É que vale mesmo a pena!

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política do PCP)

O ano de 2015 leva ainda pouco mais de dois meses e eis os trabalhadores, as populações e a juventude na luta diária pelo seu presente sabendo que essa é a forma mais segura de garantir o seu futuro.

Em pouco mais de dois meses travou-se já muita luta

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Neste período, a par da realização de centenas de plenários de trabalhadores, desenvolvem-se greves com formas e objectivos diferenciados na Vadeca, Lourilimpeza, Soflusa, Carris, ForCargo, Horários do Funchal, Hotel Estação, Metro Lisboa, Escola Beira Aguieira, call centers da PT, Granitos de Maceira, Efacec, TST, Abrigada, BA Vidro, Cottogarden, Sublime Conforto, CRM.Unip e em muitas outras empresas.

Os trabalhadores não docentes e os técnicos de diagnóstico avançam para a greve. Têm lugar concentrações e outras expressões de luta na Solnave, Clube Praia da Rocha, Beiralã, Scotturb, Somelos, Amorim Cork, Transtejo, CarrisBus, Logística da Sonae da Maia e na Santa Casa da Misericórdia em Lisboa. A luta pelas 35 horas desenvolve-se em dezenas de autarquias locais, em acções de rua diárias e com uma grande manifestação pública.

Na rua faz-se ouvir o protesto dos reformados e dos trabalhadores do Metro de Lisboa, da PT e do sector ferroviário, dos professores do ensino artístico e aposentados, dos trabalhadores transferidos da Câmara de Lisboa para as freguesias, assim como a rejeição da privatização da TAP. Multiplicam-se as vigílias pela defesa dos postos de trabalho na Segurança Social.

A resistência assume diferentes formas. Funcionárias da loja de Turismo de Ponte de Lima contrariam a ordem de fechar as portas; os trabalhadores da Prégaia impedem a saída de camiões da fábrica; o pré-aviso de greve desbloqueia o conflito na Magpower; trabalhadores da MFS recusam, pela terceira vez, 12 horas trabalho diário. Os estudantes da secundária Soares dos Reis lutam por melhores condições; na Manuel Cargaleiro pela cantina; na Francisco Simões pelo Pavilhão; na João de Barros e no Conservatório Nacional de Música pelas urgentes obras; em Estarreja por mais funcionários; nos Casquilhos e na Júlio Dinis pelo aquecimento.

Nas Belas-Artes do Porto, os estudantes voltam aos protestos; na Faculdade de Ciências de Lisboa, no IST, na ESE do Porto, na FCSH, na FLUL e no ISEL luta-se por melhores condições e pelo acesso às cantinas; em Letras de Coimbra pela revogação do Regulamento Pedagógico e, hoje mesmo, estudantes do Superior de Lisboa concentram-se no Ministério da Educação.

Avança a luta das populações em defesa do SNS, em marchas em Lisboa e Benavente e acções em Aveiro e Portimão, nos hospitais Amadora-Sintra, S. Bernardo, Garcia de Orta e em dezenas de centros de saúde. Centenas de carros marcham no IC1 a exigir obras entre Alcácer e Grândola e, em Beja, para exigir o reinício das obras no IP2 e na A26/IP8. Os reformados saem à rua em dezenas de locais, os bolseiros de investigação protestam contra o processo de candidaturas e bolsas.

O que atrás se disse é exemplo de uma luta imensa que está muitas vezes afastada dos holofotes da comunicação social, a quem convém desvalorizá-la e desacreditá-la.

Vale a pena lutar?

Vale. Que o digam os STCP, obrigados a passar motoristas com contratos precários a efectivos; a Soturim, condenada a indemnizar 15 trabalhadores; a Forcargo forçada a recuar no pagamento reduzido do trabalho extra e os TST sobre o pagamento dos descansos compensatórios. Que o digam os cem assistentes operacionais do Hospital da Universidade de Coimbra, que viram repostos os seus salários; ou os trabalhadores reintegrados na Isporeco, Vanpro, Bosch, Such ou Goodrest.

Que o digam os trabalhadores temporários ou a prazo integrados nos quadros da Visteon, Delphi, Bosch, Entreposto Lidl, Portucel, Autoneum; os 23 enfermeiros que estavam a recibo verde e passaram a contrato no Garcia de Orta; os trabalhadores da Ecalma e os largos milhares que, com a sua luta, levaram à assinatura em mais de 200 autarquias dos horários das 35 horas de trabalho.

Que o digam ainda os milhares de trabalhadores que conquistaram aumentos salariais ou que viram ser pagos salários em atraso; as populações que, com a luta, conseguiram travar encerramentos de serviços de saúde e obrigar à colocação de mais profissionais; os que alcançaram o aumento de funcionários, a colocação de professores, o alargamento dos horários das bibliotecas, papelarias e cantinas, a realização de obras e a retirada de amianto.

Vale a pena lutar e continuar a lutar, mesmo para aqueles que ainda não conseguiram os seus objectivos, pois em cada processo desenvolvido reforça-se a sua unidade, a sua consciência e aumenta a sua força colectiva. E essas são razões bastantes para valer a pena. Foi a luta que derrotou social e politicamente o Governo; é com a luta que se derrota a política de direita e se abre caminho à alternativa.

O ano ainda há pouco começou e Março ainda não chegou a meio. Depois da grande jornada do passado dia 7 promovida pela CGTP-IN, que trouxe às ruas de todo o País milhares de pessoas, para além de dezenas de acções em curso, amanhã os trabalhadores da Administração Pública vão para a greve; no dia 18 os estudantes do Secundário voltam a sair à rua; no dia 26 são os agricultores a manifestar-se em Braga; de 22 a 27, por todo o País, os jovens trabalhadores estão em Marcha contra a Precariedade e no dia 28 manifestam-se em Lisboa.

O caminho está na determinação, confiança, alargamento da frente social de luta, voto, reforço das organizações de classe e de massas e do Partido. O resto é conversa.

 



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