Uma porta sempre aberta ao povo
Em Junho de 1974 era notícia no Avante! a inauguração do Centro de Trabalho (CT) do PCP na cidade de Viseu, na Rua 21 de Agosto, nº 1, 1.º. Foi um dos dez primeiros a ser aberto no País. Hoje é notícia a inauguração do novo CT, com a presença de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do Partido.
Destaque: O Partido vai continuar aqui a crescer e a fortalecer-se
Passados 40 anos a Lei das Rendas e a degradação das instalações ditaram a necessidade de abandonar a sede histórica do PCP. Neste percurso de quatro décadas estudantes, trabalhadores, agricultores, gente de todas as condições e ofícios, encontrou naquele espaço uma porta aberta e uma ajuda solidária e activa para os seus problemas. Histórias que ajudaram a fazer a história na luta pela afirmação e consolidação da democracia neste concelho e neste distrito tiveram como berço este CT.
Histórias como a do arrendamento das instalações. Contada neste sábado, 20 de Setembro, na primeira pessoa por Luzia Henriques, companheira do médico comunista Diamantino Henriques, arrendatários e «sub-senhorios» do Partido como ironicamente referiu a camarada na sua emotiva intervenção.
Depois de ter descerrado uma placa comemorativa do evento e ter içado a bandeira do Partido na varanda do novo CT, Jerónimo de Sousa salientou o ambiente de confiança, de unidade e crescimento que o Partido vive e a importância deste espaço para o reforço da organização do Partido no concelho e no distrito.
Perante a enchente de camaradas e amigos oriundos de muitos concelhos do distrito presentes nesta iniciativa sublinhou que «os CT são base de trabalho e de irradiação da nossa actividade e da nossa acção» e que «o maior significado que pode haver com este novo CT do nosso Partido é que valeu a pena resistir, vale a pena continuar para reforçar o nosso partido ao serviço dos trabalhadores e da população do distrito de Viseu.».
Seguiu-se o almoço/convívio, confecionado e servido por camaradas e amigos da organização de Viseu. Da ementa fazia parte a tradicional vitela à Lafões assada no forno e o vinho e as maçãs do distrito. As presenças excederam a expectativas, daí a inicial confusão para arranjar mesas e cadeiras para todos. Nada que a capacidade de organização e a dedicação não tivesse resolvido.
Na sua intervenção proferida no final do almoço, João Abreu, membro do Comité Central e responsável pela Organização Regional de Viseu, sublinhou, com exemplos concretos, o papel do PCP, da sua organização e dos Centros de Trabalho na intervenção do Partido nas lutas nas empresas, das populações e nas batalhas eleitorais. E recordou «quando em 15 de Julho de 1975 a reacção fascista destruiu o CT do PCP em Viseu, pensava que tinha destruído o PCP. Enganaram-se. Como já se enganaram noutras ocasiões os coveiros do nosso Partido. O Partido sobreviveu, reforçou-se e deu um contributo decisivo para que as conquistas de Abril também no distrito de Viseu fossem preservadas.»
Confiança no Partido
A concluir a jornada o camarada Jerónimo de Sousa abordou questões nucleares da actual situação política, económica e social de Portugal.
«Nós vivemos um dos períodos mais negros da nossa história desde o 25 de Abril de 1974. Período negro resultante da política de direita que já dura há mais de 37 anos e que foi acentuada nestes últimos três anos com o Governo PSD/CDS. A propaganda do Governo e dos seus comentadores é muita mas nada pode esconder que hoje temos o País a andar para trás.» E mais adiante: «Não resolveram os dois problemas que eles (troika e Governo) diziam que iam resolver: a redução do défice e da dívida. Mas aumentou o desemprego em Portugal. Aumentou a pobreza em Portugal.»
Referindo-se aos ataques aos serviços públicos, o Secretário-geral do Partido exemplificou com o distrito de Viseu: «foram fechadas recentemente 60 escolas. Foram encerrados nove tribunais, levando ao aumento dos problemas da região e de todo o interior do País. (…) esta é a realidade brutal que hoje flagela o nosso povo. (…) resultante não de qualquer castigo divino, não de qualquer calamidade. Resultante de uma política concreta realizada pelo PSD e pelo CDS.».
Não faltou no discurso uma chamada de atenção para a situação no Centro de Produção de Mangualde da PSA Peugeot-Citröen, onde se reduziu a produção e o número de trabalhadores, mas aumentaram os lucros. «Como é possível? Simples, camaradas: reduziram os salários! Onde antes os trabalhadores recebiam em média 1000 euros por mês hoje recebem pouco mais do que o salário mínimo nacional.» A propósito recordou que na escravatura havia a máxima competitividade: não havia salários, nem direitos.
Jerónimo de Sousa também não deixou de abordar a política de privatizações com os exemplos dos CTT e da EGF: «privatizam tudo o que é fundamental. Como é que nos vamos desenvolver?». E também o escândalo do BES e do GES que levou o PCP a apresentar na Assembleia da República uma proposta de comissão de inquérito.
Mas há alternativa! «É possível reverter isto. Com ruptura, com mudança. Já basta!» E como? Renegociando a dívida, produzindo mais, valorizando os salários, as pensões e as reformas, defendendo serviços públicos de qualidade.
Sublinhando que o Partido não se imiscuía nos assuntos internos do PS, o Secretário-geral do Partido analisou as propostas políticas concretas que cada um quer realizar para Portugal, concluindo que entre os dois contendores não há diferenças.
A terminar a sua intervenção, manifestou a sua confiança nas capacidades do Partido e deixou uma palavra de esperança para os camaradas do distrito. «Há razões para nós confiarmos que o Partido vai continuar aqui a crescer e a fortalecer-se, a prová-lo estão os resultados eleitorais para as eleições autárquicas e mais recentemente para o Parlamento Europeu e o bom nível de recrutamentos que têm conseguido. É preciso não perder a esperança. Lutando com confiança conseguiremos a ruptura e a mudança que o país precisa e alcançaremos a política patriótica e de esquerda.»