O capitalismo em crise responde com uma violenta ofensiva

Revolução de Abril

Pedro Guerreiro

Em 2014 assinalam-se os 40 anos da Revolução portuguesa, realização histórica dos trabalhadores, do povo e dos militares progressistas – unidos na aliança Povo-MFA –, que transformou profundamente a realidade em Portugal e teve importantes repercussões internacionais.

Culminando quase 50 anos de heróica resistência e luta anti-fascista, a Revolução portuguesa liquidou o fascismo, acabou com a guerra colonial e reconheceu aos povos em luta o direito à independência, realizou profundas transformações democráticas – através das quais foram alcançadas amplas conquistas políticas, económicas, sociais e culturais, alicerçadas na plena afirmação da soberania e independência nacionais –, abrindo caminho para uma sociedade socialista.

Com plena consciência de que a luta do povo português contra a ditadura fascista e a luta dos povos contra o colonialismo português eram, afinal, uma luta comum, a Revolução de Abril, ao libertar o povo português, constituiu um importante contributo para luta de libertação nacional e a conquista da independência pelos povos africanos, o que representou uma decisiva alteração da correlação de forças na África Austral, que isolou ainda mais o regime de apartheid sul-africano e levaria à criação das condições que imporiam a sua derrota final.

 

A Revolução de Abril, inserindo-se num contexto internacional onde a correlação de forças era favorável ao campo da paz, do progresso e do socialismo, pôs fim ao isolamento internacional de Portugal, estabeleceu amplas relações diplomáticas e uma política externa de paz, de cooperação e de amizade com todos os povos do mundo, e teve um profundo carácter internacionalista e solidário.

Não só a Revolução de Abril (como a luta anti-fascista que a antecedeu) recebeu uma activa solidariedade – com especial realce da URSS e dos países socialistas –, como foi solidária com o povo chileno, vietnamita, espanhol, palestiniano, angolano, sul-africano, nicaraguense, entre tantos outros, nas suas lutas em defesa da soberania e independência, pelo direito à auto-determinação, pela liberdade, pela conquista e avanço de processos de transformação progressista e revolucionária.

Passados 40 anos a situação em Portugal e no mundo transformou-se profundamente. Depois de 37 anos de processo contra-revolucionário, muitas das principais conquistas da Revolução portuguesa foram destruídas. Outras embora enfraquecidas e ameaçadas continuam presentes. Com as derrotas da URSS e do campo socialista, a correlação de forças é actualmente e no plano internacional desfavorável às forças da paz, do progresso e do socialismo. O capitalismo em crise responde com uma violenta ofensiva que visa fazer retroceder direitos e conquistas históricas alcançadas pelos trabalhadores e os povos e impor a ordem imperialista, hegemonizado pelos EUA.

 

No entanto, a realidade aí está a evidenciar a actualidade da Revolução de Abril, dos seus valores e ideais, das suas profundas transformações, da sua originalidade, demonstrando que por mais invencível que pareça o poder explorador e opressor, um povo determinado a lutar, mais tarde ou cedo, alcançará o rumo para a vitória.

Os grandes valores da Revolução de Abril criaram profundas raízes no povo português. É partindo da realidade em que se insere, da sua longa história e experiência de luta, mas virado para o presente e o futuro, que o PCP, reforçando a sua ligação aos trabalhadores e povo português, luta pela ruptura com a política de direita e por uma política patriótica e de esquerda, por uma democracia avançada que, afirmando os valores de Abril no futuro de Portugal, aponte o caminho do socialismo. Luta que insere na causa da emancipação dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo.



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