Crise humanitária na Grécia

Cortes custam vidas

Um relatório publicado na revista médica britânica The Lancet acusa o governo grego e a troika de estarem a provocar um recuo escandaloso nos níveis de saúde da população.

The Lancet denuncia recuos nos índices de saúde

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O estudo, publicado dia 21 de Fevereiro, afirma que quase um milhão de pessoas estão privadas de acesso aos cuidados de saúde e revela que em algumas regiões da Grécia já estão no terreno organizações humanitárias internacionais, como os Médicos do Mundo, para prestar cuidados médicos e fornecer medicamentos à população.

«O custo da austeridade está a ser pago sobretudo pelos cidadãos e cidadãs comuns da Grécia, que sofrem os efeitos dos maiores cortes efectuados no sector da saúde em toda a Europa, nas últimas décadas», salientou David Stuckler, da Universidade de Oxford, citado pelo jornal The Independent.

O peso da Saúde no orçamento do Estado foi reduzido para seis por cento, com os custos a serem transferidos para os utentes, através de taxas e redução das comparticipações.

Estas medidas restritivas não pouparam sequer as estruturas públicas de prevenção de doenças infecciosas. O resultado foi o ressurgimento de várias doenças que estavam praticamente extintas no país, como é o caso da malária que voltou a manifestar-se pela primeira vez em 40 anos.

Segundo um dos co-autores do relatório, Martin McKee, professor de Saúde Pública na London School of Hygiene & Tropical Medicine, «há toda uma série de doenças infecciosas que desapareceram nos últimos 50 ou 60 anos graças à melhoria da saúde pública». «Mas quando se levanta a guarda, como demonstra o exemplo da Grécia, elas podem regressar facilmente».

Os cortes orçamentais tiveram ainda como consequência o aumento dos casos de SIDA, que passaram de 15 novas infecções em 2008 para 484 em 2012. No final do primeiro ano da intervenção da troika, em 2011, registou-se um aumento de 21 por cento dos nados mortos, em relação aos índices de 2008. Por sua vez, a mortalidade infantil (óbitos até aos cinco anos) aumentou 43 por cento, verificando-se ainda uma acentuada subida da taxa de suicídios.

Alexander Kentikelenis, sociólogo da Universidade de Cambridge e também co-autor do relatório, conclui que «o Estado falhou» na protecção das pessoas mais carenciadas, precisamente «no momento em que mais precisavam».



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