Os robertos

Henrique Custódio

O Go­verno tornou-se um es­pec­tá­culo de «ro­bertos» e ei-los, mi­mosos tí­teres elei­to­rais, a de­bitar exi­bi­ções na ilusão dos aplausos. O mi­nistro da Eco­nomia, Pires de Lima, apre­sen­tado como pessoa sen­sata e cor­dial, pôs-se com jogos flo­rais sobre as dé­cimas que sobem e descem na afun­dada eco­nomia por­tu­guesa e que, no seu fino faro de em­pre­sário cer­ve­jeiro, ga­rantem um pro­gresso de alto co­turno, en­quanto Paulo Portas, que mi­me­tizou a pose de Es­tado em es­tado de pose, anda por aí in­va­ri­a­vel­mente a rir sem nin­guém per­ceber porquê. No meio disto o mi­nistro da Saúde, o tal com­prado a peso de ouro como mago do fisco, propõe-se, por entre o ba­rulho das luzes, impor a cen­sura aos pro­fis­si­o­nais de Saúde para es­conder a des­truição em curso do SNS, re­ma­tando o chan­celer Passos com con­se­lhos de mi­nis­tros ex­tra­or­di­ná­rios em plena cam­panha elei­toral para do­cu­mentar o «ca­minho do cres­ci­mento» que aí vem, ig­no­rando, olim­pi­ca­mente, o que a sua po­lí­tica aqui pôs: (mais) 400 mil de­sem­pre­gados, 37 mil mi­lhões de euros rou­bados aos tra­ba­lha­dores e pen­si­o­nistas com a maior carga fiscal da his­tória de­mo­crá­tica do País e de toda a União Eu­ro­peia.

A estes bo­ni­frates, nem o pú­blico in­fantil os atura.

Vem a pro­pó­sito re­cordar o que disse há dias, em en­tre­vista ao Pú­blico, Phi­lippe Le­grain, con­se­lheiro eco­nó­mico de Durão Bar­roso entre 2011 e Fe­ve­reiro pas­sado.

Em Por­tugal, «o prin­cipal pro­blema era a banca pri­vada», disse. «Antes da crise, a dí­vida pú­blica era sen­si­vel­mente a mesma que na Ale­manha – 67/​68% do PIB –, mas o grande pro­blema, que não foi de todo re­sol­vido, era a dí­vida pri­vada, que es­tava acima dos 200% do PIB».

E con­ti­nuou: «O que co­meçou por ser uma crise ban­cária que de­veria ter unido a Eu­ropa nos es­forços para li­mitar os bancos, acabou por se trans­formar numa crise da dí­vida que di­vidiu a Eu­ropa entre países cre­dores e países de­ve­dores», sendo que «as ins­ti­tui­ções eu­ro­peias fun­ci­o­naram como ins­tru­mentos para os cre­dores im­porem a sua von­tade aos de­ve­dores».

Em Por­tugal, «a troika de­sem­pe­nhou um papel quase co­lo­nial, im­pe­rial, e sem qual­quer con­trolo de­mo­crá­tico, não agiu no in­te­resse eu­ropeu mas, de facto, no in­te­resse dos cre­dores de Por­tugal. E pior que tudo, im­pondo as po­lí­ticas er­radas», re­ma­tando que «Por­tugal está mais en­di­vi­dado do que antes (...) está mesmo em pior es­tado do que es­tava no início do pro­grama».

A «li­ber­dade de Im­prensa» dos donos da co­mu­ni­cação as­se­gurou-se, pois claro, de que a en­tre­vista não sal­tasse das pá­ginas do Pú­blico.

To­davia, nada disto é no­vi­dade: o PCP de­nun­ciou-o desde os pri­mór­dios do «res­gate», pe­rante o es­cân­dalo da troika in­terna – PS, PSD e CDS.

Agora, o PS de Se­guro finge des­colar da troika, mas nem se com­pro­mete a repor os cortes de sa­lá­rios que ele pró­prio também mandou para o TC, por fla­grante in­cons­ti­tu­ci­o­na­li­dade.

Enfim, é tudo a mesma cam­bada de ro­bertos. Mas no pró­ximo do­mingo vão ser du­ra­mente ex­postos à in­dig­nação po­pular, nas urnas.

 



Mais artigos de: Opinião

No caminho das tormentas

Três meses passados do golpe de estado promovido pelos EUA e UE, a Ucrânia continua a caminhar velozmente para o abismo. A guerra civil imposta pela Junta golpista de Kiev é uma realidade, mas o pior ainda pode estar para vir. O fascismo – elemento determinante na execução do golpe...

Com toda a confiança!

No pró­ximo do­mingo elege-se os 21 de­pu­tados por­tu­gueses para o Par­la­mento Eu­ropeu. A questão que está co­lo­cada aos tra­ba­lha­dores e ao povo por­tu­guês é a de es­co­lher quem os vai re­pre­sentar nos pró­ximos cinco anos em Bru­xelas e Es­tras­burgo: gente sub­missa aos in­te­resses do grande ca­pital na­ci­onal e eu­ropeu? Ou gente que seja a voz in­can­sável e in­do­mável dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País?

O jogo da política de direita

Acossados pelo medo de uma iminente derrota eleitoral, os partidos do Governo recorrem a tudo para evitar o inevitável afundamento. Como se se tratasse de um jogo de box, organizaram a ofensiva em vários round na esperança de vencer o povo, que é o mesmo que dizer convencê-lo a votar...

A <i>selfie</i> de Assis

A moda das selfies veio para ficar. Mesmo que pareça surpreendente tanto entusiasmo com auto-retratos – que é das formas mais antigas de representação humana –, a verdade é que parece não haver quem resista a tirar fotos a si próprio nas mais diversas...

Os renovas

Numa semana como esta, e com um título destes, poderíamos estar perante um fácil trocadilho entre uma determinada associação e uma conhecida marca de papel higiénico. E até apetecia, pois de facto custa gastar espaço e tempo a discutir de forma séria um...