos quatro anos», assinalou, advertindo que tem consequências para hoje e para o futuro.