9.ª Assembleia da Organização Regional de Aveiro do PCP

Alternativa constrói-se na luta

Um Partido mais forte é uma condição essencial para travar a brutal ofensiva em curso e abrir caminho a uma política alternativa, concluiu-se na 9.ª Assembleia da Organização Regional de Aveiro do PCP, realizada no domingo, 30.

A intensificação da luta de massas necessita de um PCP reforçado

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O PCP está mais forte no distrito de Aveiro e isso ficou claro ao longo dos trabalhos da assembleia, que teve lugar no auditório de uma antiga fábrica de cerâmica, hoje transformada em equipamento municipal. Muitos dos mais de 170 delegados presentes deram expressão a essa realidade nas intervenções que aí proferiram, relevando os avanços alcançados – e as debilidades que persistem – em muitos concelhos e sectores, tanto no que respeita ao reforço orgânico do Partido como no que se relaciona com a luta dos trabalhadores e das populações, duas realidades que (como a assembleia também evidenciou) estão intimamente relacionadas.

No que respeita estritamente ao primeiro destes aspectos, coube a Mafalda Guerreiro, dos organismos executivos da Direcção da Organização Regional de Aveiro e do Comité Central, fazer o balanço do caminho percorrido: mais de 60 recrutamentos só em 2013, a que se somam mais de 20 nos primeiros três meses deste ano; 22 assembleias de organização realizadas, em 15 concelhos, desde Outubro de 2010 (data em que se realizou a anterior assembleia da OR de Aveiro); mais organismos em funcionamento, sobretudo ao nível local, de empresas e sectores profissionais e de coordenação do trabalho autárquico, para além de outros, de carácter regional, para frentes de trabalho específicas.

Como é próprio dos comunistas (que sabem perfeitamente que os seus êxitos resultam do esforço e do trabalho colectivos), estes avanços não serviram para escamotear debilidades nem tão-pouco para negar uma verdade mais do que evidente: o que falta fazer é incomensuravelmente mais do que aquilo que já foi feito. A resolução política é, aliás, bastante clara na definição das linhas essenciais para o reforço da organização partidária e para a superação dos atrasos que persistem.

Uma delas prende-se, desde logo, com a necessidade de criar e fazer funcionar – até à 10.ª assembleia – mais 10 organizações de empresa e local de trabalho. Nos últimos anos, muitas células do Partido desapareceram fruto da vaga de encerramento de empresas e despedimentos ocorrida no distrito, e não só. Actualmente, existem as células da Renault-Cacia e da Moveaveiro e cinco organismos de empresas e sectores profissionais: corticeiros, professores e investigadores da Universidade de Aveiro, saúde/Hospital de Aveiro e dois de carácter concelhio, em São João da Madeira e Ovar. Alargar esta última experiência a outros concelhos é um dos objectivos principais.

 Luta a crescer

Os avanços registados ao nível do reforço desta organização do Partido tiveram reflexo na luta dos trabalhadores e das populações, que se intensificou nestes últimos anos. Adelino Silva, coordenador da União dos Sindicatos de Aveiro/CGTP-IN e membro da Direcção da Organização Regional de Aveiro do PCP (DORAV), lembrou as cinco greves gerais realizadas nos últimos quatro anos e as múltiplas acções nacionais convocadas pelo movimento sindical unitário, todas elas com uma significativa expressão no distrito. Vários outros delegados reforçaram esta intervenção, com exemplos concretos do vigor da luta dos trabalhadores que, na Moveaveiro ou nas autarquias, tem dado alguns resultados concretos.

Filipe Moreira, igualmente membro da DORAV, recordou as múltiplas acções promovidas pelas comissões de utentes de serviços públicos do distrito em defesa de centros de saúde e valências hospitalares, postos dos Correios e centros de emprego e contra as portagens. O militante de Santa Maria da Feira valorizou ainda a criação recente da comissão coordenadora das comissões de utentes do distrito, composta por 16 estruturas, garantindo que o PCP se continuará a bater pelo carácter informal e específico destes movimentos.

