Unidade e convergência
O PCP promoveu, em Lisboa e no Porto, duas reuniões com democratas e patriotas, que contaram com a presença de Jerónimo de Sousa. Em debate estiveram os caminhos da necessária alternativa.
Os debates visaram a troca de opiniões e perspectivas
«A alternativa patriótica e de esquerda, assente na política alternativa e na exigência da ruptura com a política de direita, tem como elementos decisivos o desenvolvimento e intensificação da luta dos trabalhadores e do povo, a convergência dos democratas e patriotas e o reforço do PCP e dos seus aliados», lê-se no comunicado da reunião do Comité Central de 27 de Maio, que retoma a tese congressual relativa às condições necessárias para a construção da alternativa. Os dois encontros com independentes, realizados em Lisboa e no Porto, respectivamente nos dias 17 e 19, integraram-se neste processo.
Sendo a convergência dos democratas e patriotas um processo complexo que se firma na luta concreta e quotidiana, encontros como estes permitem, como permitiram, uma discussão aprofundada e frutuosa, capaz de esclarecer dúvidas e aproximar posições. Em ambas as reuniões, que decorreram sob o lema «Diálogo e Acção para a Alternativa Patriótica e de Esquerda», partiu-se da necessidade e urgência da ruptura com décadas de política de direita e dos eixos fundamentais da alternativa proposta pelo PCP para trocar ideias e experiências e ouvir as dúvidas, inquietações, críticas e propostas daqueles que, não sendo militantes do Partido, partilham com os comunistas e os seus aliados inúmeras batalhas políticas.
Entre os participantes nas reuniões estiveram eleitos e candidatos autárquicos da CDU, activistas sindicais e de outras organizações representativas dos trabalhadores, dirigentes associativos, trabalhadores da cultura, entre outros.
Unidade com princípios
Em Lisboa, a reunião teve lugar no dia 17 ao final da tarde, prolongando-se muito para lá da hora do jantar (e mesmo da hora prevista para terminar). Apostados em não perder a oportunidade de debater com o Secretário-geral do PCP, foram muitos os que colocaram as suas perspectivas e opiniões sobre as mais variadas questões – revelando diferentes níveis de proximidade com o Partido e de participação na luta, bem como diversas áreas profissionais e de intervenção. Foi precisamente esta diversidade que deu à reunião o rico conteúdo que acabou por ter.
Depois de, na intervenção inicial, ter caracterizado a situação actual do País, valorizado os resultados obtidos pela CDU nas eleições para o Parlamento Europeu de 25 de Maio, e reafirmado a proposta de política alternativa definida pelo PCP, Jerónimo de Sousa procurou responder às questões suscitadas, a começar pelas que apontavam no sentido de uma maior aproximação aos outros partidos «de esquerda». Rejeitando dar uma perpectiva meramente aritmética a esta importante matéria, o Secretário-geral do PCP sublinhou a necessidade de haver conteúdos claros que sustentem a unidade, e não alianças sem princípios a pensar apenas no poder.
No caso do PS, este problema é particularmente grave, tendo em conta a sua prática política desde há décadas e as propostas e caminhos que aponta para o futuro, que seguem exactamente na mesma linha. Ao ir com o PS para um governo e aí servir de muleta à prossecução da política de direita, o PCP estaria a trair o compromisso que há muito assumiu com os trabalhadores e o povo, sustentou Jerónimo de Sousa.
Patriótica e de esquerda
Outras das questões a que o dirigente comunista procurou responder prendiam-se com o tipo de ruptura necessária à construção de uma verdadeira política alternativa, patriótica e de esquerda, e com a ligação existente entre a luta que hoje se trava contra a exploração e o empobrecimento e os objectivos mais gerais do Partido – a construção de uma sociedade sem exploração do homem pelo homem. Para o Secretário-geral do PCP, a correlação de forças é ainda claramente desfavorável aos comunistas e restantes forças progressistas, estando-se ainda em pleno processo de resistência, em Portugal como à escala mundial.
Contudo, garantiu, a resistência é a «primeira pedra da construção», pelo que na luta contra a actual ofensiva do grande capital está o germe das rupturas e das transformações sociais. O avanço eleitoral registado pela CDU a 25 de Maio e os processos progressistas em curso em diversos países da América Latina são dois elementos que provam que é possível resistir avançando.
Valorizando os cerca de 13 mil independentes que aceitaram dar a cara pela CDU como candidatos nas últimas eleições autárquicas, Jerónimo de Sousa reafirmou ainda o carácter estratégico da luta de massas para empreender as necessárias rupturas. É na luta que se forma a consciência, afirmou, acrescentando que em muitas situações lutar é em si mesmo um acto de heroísmo.
Respostas e caminhos
«Esta reunião, como muitas outras em que temos participado, é uma demonstração evidente de que há da parte do PCP uma valorização real e consequente do espaço de unidade na esquerda.» A afirmação é de um dos muitos democratas sem filiação partidária que aceitaram o convite do PCP para participar na reunião que se realizou no dia 19 num hotel do Porto. Nela participaram o Secretário-geral do Partido, Jerónimo de Sousa, e ainda Jaime Toga, da Comissão Política, e outros membros da Direcção da Organização Regional do Porto do Partido, para além de cerca de 40 independentes.
Coube a Jaime Toga contextualizar a reunião como estando inserida num vasto conjunto de debates, contactos e reuniões com democratas e patriotas, forças e sectores sociais e políticos e outras entidades, que o PCP está a promover com vista à afirmação de uma alternativa patriótica e de esquerda que projecte os valores de Abril no futuro de Portugal. De seguida, Jerónimo de Sousa justificou o convite aos participantes como obedecendo a dois objectivos: «o debate em torno da grave situação do País» e a necessidade de conhecer as opiniões e reflexões dos presentes para «com mais acerto e solidez, nós próprios procurarmos as respostas aos diversos problemas que nos estão colocados e os melhores caminhos para dar força à alternativa que entendemos ser necessária».
Servir os trabalhadores e o povo
Na sua intervenção inicial, o Secretário-geral do PCP partiu da análise ao resultado eleitoral das últimas eleições para abordar a presente crise social, económica e institucional, a política de austeridade (que caracterizou como sendo um «objectivo que preside à política do Governo» e não uma consequência) e os eixos fundamentais da política alternativa proposta pelo Partido. Aludindo ao contexto difícil em que os comunistas actuam, Jerónimo de Sousa encerrou a intervenção inicial referindo que «resistir já é vencer» e que a vida tem mostrado àqueles que vaticinavam o fim do PCP como estavam errados e como tem sido possível crescer.
Nas intervenções que se seguiram, para além da unânime valorização da iniciativa, foram avançados numerosos contributos em diversas áreas: desde a comunicação social à ciência, passando pelas questões energéticas, agricultura familiar, regionalização, precariedade e acção social. Foi, no entanto, a discussão em torno da «alternativa política» que mereceu a maior atenção dos presentes.
No encerramento da iniciativa, o Secretário-geral afirmou que, na presente situação, em que grandes perigos convivem com grandes potencialidades, o PCP fará a sua parte, honrando o que de mais nobre há na política – servir os interesses do povo e dos trabalhadores. Concluiu dizendo que, por esse motivo, aqueles que com o PCP partilham causas e combates, «podem saber que o seu empenhamento e voto valeram a pena porque estão a lidar com “gente séria”, com uma só cara e uma só palavra, que quer o melhor para o seu País, como todos vós desejam».