Defender a Escola Pública
No Orçamento de Estado para 2015 está igualmente patente com nitidez essa linha estratégica da política de direita que tem como alvo a Escola Pública, visando o seu desmantelamento em todos os graus de ensino, o mesmo quanto ao Sistema Científico e Tecnológico Nacional.
Os números a este respeito são esclarecedores: desde 2011 foram retirados ao Ensino Básico e Secundário mais de dois mil milhões de euros.
Ora uma tal redução de financiamento na Escola Pública não pode deixar de se reflectir na «degradação das condições de funcionamento das escolas, na redução dos meios materiais e humanos alocados à educação especial, aos Serviços de Psicologia e Orientação, na educação pré-escolar, na acção social escolar, nomeadamente no corte das verbas para os manuais escolares e visitas de estudo», como assinalou ao nosso jornal João Oliveira.
É sabido também como o desinvestimento se reflecte, por outro lado, na enorme carência de funcionários e técnicos nas escolas, assim como no recurso ilegal à precariedade para contratar professores, funcionários e técnicos, degradando também por esta via a qualidade da Escola Pública.
Não menos vítima desta política é o Ensino Superior Público que, por seu lado, desde 2011, sofreu um corte de mais de 167 milhões de euros, somando cortes a um subfinanciamento que se arrasta há vários anos.
Quanto à acção social escolar indirecta, lembra ainda o líder parlamentar do PCP, foram retirados mais de 8,8 milhões de euros (quase 25%), ao passo que o montante cobrado em propinas aumenta 27,8%, «dificultando e afastando assim os jovens do Ensino Superior, elitizando o acesso ao conhecimento».
Já no que se refere aos Laboratórios do Estado, o que se assistiu entre 2014 e 2015 foi à sua profunda desvalorização, tendo perdido entre 2011 e 2015 um milhão de euros. Isto significa que a quebra das dotações dos Laboratórios (a preços correntes) ascende a cerca de 22%, num «caminho de desvalorização destas instituições e dos trabalhadores científicos».
As propostas do PCP
Por recusar que a Escola Pública seja um «mero instrumento reprodutor das desigualdades sociais» - e tendo presente a necessidade de defender os direitos dos estudantes e dos profissionais da Educação e da Ciência, bem como a necessidade de dar combate à degradação da qualidade pedagógica e científica – é que a bancada comunista entregou em sede de Orçamento do Estado as seguintes propostas:
- Concurso geral intercalar para recrutamento, colocação e mobilidade interna de docentes nos estabelecimentos públicos de ensino;
- Concurso extraordinário de recrutamento de assistentes operacionais, de psicólogos e profissionais das ciências da educação nos estabelecimentos públicos de ensino e de inspectores de educação e ciência;
- Garantia do pagamento da compensação por caducidade do contrato de trabalho (através da eliminação do Artigo 55º que põe termo à referida compensação);
- Gratuitidade do passe escolar a todos os alunos beneficiários da acção social escolar e comparticipação em 50% para os restantes estudantes;
- Reforço da dotação para acção social escolar em € 63.000.000, com vista à garantia total da gratuitidade dos manuais escolares na escolaridade obrigatória (12 anos);
- Reforço de dotação para a educação especial em € 61.028.145, repondo os valores de 2011;
- Extinção da Empresa Parque Escolar, E.P.E. e transferência do património para o Estado;
- Denúncia dos contratos de associação com escolas do ensino particular e cooperativo sempre que na mesma área pedagógica exista estabelecimento público de ensino com capacidade de resposta para a população estudantil;
- Não afectação de verbas do Programa Operacional Potencial Humano (POPH) ao pagamento de salários de programas comparticipados, substituindo por financiamento através do Orçamento do Estado;
- Fixação da fórmula do orçamento de referência e do orçamento de funcionamento base para as instituições do ensino superior, criando de uma fórmula de financiamento não-distributiva;
- Eliminação das propinas e reforço da dotação das instituições de Ensino Superior Público (IESP) em € 318.327.105 (repondo o montante global cobrado em propinas de 1.º, 2.º e 3.º ciclo);
- Reforço de dotação para ação social escolar Indireta no ensino superior em € 8.821.069, repondo os valores de 2011;
- Reforço da dotação nos estabelecimentos de ensino superior público em € 237.520.926 (repondo metade do Orçamento de 2011, assegurando o cumprimento da Decisão do TC, tendo em vista a reposição de 20% da massa salarial e garantindo o necessário reforço para cumprimento do previsto no ECDU e no ECDESP);
- Integração nos mapas das instituições de ensino superior, pessoal em regime transitório, designadamente os trabalhadores nomeados em comissão de serviço;
- Eliminação do Artigo 56º, que limita a contratação de trabalhadores docentes e não docentes e de pessoal de investigação científica;
- Reposição da verba destinada às bolsas individuais para a investigação da FCT;
- Actualização extraordinária das bolsas de investigação científica;
- Contratação de doutorados para o Sistema Científico e Tecnológico Nacional;
- Reforço de 45 milhões de euros para despesas correntes dos Laboratórios do Estado.