Derrotados pelo TC
O acórdão do Tribunal Constitucional sobre a «CDS» e os cortes salariais «não é dissociável da luta» de trabalhadores e reformados e representa «mais uma derrota» do Governo e também, do Presidente da República, salientou a CGTP-IN.
Os cortes em 2014 e 2015 são tão injustos e ilegítimos como os dos anos seguintes
Na posição que tornou pública pouco depois de conhecida a decisão do TC, ao início da noite de quinta-feira, 14, a confederação regista o «chumbo» do diploma que visa criar a «contribuição de sustentabilidade» (CDS). A inconstitucionalidade teve por base que existe violação do princípio da confiança, alegando o tribunal que, contrariamente ao que sucedia no caso da «contribuição extraordinária de solidariedade» (CES), houve agora que ponderar a legítima expectativa dos pensionistas de verem reconhecidos e consolidados os direitos adquiridos, para além dos parâmetros gerais da protecção da confiança.
Tal como a decisão do TC, também a posição da Intersindical quanto ao novo figurino da redução remuneratória dos trabalhadores do sector público tem duas partes. A reprovação das reduções a partir de 2016 é encarada de forma positiva. Mas o facto de o TC não ter tomado igual decisão quanto a 2014 e 2015 foi recebido pela CGTP-IN com «surpresa e discordância», por «não existirem fundamentos que justifiquem decisões diferentes para medidas de igual natureza».
Na sua globalidade, a decisão do Tribunal Constitucional «constitui a prova de que o Governo e a maioria parlamentar do PSD/CDS-PP tomaram mais uma vez decisões inconstitucionais, dando assim razão às denúncias feitas pela CGTP-IN». «A declaração de inconstitucionalidade não é dissociável da luta que os trabalhadores e os reformados e pensionistas desenvolveram contra estas medidas, confirmando mais uma derrota do Governo PSD/CDS-PP mas, também, do Presidente da República, o qual não só tem caucionado as políticas nefastas do Governo como tem sido o principal suporte da sua manutenção», afirma-se na nota de imprensa da Inter.
Abrir caminho
O Governo «persiste na tomada de medidas que violam flagrantemente a Constituição da República e penalizam de modo intolerável os trabalhadores e o povo», e assim «mais uma vez se prova que é necessária outra política, uma política de esquerda e soberana». A CGTP-IN «reafirma o seu compromisso de continuar e intensificar a luta, factor determinante para derrotar o Governo e convocar eleições antecipadas para abrir caminho à alternativa».
A Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública discorda da viabilização dos cortes salariais em 2014 e 2015, uma solução que se vem perpetuando e que não é adequada. Por outro lado, «vemos com satisfação a declaração de inconstitucionalidade da ideia, que o Governo tinha, de perpetuar os cortes na Função Pública», disse Alcides Teles à agência Lusa, em nome da estrutura mais representativa dos trabalhadores do sector.
A fiscalização preventiva dos dois diplomas foi suscitada pelo PR, como o Governo pretendeu. O «chumbo» da CDS representará 372 milhões de euros no Orçamento do Estado para 2015, segundo as contas do Governo.
Comentário do PCP
Governo fora-da-lei
Para o PCP, «o elemento mais significativo do acórdão é a confirmação de um Governo fora-da-lei, a agir e a governar contra a Constituição da República». Comentando a decisão, pouco depois de ela ser divulgada, Jorge Cordeiro disse aos jornalistas que o facto de o TC não ter declarado inconstitucionais as reduções salariais em 2014 e 2015 «não torna menos injustos e menos ilegítimos os cortes, que no fundamental, visam perpetuar e manter como permanente o assalto aos rendimentos dos trabalhadores».
Caberá aos trabalhadores, a par da luta pela demissão do Governo, combater estes cortes e exigir a reposição dos salários retirados ao longo dos últimos anos, apelou aquele membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central do Partido.
Jorge Cordeiro deixou ainda «uma prevenção», quanto à dramatização que, seguramente, o Governo iria fazer a propósito das consequências desta decisão do TC na consolidação orçamental e no défice. Assinalou, a propósito, que «um Governo que ainda há uma semana entregou 4,5 mil milhões de euros ao BES, sem pestanejar, tem muito pouca autoridade para atribuir a outros responsabilidades» por impedirem cortes que ascenderiam a «pouco mais de 40 milhões de euros por mês».