Paquistão nega colaboração
Antigos responsáveis governamentais paquistaneses negam ter autorizado e muito menos colaborado com os EUA nos bombardeamentos com aviões não-tripulados no país. O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Islamabad também desmentiu as informações avançadas pelo Washington Post, na quarta-feira, 23, com base em alegados documentos confidenciais.
Segundo o Post, as autoridades do Paquistão eram notificadas por Washington sobre os ataques com drones, e, inclusive, terão mesmo ajudado a CIA a precisar alvos nas regiões tribais fronteiras com o Afeganistão, auxílio que, acrescenta o periódico, se manteve até ao final de 2011, quando um ataque aéreo da Nato, cujos contornos ainda não estão totalmente esclarecidos, matou 24 soldados paquistaneses.
O jornal norte-americano detalha que o total de operações de responsabilidade mútua ascende a mais de meia centena e que o tema se tornou corrente na troca de informações entre os dois países.
O líder do gabinete executivo do Paquistão entre 2008 e o primeiro semestre deste ano, Yousuf Raza Gilani – referido pelo Washington Post como um dos altos responsáveis que condenavam os EUA em público, mas em privado os autorizavam a bombardear – veio a terreiro afirmar que «desde o princípio que estivemos contra os ataques aéreos e comunicámo-lo aos norte-americanos em todos os fóruns».
No mesmo sentido, o actual gabinete das relações externas paquistanês qualificou a notícia de fantasiosa e acusou o jornal de avançar uma história que carece de fundamento, cujo único objectivo, acrescenta, é ajudar a administração Barack Obama a sustentar a sua posição sobre operações consideradas ilegais à luz do direito internacional.
Antes, porém, o porta-voz das relações externas do Paquistão não foi tão enfático e preferiu sublinhar que, «independentemente de qualquer acordo que se alcançou no passado, o actual executivo foi muito claro na sua política sobre o assunto».
O primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, encontrou-se com o presidente dos EUA justamente no dia em que o diário norte-americano difundiu as referidas informações. Na Casa Branca, terá pedido a Obama o fim dos bombardeamentos que violam a soberania do país asiático e que, de acordo com os dados divulgados nos últimos dias pela Oficina do Jornalismo de Investigação, já terão matado cerca de 3600 pessoas, a maioria das quais civis. Obama, por seu lado, classificou a situação como «um desafio» nas relações bilaterais , mas realçou o comprometimento mútuo em assegurar que os drones sejam «uma fonte de força» em vez de «uma fonte de tensão».
Antes, a propósito da apresentação nas Nações Unidas de um relatório sobre as vítimas provocadas pelos bombardeamentos criminosos dos EUA no Paquistão, um porta-voz da Casa Branca defendeu os ataques com aviões não-tripulados como «legais, precisos e efectivos», confirmando, assim, a sua continuidade no quadro das operações militares do imperialismo norte-americano na região da Ásia Central e no Corno de África.