Urgência vazia

Margarida Botelho

O ministro da Saúde chamou a comunicação social no passado sábado para ser filmado num centro de saúde vazio e poder dizer que afinal o caos nas urgências é um grande exagero de gente mesmo muito mal intencionada.

Já se sabe que com eleições na Região Autónoma da Madeira daqui a poucas semanas e com legislativas apontadas para o Outono, a máquina de propaganda do Governo vai procurar provar que está tudo bem assim, que não podia ser de outra maneira, e que todos os bons portugueses deviam agradecer comovidamente ao PSD e ao CDS o esforço que fizeram para nos salvar a todos e ao País da «bancarrota» – como eles próprios dizem.

Nem de propósito, poucas horas depois da ridícula visita ministerial, centenas de utentes do Hospital Garcia de Orta, com a solidariedade dos eleitos das autarquias de maioria CDU de Almada e do Seixal, concentravam-se à porta daquela unidade de saúde para denunciar a situação caótica dos serviços de urgência. Dois dias depois, fica a conhecer-se a notícia da demissão em bloco da equipa médica da urgência do Garcia de Orta.

Bem podem o ministro e o Governo fazer de conta que não vêem, que não sabem, que não têm responsabilidade nas consequências dramáticas das suas decisões criminosas. A dignidade dos profissionais, a revolta dos utentes e das suas famílias, a denúncia das organizações do Partido, não deixarão passar em branco a realidade que se vive hoje no Serviço Nacional de Saúde.

Nem deixarão esquecer que propostas como as que o PS de António Costa apresentou este fim-de-semana para a saúde – como suspender temporariamente as taxas moderadoras para quem vá ao centro de saúde durante o pico da gripe – não passam de demagogia em saldo. Ou o PS esperará que ninguém se lembre do governo de Sócrates, Costa e Correia de Campos, que encerrou urgências, centros de saúde, hospitais e maternidades em todo o País, com o argumento de que quase ninguém lá ia? Ou que reduziu os horários de centenas de serviços de urgência, ao ponto de haver milhões de pessoas que à noite ou ao fim-de-semana só podem recorrer aos hospitais centrais? Ou que aumentou as taxas moderadoras? Nem a memória dos portugueses é assim tão curta, nem as máquinas de propaganda se substituem à realidade.




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