A lógica da floresta

João Frazão

Aprendi na escola que, no mercado, os preços se formam por acção de uma lei, a da oferta e da procura, que diz, muito basicamente, que quanto maior a procura e menor a oferta, maior será o preço (e vice-versa) e que essa lei acabaria sempre por equilibrar uma e outra, numa espécie de harmonia natural.

Para além da evidência que apesar de o povo português ter cada vez menos poder de compra e de isso se reflectir numa brutal redução do consumo, os preços continuam a aumentar, que nos faz descrer na dita teoria económica ou, pelo menos, questionar se não haverá aqui outra mãozinha qualquer a fazer a marcação dos preços, os incêndios florestais fizeram-me também pensar nela.

É que, também neste sector, a lei da oferta e da procura tem esbarrado com a dura realidade, sendo diariamente questionada. Sucede que os maiores compradores de madeira em Portugal, as empresas de celulose, têm-se queixado que não há madeira (de eucalipto, entenda-se) que chegue para as necessidades, pelo que até têm exigido a completa liberalização do plantio do eucalipto, objectivo a que o Governo PSD/CDS, ao seu serviço, já acedeu, em legislação que o nosso Partido já chamou à apreciação parlamentar.

Ora, ouvindo isto, um qualquer crédulo na teoria económica, acharia que agora os produtores de madeira veriam o seu património ser valorizado e, com essa expectativa, poderiam tratar das suas matas, limpando, desbastando, e vendendo a tempo para, com o dinheiro recebido, voltarem a investir na floresta, com o apoio do Estado Português no sempre almejado ordenamento florestal.

Nada disso acontece. As empresas de celulose, apenas três que dominam todo o mercado, continuam a impor preços de madeira que em muitos casos não dão para a despesa, preferindo fazer importações de milhões de toneladas de eucalipto, a pagar o justo valor, deixando por esse país fora combustível em estado puro e levando a que os proprietários, na sua maioria pequenos e médios, não tenham dinheiro para os trabalhos que, feitos em tempo certo, seriam parte importante da prevenção de que tanto se fala.

Na verdade, este verdadeiro monopólio de três cabeças, também tem economistas que conhecem a lei da oferta e da procura. Mas apenas para, pelo exercício desse monopólio, e com o apoio do Governo, a contornarem, para aumentarem os seus lucros a níveis escandalosos, nem que tenham que ser cozinhados nas brasas de um país a arder.




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