Eleições em Israel

Albano Nunes

A luta do povo palestiniano continua e a solidariedade também

A questão palestiniana é a questão central do Médio Oriente. De há muito, sobretudo depois do reconhecimento da Organização de Libertação da Palestina como única e legitima representante do seu povo, que a solução do problema nacional palestiniano com a edificação de um Estado independente e soberano nos territórios da Palestina ocupados por Israel em 1967, é considerada condição indispensável de uma paz justa e duradoura nesta martirizada região. Para as forças do progresso social e da paz, esta é uma questão de princípio que radica na defesa do direito de cada povo a escolher o seu próprio caminho de desenvolvimento. Um princípio que se plasmou no direito internacional e que levou à aprovação pela ONU de resoluções que Israel nunca respeitou. Mas se há uma razão para acreditar que sem a solução do problema palestiniano não haverá nunca paz no Médio Oriente, ela reside na própria luta do povo palestiniano, uma luta prolongada e heróica, resistindo às piores barbaridades cometidas pelo terrorismo de Estado sionista e imperialista, afirmando no cativeiro a que está submetido na própria pátria – em Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém – ou na diáspora, uma identidade e unidade que causam a admiração do mundo inteiro.

Vem isto a propósito das eleições em Israel em que o partido de Netanyahu, o carniceiro responsável pela tragédia que ainda há meses se abateu sobre a população de Gaza (e que só recuou perante a heróica resistência que provocou pesadas baixas ao invasor e a envergadura da solidariedade internacional) foi a força mais votada (embora com apenas 23%), tendo na campanha assegurado que consigo jamais um Estado palestiniano veria a luz do dia, dizendo em voz alta e provocadora aquilo que outros, como a União Sionista do «trabalhista» Herzog, se não atrevem a afirmar, embora partilhem a ideologia sionista do Grande Israel e sejam igualmente instrumento da estratégia do imperialismo no Médio Oriente. Em qualquer caso, a vitória de Netanyhau não sendo uma boa notícia não é propriamente a «surpresa» de que os grandes órgãos de comunicação falaram. O palco que lhe foi oferecido no «Ocidente», nomeadamente ao desfilar ao lado de Hollande na encenação que se seguiu aos atentados de Paris e com o convite do Congresso dos Estados Unidos, contou certamente para o resultado alcançado, tornando manifesto o apoio do imperialismo ao fascismo sionista. O que é tanto mais grave quanto Netanyhau sobe o tom da sua oposição a uma solução negociada com o Irão sobre a questão nuclear, continua a ingerir-se no Líbano, provoca a Síria a partir dos montes Golã que ilegalmente ocupa e apoia os grupos terroristas, incluindo o chamado «Estado Islâmico», contra o legítimo governo sírio. E quando o fascismo, o militarismo e o intervencionismo imperialista crescem por toda a parte perigosamente, da Venezuela às fronteiras da Rússia e Extremo Oriente.

Mas nos resultados das eleições em Israel é necessário ver também o avanço de forças que combatem o sionismo e apoiam a luta do povo palestiniano, como é o caso da Lista Conjunta, onde participa o Partido Comunista, que se tornou a terceira força eleitoral, derrotando os malabarismos de engenharia eleitoral que visavam afastá-lo do Knesset. Como necessário é não esquecer que Israel tem sido palco de importantes manifestações populares que evidenciam as agudas contradições que percorrem a sociedade israelita. E, sobretudo, que a luta do povo palestiniano continua, tal como a nossa activa solidariedade vai continuar.




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