Albino Silva, José Costa, João Pedro Almeida e Renata Costa, por seu lado, valorizaram as lutas travadas pelos pequeno agricultores, pelos reformados e pensionistas, pelos pescadores e pelos jovens trabalhadores e estudantes, igualmente com forte expressão na região. 


Dar a volta à «desgraça»

O Grupo Parlamentar do PCP vai apresentar em breve um Plano de Emergência Social para o distrito de Aveiro, revelou Carlos Gonçalves, da Comissão Política, na abertura da assembleia. Deste plano, que visa minorar os efeitos da «situação calamitosa» que se vive na região, constarão algumas das propostas centrais definidas pela assembleia para o desenvolvimento do distrito.

No terceiro capítulo da resolução política, sobre «As propostas do PCP para o desenvolvimento do distrito», expõe-se precisamente os eixos centrais do modelo de desenvolvimento, inserido na proposta mais geral de uma política patriótica e de esquerda: a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a defesa do aparelho produtivo e dos serviços públicos, o investimento público em áreas fundamentais, o combate à pobreza e à exclusão social e um desenvolvimento ambientalmente sustentável ao serviço das populações.

Ou seja, como várias intervenções revelaram, o que o PCP propõe é, grosso modo, o oposto daquilo que tem sido feito nos últimos anos. De facto, longe vão os tempos do «oásis» (que nunca o foi verdadeiramente). Aveiro é, hoje, um distrito marcado por uma situação social «devastadora», como afirmou Joaquim Almeida, do Comité Central. O desemprego atinge 90 mil trabalhadores, mais 40 mil do que em 2010; quase 49 por cento da população activa ou está no desemprego ou tem um trabalho precário; o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção baixou; os salários são muito baixos e a remuneração mensal média das mulheres é 23 por cento inferior à dos homens.

Mas a miséria de muitos é a «fartura de alguns», afirmou o mesmo dirigente, referindo-se ao inevitável Américo Amorim, que é não apenas o homem mais rico de Portugal (para a revista Forbes), como viu a sua fortuna duplicar num ano, passando a estar avaliada em mais de 4500 milhões de euros. Apesar disto, a Corticeira Amorim continua a negar aumentos salariais aos seus trabalhadores. Outro sector a prosperar no meio desta desgraça é o que Joaquim Almeida denominou de «indústria da caridade», inserida já no chamado «sector social da economia». Para além dos lucros que aufere, esta «indústria» fez renascer o caciquismo e fomenta a dependência.

Na intervenção de abertura, a que já nos referimos, Carlos Gonçalves apelou a que todos os militantes comunistas conheçam os eixos essenciais da política alternativa, patriótica e de esquerda que o PCP propõe – a partir da qual será «possível abrir caminho para a defesa dos interesses do povo e do País». A sua concretização, garante o membro da Comissão Política, «é possível e virá o dia em que será mesmo inevitável». Tal depende somente da luta dos trabalhadores e do povo.


«Vamos eleger o Miguel» 

As eleições para o Parlamento Europeu mereceram uma atenção especial por parte dos participantes na assembleia do passado domingo, em Aveiro. Em primeiro lugar, pela importância que esta batalha eleitoral poderá ter na derrota do Governo e em abrir caminho à construção da alternativa. E, em segundo, pela proximidade da data: 25 de Maio.

Mas há outra razão para que esta campanha vá ser, como se espera, particularmente vivida pelos comunistas de Aveiro: Miguel Viegas, o terceiro candidato da lista da CDU, é dirigente regional do Partido e, ao longo dos anos, foi candidato – e eleito – a diversos órgãos autárquicos. «Vamos eleger o Miguel», foi um repto lançado por diversos oradores na assembleia.

Intervindo antes de Jerónimo de Sousa, o próprio Miguel Viegas referiu-se à importância das eleições do próximo dia 25 de Maio e à necessidade de se levar por diante uma campanha ligada aos problemas e anseios dos trabalhadores e das populações. As sondagens, alertou, «valem o que valem. Os nossos resultados saem-nos do pêlo». O candidato apelou, assim, à realização de uma campanha «à nossa maneira».

 



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