Desastre grego a nu
Profissionais de saúde dos hospitais públicos gregos manifestaram-se, quinta-feira, em Atenas, contra os cortes no Serviço Nacional de Saúde (SNS). O executivo da Nova Democracia e do PASOK, pretende, entre outras medidas, despedir cerca de 30 mil clínicos. Três quartos seriam colocados a tempo parcial, os restantes ficariam em regime de «excedentários». Ambos passariam a receber 75 por cento do salário durante oito meses, período findo o qual ou seriam recolocados, ou dispensados, noticiou a Press TV.
A greve em defesa do SNS, que se prolonga até 7 de Fevereiro, ocorre quando se avolumam os escândalos de corrupção envolvendo quer o PASOK, quer a Nova Democracia, partidos que têm governado a Grécia desde 1974. Concessão duvidosa de créditos por parte de um banco participado pelo Estado, subornos na compra de armamento, evasão fiscal e uso indevido de fundos europeus estão a ser investigados pela Justiça, segundo informações de agências noticiosas.
Relativamente ao Hellenic Post Bank, suspeita-se de que pelo menos 400 milhões de euros tenham sido emprestados a empresas e empresários sem as necessárias garantias. Os montantes nunca foram devolvidos e uma das peças é a presidente do Fundo de Estabilidade Financeira grego, entidade chave no processo de «recapitalização da banca» que sorveu centenas de milhares de milhões de euros ao erário público. Quanto ao uso indevido de fundos europeus, na berlinda está um ex-ministro dos transportes, sobrinho de um ex-presidente da República e primo de um ex-primeiro-ministro, todos da Nova Democracia, acusado de desviar dinheiro para renovar um edifício familiar.
Já no que respeita à evasão fiscal, o rol de envolvidos inclui um ex-ministro das Finanças da Nova Democracia, acusado de tentar apagar o nome de três seus familiares da famosa «lista Lagarde» (que continha os nomes de mais de dois mil titulares de contas na Suíça), e o actual vice-primeiro-ministro, ministro das Finanças entre 2011 e 2012, e ministro da Defesa entre 2009 e 2011.
Evángelos Venizelos, do PASOK, é igualmente visado na investigação a contratos de compra de armamento a empresas alemãs, sobretudo, mas também russas e francesas, considerados ruinosos e fraudulentos para o Estado. A Justiça está a tentar montar a rede tecida, pelo menos desde 1996, entre altos quadros da Nova Democracia, do PASOK e de empresas germânicas na Grécia (não raramente os mesmos), e chefias militares. Partindo do testemunho do general Andonis Kandas, já condenado, procura-se apurar em que moldes se procedeu à adjudicação e compra de submarinos, sistemas de sonar e mísseis, por exemplo.
Enquanto vêm à tona alguns dos negócios que contribuíram para a ruína em que se encontra a Grécia, os indicadores sociais mostram quem está a pagar a rapina. Metade dos agregados familiares na Grécia dependem das pensões de reforma dos seus elementos mais idosos, revelou a Confederação de Profissionais, Artesãos e Comerciantes. O mesmo relatório revela que menos de 10 por cento do total dos desempregados recebe subsídio; que somente um terço das famílias pode contar com rendimentos salariais e que quase 35 por cento afirmam não ter condições de pagar impostos e contribuições sociais; 75 e 60 por cento dos agregados, respectivamente, reduziram, nos últimos meses, os gastos com transportes, aquecimento e comida.
A dívida à empresa pública de energia eléctrica ascende a 1,3 mil milhões de euros e a companhia estima que 600 milhões correspondam a contadores domésticos ou de pequenos negócios, e quase 200 milhões a empresas ou serviços públicos. Pelo menos 350 mil casas ficaram sem electricidade em 2013.
Tudo somado, a dívida pública grega situou-se no final do terceiro trimestre de 2013 em 171,8 por cento do PIB, o dobro da média europeia e mais 40 por cento do que antes do início dos chamados programas de resgate, calculou o Eurostat.