Milhões no sapatinho
Não, este texto não é sobre o euromilhões nem sobre a lotaria do Natal. É sobre a sorte grande que esta semana saiu aos grandes grupos económicos e financeiros.
PSD, PS e CDS voltaram a honrar a assinatura que puseram há dois anos e meio no pacto de agressão. Os leitores do Avante! poderão, justamente, perguntar qual é a novidade desta afirmação. Mas o que se passou esta semana com a chamada reforma do IRC merece ser lembrado para a posteridade.
PSD, PS e CDS, o tripé nacional do pacto de agressão, decidiram quinta-feira no Parlamento baixar os impostos às grandes empresas, de 25 para 23%. Decidiram igualmente aumentar o período para reportar prejuízos de 5 para 12 anos, permitindo aos grandes grupos económicos e financeiros fazer ainda melhor aquilo a que chamam «gestão fiscal agressiva» – mas que em bom português é capaz de se chamar fuga aos impostos.
Que PSD e CDS o façam, já estamos habituados. Tirar a quem trabalha para entregar a quem explora é a filosofia subjacente a toda a prática deste Governo. Que o PS está enterrado até às orelhas no acordo das troikas, também estamos infelizmente fartinhos de saber. O que decidiram agora, pelos vistos, foi deixar de disfarçar.
Baixar impostos desta forma aos grandes grupos económicos e financeiros, ao mesmo tempo que afogam os trabalhadores, os reformados, os pensionistas, as famílias e as pequenas empresas em impostos, taxas e sobretaxas é um escândalo. Que o façam enchendo a boca de declarações grandiloquentes sobre o «grande dia» ou a «prenda de Natal» para os pequenos empresários, como fez Seguro, é pura encenação. Cortar salários, reformas, subsídios de desemprego, pensões de viuvez e abonos de família em nome da dívida e do défice e decidir deixar de arrecadar milhões de IRC, é roubo.
O PS deixou cair a máscara, como denunciou oportunamente o PCP. O seu compromisso inquebrável com o grande capital, a troika estrangeira e a troika nacional fica bem claro, à vista de todos, escancarado.
A necessidade de rejeitar o pacto, demitir o Governo, dissolver o Parlamento, antecipar as eleições e votar numa política e num governo patrióticos e de esquerda fica mais uma vez reafirmada.