Condenado, Berlusconi esbraceja
Ao fim de 25 anos de investigações, milhares de audiências, condenações, recursos e prescrições sobre casos de fraude fiscal e corrupção, entre outros, Sílvio Berlusconi foi finalmente condenado, dia 1, no caso Mediaset, o seu império mediático.
O Tribunal Supremo confirmou sentenças anteriores declarando-o culpado pela criação de falsas empresas, através das quais adquiriu séries de televisão por montantes artificialmente elevados, a fim de se constituir um fundo oculto estimado em sete milhões de euros.
Embora amena, a sentença é definitiva. Graças a uma amnistia Berlusconi viu reduzida a pena de quatro anos de prisão para apenas um ano. E devido à sua idade de 76 anos, poderá cumpri-la em prisão domiciliária ou mediante a prestação de trabalho comunitário. Il cavaliere já recusou esta última hipótese.
Derrotado, Berlusconi não se deu por vencido. Numa mensagem televisiva em pose de chefe de Estado, começou por atacar os juízes, acusando-os de o perseguirem desde que entrou na vida política, para manter «os comunistas» no poder. Depois pressionou o governo de Enriço Letta, reclamando uma reforma da justiça, sob pena de retirar o apoio parlamentar do seu Partido Povo da Liberdade (PdL).
Na sexta-feira, 2, dia em que os parlamentares do PdL apresentaram em bloco a sua demissão exigindo ao Presidente da República, Giorgio Napolitano, o indulto do seu líder, um dos principais dirigentes do partido, Sandro Bondi, elevou o tom das ameaças para além do admissível. Disse: «Ou a política encontra soluções (…) para permitir a actividade política do líder do maior partido italiano, ou o país corre o risco de uma forma de guerra civil com saídas imprevisíveis para todos».
Porém, consciente da estreiteza da sua margem de manobra, Berlusconi não tardou a recuar. No domingo, perante algumas centenas de adeptos concentrados frente à sua residência em Roma, o magnata italiano aliviou a pressão, declarando que «o governo deve continuar e aprovar as medidas económicas que defendemos».
Na segunda-feira, 6, foi a vez de os porta-vozes do PdL no Senado e na Câmara dos Deputados, recebidos por Napolitano, baixarem a fasquia das suas exigências. Descartada a possibilidade de um indulto, já que o Chefe do Estado não o pode conceder a indivíduos com outras condenações ou processos em curso, os parlamentares do PdL procuram agora uma solução que permita a Berlusconi manter alguma actividade política.
No entanto, o leque de opções é cada vez mais apertado, já que dentro entre os aliados do Partido Democrático (PD) há vozes que criticam a manutenção de uma coligação com um homem condenado por fraude fiscal. «Não é possível imaginar que o PD possa continuar aliado ao Partido de Sílvio Berlusconi», declarou Nichi Vendola, líder da Esquerda, Ecologia e Liberdade, a principal força parlamentar à esquerda do PD e um dos seus aliados nas eleições de 24 de Fevereiro.