Tríptico da utopia – II

Manuel Gouveia

Frente à crise do capitalismo e aos processos de proletarização, a pequena-burguesia pode entrar em pânico. Querer reconstruir uma certa estabilidade que conheceram. Querer andar para trás. Em vez de lutar a partir da nova posição proletária, pretender salvar o seu universo pequeno-burguês, e em vez de combater a apropriação tender a rejeitar a socialização.

Esta postura reaccionária alimentou sempre a máquina fascista, a opção terrorista das classes dominantes. Mas o fascismo é, sempre e antes de mais, uma opção da grande burguesia destinada a recuperar as condições de apropriação e acumulação face à sua própria crise e à crescente resistência dos expropriados e dos explorados em suportarem o custo dessa(s) crise(s).

O colaboracionismo tem a mesma base pequeno-burguesa e reaccionária. Como o expresso nas palavras de Varoufakis: «Eu não estou preparado para soprar vento fresco nas velas desta versão pós moderna dos anos 30. Se isto significa que nós, os marxistas adequadamente erráticos, teremos de salvar o capitalismo europeu de si próprio, que assim seja».

Estes colaboracionistas são embelezadores do capitalismo (mal) disfarçados de «lúcidos» revolucionários. Vendem uma utopia e são perigosos. Na espuma das coisas, parecem-se demasiado connosco: criticam o capitalismo, apontam à construção de um certo socialismo, e falam da necessidade de alianças para romper com as actuais políticas de austeridade. Só são fáceis de distinguir pelas suas taras, nomeadamente o ódio à URSS.

Mas é fundamental ter clara a diferença entre os comunistas e estes colaboracionistas. A nossa proposta de aliança é para enfrentar a grande burguesia, tem destinatários claros, o conjunto das camadas antimonopolistas, e nunca passa por colocar os trabalhadores a reboque nem de inimigos nem de aliados. A democracia avançada que propomos é um instrumento, que potencia a luta e a resistência de hoje e é uma plataforma onde melhor travar os combates amanhã, nunca representará um utópico patamar estável. E é na capacidade dos trabalhadores que confiamos, na sua organização e luta, para enfrentar um futuro que não tememos.




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