Preparar o País para a saída do euro

Defender rendimentos e condições de vida

Image 16835

Libertar o País da submissão ao euro é um dos objectivos da política patriótica e de esquerda que o PCP defende. Projectos e instrumentos do grande capital europeu, das transnacionais europeias e do directório das grandes potências da União Europeia comandado pela Alemanha – impostos ao País por PS, PSD e CDS –, a União Económica e Monetária (UEM) e a moeda única servem os interesses dos seus promotores. À revelia, e contra, os direitos, condições de vida e aspirações dos trabalhadores e dos povos de Portugal e dos restantes países.

Ao concreto, lembrou Jerónimo de Sousa, o euro representou para Portugal «estagnação e recessão, desinvestimento e degradação do aparelho produtivo, endividamento externo e perda de competitividade, endividamento público e ataque especulativo à dívida soberana, descontrolo orçamental e agravamento do défice, aumento do desemprego e da precariedade, redução dos salários e aumento da exploração, disparidades regionais e divergência face à média União Europeia». Mas não é tudo: a produção de riqueza diminuiu e a desigualdade na distribuição da riqueza acentuou-se. O euro submeteu ainda o País a «imposições de tipo colonial», amarrando-o «à estagnação e à recessão, ao empobrecimento e ao subdesenvolvimento».

Momentos antes, João Ferreira tinha já quantificado alguns destes retrocessos: entre 2001 e 2011, a produção industrial teve uma quebra acumulada de 16 por cento; a dívida pública cresceu mais de 120 por cento; o número de desempregados aumentou 147 por cento. Ao mesmo tempo, os lucros cresceram 26 vezes mais do que os salários – na Europa cresceram «apenas» mais cinco vezes.

Ficar? Sair? Como?

 O caminho a seguir para concretizar a necessária libertação do País da submissão ao euro (que Jerónimo de Sousa considera uma «condição necessária, embora não suficiente, para assegurar um desenvolvimento soberano») foi assim resumido pelo economista e ex-deputado ao Parlamento Europeu Sérgio Ribeiro «é muito importante para o povo português não estar na moeda única, mas sair dela pode ser perverso se, tal como na entrada, a correlação de forças sociais possibilitar (ou não impedir) que essa saída seja aproveitada para mais destruir Abril e as suas conquistas e abertura para o futuro.»

Na mesma linha, João Ferreira considerou «forçoso reconhecer» que Portugal poderá perder mais do que já perdeu «seja com a permanência no euro, enredado numa teia de instrumentos de subordinação e empobrecimento permanentes, de consequências catastróficas, seja com uma saída forçada – imposta pelas grandes potências europeias». As consequências de uma saída involuntária, conduzida pela mão de um governo de direita, seriam «catastróficas», acrescentou. Ao mesmo tempo que «quem defender a continuação deste caminho terá de justificar em nome de que interesses o faz», afirmou ainda João Ferreira, garantindo não serem estes os do povo e do País.

Difícil mas necessário

 Procurando desatar este nó, que a muitos surge como irresolúvel, Jerónimo de Sousa garantiu que a libertação do País do euro – que será sempre um processo e nunca um «acto súbito» – deverá ser associada à luta pela dissolução da UEM que o PCP propõe desde 2007. Podendo ser negociada, esta libertação terá que ter como condições fundamentais a «preparação do País, o respeito pela vontade popular e uma acção política empenhada em defender nesse processo de saída os rendimentos, as poupanças, os níveis de vida e os direitos do povo português».

A ruptura com o euro, afirmou ainda o Secretário-geral do Partido, deve processar-se de forma a «aproveitar plenamente as suas vantagens e a minimizar os seus custos», com o propósito de preservar e melhorar a situação material do povo, defender e recuperar a capacidade produtiva e acelerar o crescimento económico e abrir potencialidades ao desenvolvimento do País. Para tal, este processo terá que ser conduzido por um governo patriótico e de esquerda.



Mais artigos de: Em Foco

Constrangimentos com que urge romper

A renegociação da dívida, a libertação de Portugal da submissão ao euro e o controlo público do sector financeiro são «três instrumentos fundamentais para a recuperação e o progresso do País», afirmou Jerónimo de Sousa no debate público que o PCP promoveu no domingo, 28, na abertura da acção nacional «A Força do Povo por um Portugal com Futuro – uma Política Patriótica e de Esquerda».

Renegociar é uma inevitabilidade

LUSA Colossal. Foi assim que Jerónimo de Sousa se referiu à dimensão actual da dívida pública, que atingiu em Junho deste ano 134 por cento do PIB. Momentos antes, já o deputado Paulo Sá tinha lembrado que só nos últimos...

Controlo público é essencial

«A banca privada nacional, reconstituída a partir das privatizações, foi um dos principais veículos e uma poderosa alavanca da concentração e centralização do grande capital e da reconstituição dos grupos...

Soberania e desenvolvimento

O Grupo Parlamentar do PCP entregou anteontem na Assembleia da República um projecto de resolução intitulado «Renegociar a dívida, preparar o País para a saída do euro e retomar o controlo público da banca para abrir caminho a uma...