Dívidas pública e externa são impagáveis

Renegociar é uma inevitabilidade

LUSA

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Co­lossal. Foi assim que Je­ró­nimo de Sousa se re­feriu à di­mensão ac­tual da dí­vida pú­blica, que atingiu em Junho deste ano 134 por cento do PIB. Mo­mentos antes, já o de­pu­tado Paulo Sá tinha lem­brado que só nos úl­timos três anos – os anos do pacto de agressão da troika – ela cresceu mais de 51 mil mi­lhões de euros.

Quanto aos juros – que este ano se si­tu­arão, se­gundo o de­pu­tado, na ordem dos 7700 mi­lhões de euros (em 2010, ron­davam os 4800 mi­lhões) –, o Se­cre­tário-geral do Par­tido lem­brou que eles res­tringem bru­tal­mente quer a ca­pa­ci­dade de in­ves­ti­mento do País quer a pos­si­bi­li­dade de o Es­tado cum­prir as «fun­ções e com­pe­tên­cias cons­ti­tu­ci­o­nal­mente atri­buídas». O vo­lume da dí­vida pú­blica é de tal ordem que, com a au­sência ou in­su­fi­ci­ência de cres­ci­mento eco­nó­mico, os «juros fazem-na au­mentar todos os anos». Com­pro­me­tida fica, assim, a «sol­va­bi­li­dade fi­nan­ceira do Es­tado e do País», para lá da in­ca­pa­ci­dade de se cum­prir as «dis­po­si­ções, gra­vosas e ir­re­a­listas, do Tra­tado Or­ça­mental».

Sendo as dí­vidas pú­blica e ex­terna «in­sus­ten­tá­veis e im­pa­gá­veis», Je­ró­nimo de Sousa ga­rantiu que a sua re­ne­go­ci­ação «é uma ine­vi­ta­bi­li­dade, um im­pe­ra­tivo na­ci­onal», como o PCP vem de­fen­dendo desde Abril de 2011 (e foi o pri­meiro a fazê-lo). De então para cá, su­bli­nhara Paulo Sá, muitas per­so­na­li­dades de di­versos qua­drantes po­lí­ticos, que apoi­aram o pro­grama da troika e re­jei­taram a pro­posta do PCP, pas­saram a re­co­nhecer a «in­sus­ten­ta­bi­li­dade da dí­vida pú­blica e a ne­ces­si­dade da sua re­ne­go­ci­ação». Fazem-no, con­tudo, com ob­jec­tivos e ma­tizes di­fe­rentes da pro­posta do PCP

Re­ne­go­ciar o quê e para quem?

 

 Para Je­ró­nimo de Sousa, a «grande questão» é pre­ci­sa­mente saber se esta re­ne­go­ci­ação «será feita no in­te­resse dos cre­dores ou no in­te­resse do povo por­tu­guês». Da parte do PCP, in­sistiu, a re­ne­go­ci­ação da dí­vida sig­ni­fica o «pro­pó­sito e a ini­ci­a­tiva de ne­go­ciar a dí­vida com os cre­dores» e, ao mesmo tempo, a «in­tenção de tomar todas as me­didas in­dis­pen­sá­veis à con­cre­ti­zação dos seus ob­jec­tivos, in­de­pen­den­te­mente das op­ções dos cre­dores».

A re­ne­go­ci­ação das dí­vidas pú­blica e ex­terna que o PCP de­fende e propõe, nos prazos, juros e mon­tantes, deve «pro­teger Por­tugal da usura dos que lu­craram com elas» e não servir os seus in­te­resses. Ao mesmo tempo que deve ser as­su­mida como uma ini­ci­a­tiva do Es­tado por­tu­guês «com o ob­jec­tivo de as­se­gurar o di­reito a um de­sen­vol­vi­mento so­be­rano e sus­ten­tável e de ga­rantir um ser­viço das dí­vidas que se co­a­dune com o cres­ci­mento eco­nó­mico e a pro­moção do in­ves­ti­mento e do em­prego». O apu­ra­mento da origem da dí­vida é outro dos ob­jec­tivos do Par­tido, que re­cusa o pa­ga­mento da com­po­nente ile­gí­tima dessa mesma dí­vida.

In­verter ten­dên­cias

A com­pre­ensão das causas que es­ti­veram na origem de tão ele­vada dí­vida é uma questão fun­da­mental para travar e in­verter a ten­dência de cres­ci­mento cons­tante e ex­po­nen­cial das dí­vidas pú­blica e ex­terna. Para Je­ró­nimo de Sousa, estas foram – e são – o aban­dono do apa­relho pro­du­tivo, as pri­va­ti­za­ções, a cres­cente fi­nan­cei­ri­zação da eco­nomia, a es­pe­cu­lação, o fa­vo­re­ci­mento pú­blico e evasão fiscal do grande ca­pital, a sub­missão à UE e aos mo­no­pó­lios e a adesão ao euro.

Todas estas ques­tões ti­nham já sido apro­fun­dadas por José Lou­renço, da Co­missão de Ac­ti­vi­dades Eco­nó­micas do PCP, que lem­brou o «vasto pro­cesso de li­be­ra­li­zação e pri­va­ti­zação dos sec­tores fun­da­men­tais da nossa eco­nomia», ini­ciado no final dos anos 80 do sé­culo XX (após a adesão à então CEE e a re­visão cons­ti­tu­ci­onal de 1989) e que se pro­longa até aos dias de hoje. Este pro­cesso, afirmou o eco­no­mista, «marcou de forma pro­fun­da­mente ne­ga­tiva» a evo­lução eco­nó­mica do País, ca­rac­te­ri­zada desde então pelo abran­da­mento e a re­cessão, pelo apro­fun­da­mento da de­pen­dência ex­terna e o en­di­vi­da­mento, pela des­truição do apa­relho pro­du­tivo, a pre­ca­ri­e­dade e o de­sem­prego (que qua­dru­plicou).

A po­lí­tica al­ter­na­tiva que o PCP propõe é, em traços ge­rais, o oposto deste rumo. 



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